Uma mulher que estava como passageira de um motorista de aplicativo disse ter sido dopada durante uma corrida em São Paulo, nesta quarta-feira (11). Em entrevista ao G1, ela disse que sentiu um cheiro forte de produto químico no carro e logo em seguida começou a sentir zonza e com a visão conturbada. Nos últimos meses, outras mulheres deram, nas redes sociais, relatos semelhantes, surgindo casos parecidos que estão em investigação no Rio de Janeiro e em Porto Alegre.
Segundo a farmacêutica toxicologista Paula Carpes, as vias respiratórias transportam substâncias químicas de maneira muito rápida para a corrente sanguínea. A inalação de solventes como éter, clorofórmio ou metanol poderiam provocar entorpecimento e desmaio em poucos segundos, dependendo da concentração do produto.
“O solvente se espalha muito rápido, ainda mais em ambiente pequeno como o carro. Borrifar direto na vítima, como se fosse um aromatizador, ou mesmo no sistema de ar condicionado, poderia ter esse efeito. Éter e clorofórmio são muito potentes, são depressores do sistema nervoso central”, explica a farmacêutica.
“Até então, o clássico golpe desse tipo de deixar a vítima entorpecida era o ‘boa noite, Cinderela’, que era colocado dissolvido em bebida. Essa droga também pode fazer o efeito se for borrifada, mas não tem a característica do cheiro forte como os solventes”, diz.
Passageira foi vítima de dopagem ao sair do trabalho
Uma fotógrafa de 32 anos, que preferiu não se identificar, segundo ela, por segurança, relatou nas redes sociais nesta quarta-feira (11) que foi dopada por um motorista de aplicativo com um produto químico em ação dentro do carro, durante corrida na noite desta terça-feira (10). Em nota, a 99 (empresa de transporte individual) afirmou que bloqueou o motorista e mobilizou uma equipe para dar suporte à passageira.
Ela contou que saia do trabalho por volta das 20h30, na Vila Mariana, Zona Sul, quando pediu o carro da 99 para encontrar amigas em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo.
“Ele andou mais ou menos 2 km, quando chegou perto da Rua Domingo de Morais. Quando parou no farol, ele olhou para trás e fechou o vidro dele. Eu comecei a sentir o cheiro forte, cada vez mais forte. Mas tudo aconteceu muito rápido. Aí eu comecei a ficar tonta”, relata a fotógrafa.
Passageira expõe relato de dopagem que sofreu em São Paulo no instagram. Ela diz que tirou uma foto do veículo. (Foto: Reprodução/Instagram)
Ela diz ainda que o motorista não fechou o vidro e que ela chegou a colocar a cabeça para fora da janela, mas foi ficando cada vez mais zonza.
“Eu saí e fiquei com medo de fazer alguma coisa porque estava ficando mais tonta. Se eu demorasse mais um pouco acho que não conseguiria nem mandar mensagem”, reconhece.
A fotógrafa diz que agiu rápido pedindo para descer do veículo porque o mesmo já havia acontecido com uma amiga havia cerca de dez dias atrás. Há também relatos similares nas redes sociais de mulheres de diferentes estados.
Pronunciamento da 99
“A 99 lamenta profundamente o ocorrido com a passageira. Assim que tomamos conhecimento, bloqueamos o motorista e mobilizamos uma equipe que está em contato com ela para acolhimento e suporte necessários.
Ressaltamos que a empresa não tolera e repudia qualquer forma de assédio. Investimos constantemente em ferramentas de segurança para a prevenção, proteção e acolhimento de todos os usuários, principalmente para as passageiras. Entre as medidas estão a opção de compartilhar rota com contatos de confiança, monitoramento da corrida, gravação de áudio e botão para ligação direta para a polícia.
Passageiras que tenham experienciado essa situação devem reportar imediatamente para a empresa, por meio de seu app, ou no telefone 0800-888-8999 para que as medidas cabíveis sejam tomadas. Trabalhamos 24 horas por dia, 7 dias por semana, para cuidar da proteção e suporte dos usuários”, disse a empresa em nota.
Caso exposto no Twitter
Luiza usou sua conta no Twitter para relatar que passou por uma tentativa de dopagem, mas conseguiu escapar e ser acolhida por uma comunidade em um lugar remoto onde estava. Ela também se refere a relatos anteriores e que a sua história seria só mais uma, mas achava importante dizer o que aconteceu.
Ainda no Twitter, ela também conta que o motorista tinha boa avaliação no aplicativo, mas não se lembra de quantas corridas ele tinha. Os vidros dele estavam abertos mas os de trás fechados, mas como eram manuais, ela conseguiu abrir sem problemas. Segundo ela, os sintomas sentidos são os mesmos de outras vítimas: visão turva, pressão na cabeça e falta de ar.
Foto em destaque: Casos de dopagem contra mulheres durante corrida em carros de aplicativo é disseminado em vários estados. Reprodução: Felipe Menezes/Metrópoles.