Nesta quinta-feira (28), o Jerusalem Post divulgou que Tal Mitnick, um israelense de 18 anos, foi julgado e condenado a um mês de prisão militar porque o jovem se recusou a se alistar e integrar nas Forças Armadas de Israel. Trata-se da primeira pessoa presa por “objeção de consciência” no país desde que o conflito com o grupo palestino armado, Hamas, que iniciou no começo do outubro.
Objeção de consciência
“Eu me recuso a acreditar que mais violência trará segurança, eu me recuso a participar de uma guerra de vingança. Cresci em um lar onde a vida é sagrada, onde a discussão é valorizada e onde o discurso e a compreensão sempre vêm antes da adoção de medidas violentas,” afirmou Tal Mitnick, citando em grande parte a histórica ocupação israelense da Faixa de Gaza e a guerra como justificativa para a recusa. “No mundo cheio de interesses corruptos em que vivemos, a violência e a guerra são outra forma de aumentar o apoio ao governo e silenciar as críticas.”
Tal Mitnick se apresentou ao centro de alistamento com outros adolescentes integrantes da Rede Mesarvot, um grupo ativista de objetores de consciência – os que se recusam a portar armas e/ou servir por motivos morais, éticos ou religiosos. Pela objeção, o jovem recebeu uma sentença de 30 dias, considerada excepcionalmente longa, e com possibilidade de extensão caso continue recusando o alistamento.
Tal Mitnick disse que a impossibilidade de negociação com Hamas era “simplesmente falsa” e insistiu na diplomacia. (Foto: reprodução/Jerusalem Post/O Globo)
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), desde a Resolução 1995/83, pessoas servindo no exército militar “não devem ser excluídas do direito de ter objeções conscientes do serviço militar“. No entanto, muitos países ainda possuem o alistamento forçado sem possibilidade legislativa de objeção de consciência. Em Israel, Tal Mitnick demonstra que recusar a servir é um ato criminal.
Além disso, em declaração divulgada por outros representantes, o adolescente apresentou dois pontos: primeiro, argumentou pela melhor resolução através da diplomacia, como foi demonstrada durante a troca de reféns entre Israel e Hamas durante o cessar-fogo; e segundo, citou o fato de que reféns israelenses foram mortos pelos que acharam que os iam resgatar: as Forças de Defesa de Israel (IDF).
“Devemos reconhecer o fato de que, após semanas de operação terrestre em Gaza, no fim das contas, negociações, um acordo, trouxeram de volta os reféns. Na verdade, foi a ação militar que causou a morte deles. Por causa da mentira criminosa de que ‘não há civis inocentes em Gaza’, até mesmo os reféns que agitavam uma bandeira branca e gritavam em hebraico foram mortos a tiros. Não quero nem imaginar quantos casos semelhantes houve que não foram investigados porque as vítimas nasceram no lado errado da cerca,” disse Tal Mitnick.
Tweet de Tal Mitnick contra a guerra. (Foto: reprodução/X/@TalMitnick)
Outros casos de objeção
Junto com Tal Mitnick, vários israelenses já afirmaram que se recusariam a ser convocados. Antes da guerra aberta, eram mais de 200 estudantes em idade de alistamento que anunciaram em agosto a objeção – em grande parte pela ocupação imoral dos territórios palestinos, e pelas políticas radicais do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que hoje é criticado por suas medidas bélicas, como na situação de reféns.
Historicamente, o caso mais famoso de objeção de consciência é o de Muhammad Ali, boxeador americano e campeão mundial que se recusou a servir na Guerra do Vietnã e ficou preso por cinco anos por causa de seu posicionamento.
Foto Destaque: Tal Mitnick chegou a chamar a guerra atual de “guerra de vingança.” (Reprodução/Ostafa Alkharouf/Anadolu/The Times)