Nesta quinta-feira (5), o mercado paralelo de câmbio da Argentina foi essencialmente paralisado após uma operação do governo com a Receita Federal e a Polícia Federal para combater um esquema de evasão de divisas que pode contabilizar uma soma de US$ 400 milhões desviados.
Um total de 51 mandatos de busca e apreensão foram acionados no centro de Buenos Aires e nas cidades de Rosário, Córdoba e Bahía Blanca. Tal operação se deu porque no dia anterior a cotação do dólar blue bateu um novo recorde: equivaleu a 843 pesos.
Foram os principais alvos da operação as chamadas ‘cuevas’ – postos informais de câmbio de moedas, paralisando os “operadores” desde as primeiras horas da manhã desta sexta-feira (6).
“Não estamos operando,” disse um dos afetados ao jornal argentino La Nación.
Casa de câmbio na argentina. (Foto:Reprodução/Bloomberg)
Alvos dos mandatos
Um total de 18 bancos, 8 escritórios de contabilidade, e mais 25 sociedades da área financeira foram alvos dos mandatos, e estão sendo acusados da evasão de US$ 400 milhões por meio de importações supostamente clandestinas e fraudulentas.
Segundo o diretor da Direção Geral de Alfândegas (DGA), Guillermo Michel, podem ainda haver outros envolvidos. Conforme seu relato, 157 empresas denunciadas pelas autoridades “simularam operações de importação, nunca importaram nada e enviaram para o exterior cerca de US$ 400 milhões” em transações só de 2020 à 2022.
Esse tipo de operação nas ‘cuevas’ já se tornou periódico na Argentina, uma vez que outra de mesma proporção também ocorreu em agosto desse ano. Grande parte da fraude ocorre quando os operadores informais utilizam uma cotação paralela que troca o dólar por número muito maior de pesos do que a oficial, atraindo os turistas para esse câmbio e desvalorizando ainda mais a moeda argentina.
O comércio na Argentina atualmente requer até cedulas de 2000 pesos, recentemente emitidas para lidar com a crise. (Foto:Reprodução/Luis Robayo/AFP)
Crise econômica
Porém, não pode ser atribuído todo o valor atual da moeda argentina a esse esquema de evasão.
Em grande parte, a desvalorização do peso argentino – a ponto de 843 serem necessários para equivaler um dólar americano – também parte da grande crise econômica que a Argentina vem enfrentando, com a inflação crescente que recentemente chegou ao nível mais alto em 30 anos.
De acordo com especialistas, são grandes culpadas a falta de previsibilidade do mercado e a insegurança econômica e jurídica, o que faz com que o governo busque restringir o câmbio em uma tentativa de estabilizar o país, mesmo ao preço de desacelerar a economia argentina. Outras possíveis medidas ainda em consideração são a dolarização, ou a vinculação do peso argentino ao real brasileiro.
Foto Destaque: Rua Calle Florida, em Buenos Aires, concentra grande parte das casas de câmbio do mercado paralelo na cidade. Reprodução/Wikimedia Commons