O gigantesco navio Bibby Stockholm, mais parecido com um bloco de apartamentos flutuante, localizado no porto da ilha de Portland, na costa sul da Inglaterra, teve o primeiro grupo de imigrantes a bordo.
De acordo com a BBC, cerca de cinquenta estrangeiros vão ser levados até a embarcação, nesta primeira leva, enquanto esperam a resposta do pedido de asilo no país.
O governo britânico contratou o navio para ser usado como uma espécie de acomodação, ou “prisão flutuante”, para imigrantes irregulares, e acabou revoltando os internautas por conta da estrutura da embarcação.
Interior do Bibby Stockholm gera discussões na web
Uma jornalista da BBC, que esteve no local para visitar, disse que o lugar parece ser muito apertado. “A primeira impressão é que é um lugar austero que parecerá muito apertado se estiver em plena capacidade”.
Alguns internautas criticam a ‘prisão flutuante’ em suas redes sociais: “o fato disso não ter gerado uma grande revolta internacional só mostra que quase ninguém se importa de verdade com ‘direitos humanos’”, destaca um usuário da web.
Em tom de ironia, um outro internauta publicou: “Democracia e tal, tudo certo”.
No entanto, o governo de Rishi Sunak ignorou as críticas ao navio e às organizações humanitárias e se prepara para alojar os primeiros ‘prisioneiros’ nele.
O Bibby Stockholm foi anunciado no site da Bibby Marine, que é responsável pela embarcação, como “vivendo com luxo a bordo”. A companhia afirma que o navio possui “ventilação natural e conexão wi-fi por toda parte”. E, além disso, bar, restaurante, academia e sala de jogos também estão presentes nesta ‘prisão flutuante’.
Mais de 50 organizações humanitárias, como a Asylum Matters and Refugee Action e a Refugee Council, publicaram uma carta aberta à Bibby Marine questionando as condições que os imigrantes serão colocados dentro do navio. “Os que ficarão contidos na embarcação não são criminosos; eles estão buscando proteção no Reino Unido”, diz a carta.
As organizações afirmaram que o navio não será utilizado como prisão. Mas, segundo informações do porto de Portland, “as pessoas serão mantidas em condições de detenção com severas restrições à liberdade de movimento”.
Interior da ‘prisão flutuante’. (Foto: reprodução/Twitter/@ewither)
Segundo o porto de Portland, “os requerentes de asilo não terão liberdade para circular pelo porto. Quando estiverem no porto, eles serão mantidos no Bibby Stockholm ou em um complexo seguro adjacente à barcaça”.
Os imigrantes a bordo terão apenas 9,10 libras esterlinas para gastarem por dia, o que é equivalente a R$55 reais. As organizações dizem que “haverá muito pouco que eles possam fazer e poucos lugares onde possam ir, mesmo quando puderem sair do porto”.
Na carta aberta publicada, as organizações citam evidências de relação da empresa com o comércio transatlântico de escravização de pessoas, e exigem uma resposta pública da empresa sobre as condições análogas à escravidão que os imigrantes serão submetidos.
“Acreditamos ainda que a suposta associação histórica de sua empresa com o tráfico de pessoas escravizadas torna ainda mais importante que você reflita profundamente se um contrato que leve à detenção efetiva de pessoas que fogem da guerra e da perseguição é como sua empresa deseja se posicionar em 2023”, diz a carta.
A estrutura do navio da Bibby Marine Ltda possui capacidade para 506 pessoas. Até então, os prisioneiros serão apenas homens, escolhidos de acordo com os que chegarem de forma irregular na costa sul da Inglaterra depois de atravessar o Canal da Mancha. Os primeiros cinquenta passageiros irão desembarcar em Dorset, cidade onde fica a ilha, nas próximas semanas.
Segundo o governo britânico, os moradores do navio ficarão na embarcação por três e seis meses.
O Bibby Stockholm possui 222 quartos duplos, com banheiro, chuveiro, televisão, janela para o lado de fora e armários. Na teoria, os imigrantes não ficarão presos no navio. Eles poderão sair todos os dias e visitar Weymouth, uma cidade vizinha, mas devem assinar sua entrada e saída no livro de registros do navio.
‘Crueldade Moral’
A nova lei de Imigração Ilegal do governo de Rishi Sunak foi descrita como “crueldade moral” por Justin Welby, arcebispo de Canterbury e chefe da Igreja Anglicana, porque ela exclui a possibilidade de os imigrantes irregulares iniciarem o processo para obter o status legal de imigrante refugiado.
O governo mantém o direito de os deportar imediatamente para o país de origem ou para um terceiro país considerado seguro.
O tema tem se tornado um dos maiores desafios para Sunak, já que quase 46 mil pessoas desembarcaram na costa sul da Inglaterra, logo após cruzarem o Canal da Mancha, no ano passado.
Foto destaque: ‘Prisão flutuante’ na Inglaterra. Reprodução/O Globo