Primeiro israelense é preso por recusar o serviço militar na guerra

Alexandre Kenzo Por Alexandre Kenzo
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Nesta quinta-feira (28), o Jerusalem Post divulgou que Tal Mitnick, um israelense de 18 anos, foi julgado e condenado a um mês de prisão militar porque o jovem se recusou a se alistar e integrar nas Forças Armadas de Israel. Trata-se da primeira pessoa presa por “objeção de consciência” no país desde que o conflito com o grupo palestino armado, Hamas, que iniciou no começo do outubro.

Objeção de consciência

Eu me recuso a acreditar que mais violência trará segurança, eu me recuso a participar de uma guerra de vingança. Cresci em um lar onde a vida é sagrada, onde a discussão é valorizada e onde o discurso e a compreensão sempre vêm antes da adoção de medidas violentas,” afirmou Tal Mitnick, citando em grande parte a histórica ocupação israelense da Faixa de Gaza e a guerra como justificativa para a recusa. “No mundo cheio de interesses corruptos em que vivemos, a violência e a guerra são outra forma de aumentar o apoio ao governo e silenciar as críticas.”

Tal Mitnick se apresentou ao centro de alistamento com outros adolescentes integrantes da Rede Mesarvot, um grupo ativista de objetores de consciência – os que se recusam a portar armas e/ou servir por motivos morais, éticos ou religiosos. Pela objeção, o jovem recebeu uma sentença de 30 dias, considerada excepcionalmente longa, e com possibilidade de extensão caso continue recusando o alistamento.


Tal Mitnick disse que a impossibilidade de negociação com Hamas era "simplesmente falsa" e insistiu na diplomacia.

Tal Mitnick disse que a impossibilidade de negociação com Hamas era “simplesmente falsa” e insistiu na diplomacia. (Foto: reprodução/Jerusalem Post/O Globo)


De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), desde a Resolução 1995/83, pessoas servindo no exército militar “não devem ser excluídas do direito de ter objeções conscientes do serviço militar“. No entanto, muitos países ainda possuem o alistamento forçado sem possibilidade legislativa de objeção de consciência. Em Israel, Tal Mitnick demonstra que recusar a servir é um ato criminal.

Além disso, em declaração divulgada por outros representantes, o adolescente apresentou dois pontos: primeiro, argumentou pela melhor resolução através da diplomacia, como foi demonstrada durante a troca de reféns entre Israel e Hamas durante o cessar-fogo; e segundo, citou o fato de que reféns israelenses foram mortos pelos que acharam que os iam resgatar: as Forças de Defesa de Israel (IDF).

Devemos reconhecer o fato de que, após semanas de operação terrestre em Gaza, no fim das contas, negociações, um acordo, trouxeram de volta os reféns. Na verdade, foi a ação militar que causou a morte deles. Por causa da mentira criminosa de que ‘não há civis inocentes em Gaza’, até mesmo os reféns que agitavam uma bandeira branca e gritavam em hebraico foram mortos a tiros. Não quero nem imaginar quantos casos semelhantes houve que não foram investigados porque as vítimas nasceram no lado errado da cerca,” disse Tal Mitnick.


Tweet de Tal Mitnick.

Tweet de Tal Mitnick contra a guerra. (Foto: reprodução/X/@TalMitnick)


Outros casos de objeção

Junto com Tal Mitnick, vários israelenses já afirmaram que se recusariam a ser convocados. Antes da guerra aberta, eram mais de 200 estudantes em idade de alistamento que anunciaram em agosto a objeção – em grande parte pela ocupação imoral dos territórios palestinos, e pelas políticas radicais do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que hoje é criticado por suas medidas bélicas, como na situação de reféns.

Historicamente, o caso mais famoso de objeção de consciência é o de Muhammad Ali, boxeador americano e campeão mundial que se recusou a servir na Guerra do Vietnã e ficou preso por cinco anos por causa de seu posicionamento.

 

Foto Destaque: Tal Mitnick chegou a chamar a guerra atual de “guerra de vingança.” (Reprodução/Ostafa Alkharouf/Anadolu/The Times)

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