Matança de cães em Castilho interior de São Paulo gera polêmica no munícipio

Welyson Lima Por Welyson Lima
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Tem causado controvérsia o abatimento de cães diagnosticados com leishmaniose na cidade de Castilho, localizada no interior de São Paulo. Acontece que um veículo oficial da prefeitura de Castilho anuncia que os cães portadores da doença precisam ser entregues ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Isso vem ocorrendo desde 2022. A cidade de Castilho possui 18 mil habitantes, situa-se na divisa de SP com MS, e fica exatamente a 644 km de São Paulo. Na cidade, os cães são presos, passam por teste e consequentemente são enviados direto para a morte. Um morador da cidade, Diego, de 21 anos, assim relatou: “Fizeram exame no meu cachorro e me obrigaram a entregá-lo. Falaram que se alguém da rua ficasse doente a responsabilidade seria minha. Fiquei com medo e deixei levar o bichinho”, relata. A prática é comum no município.


Vereador da cidade de Castilho, Adilson Santos (Reprodução: BBC)


Um dos motivos para a prática é o uso da eutanásia, segundo apontam moradores da cidade. Esse é carro-chefe no enfrentamento à leishmaniose, usado pela prefeitura de Castilho. Em 2022, foi aberto um Inquérito Canino para saber quantos animais estariam contaminados. No mês de março, a prefeitura declarou que, ao menos, 50% dos quatro mil cães do município estão contaminados. Assim, a administração da cidade tenta fazer o recolhimento dos dois mil cachorros a fim de levá-los à CCZ, para a prática de eutanásia, porém nem todos os donos dos animais permitem. 

“O maior problema é que esse animal continua sendo um risco não apenas para os outros animais da casa, mas principalmente para quem mora na residência e para os vizinhos, pois o mosquito pica um cão contaminado e sai voando, podendo depois picar toda a vizinhança”, afirmou o secretário de Saúde, Demilson Cordeiro da Silva, em publicação oficial. Já o vereador Adilson Santos assim escreveu: “Prefeitura de Castilho fazendo campanha pesada para sacrificar nossos pets. Basta! Ser ignorante pode ser uma opção individual. Ser desatualizado e desumano, já é falta de inteligência e de amo”, disse.

No entanto, Fábio Santos Nogueira, conhecido como doutor Leishmaniose e considerado uma das maiores autoridades do país, revelou ao site BBC Brasil que a doença tem tratamento. Segundo ele, “existem vários fármacos leishmanicidas para o tratamento da leishmaniose visceral, seja nas pessoas ou nos animais, sendo os mais utilizados os antimoniatos, anfotericina B e a miltefosina”. Ainda segundo ele, quando o cachorro está em tratamento, deixa de transmitir a doença. “Com o tratamento, podemos obter a melhora clínica, redução da carga parasitária, controle da resposta imunológica e consequentemente o bloqueio da transmissão”, afirma.

O veterinário se envolveu em polêmica com a prefeitura de Castilho, por afirmar que a prática de eutanásia é “página que já foi virada da nossa história” e por dizer que ela se mostrou “ineficaz e custosa”. Ele ainda comparou a prática pelo município de matança dos cães ao nazismo. A fala do veterinário foi festa numa postagem em uma de suas redes sociais. No entanto, a postagem já não está mais disponível. Ele explicou que apagou o post por pedido do próprio prefeito de Castilho, Paulo Duarte Boaventura (MDB), que passou a receber ameaças.

Ainda que a prática de eutanásia seja autorizada por portaria, ela não é a única opção para casos de leishmaniose. O tratamento é o melhor caminho, conforme preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde o ano de 2019 existe medicamento para tratamento da doença, autorizado pelo Ministério da Saúde. O remédio é chamado de milteforan, é considerado eficaz, tendo alcance de 70% para cães doentes. No entanto, médicos veterinários dizem que o alcance é de mais de 90%, o que ocasiona uma melhora significa nos cães. O animal passa a não ter carga suficiente a fim de o parasita transmitir a doença a humanos.

 

Foto Destaque: Cão com lesão na pele, um dos sintomas da leshmaniose. Reprodução/BBC

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