Rússia possuía centros de tortura planejados em Kherson, afirmam advogados

Rodrigo Salzano Por Rodrigo Salzano
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Ao lado de um centro de detenção russo, em Kherson, Ihor, de 29 anos, contou bem abalado o que passou lá dentro: “Fui mantido aqui por 11 dias e durante todo esse tempo ouvi gritos no porão. Fui esfaqueado nas pernas com um taser, eles usam como boas-vindas”. Kherson foi a primeira grande cidade e única capital regional ucraniana que as tropas russas ocuparam desde o início da invasão.

A cidade foi tomada em 2 de maço de 2022 pelos exércitos de Moscou, e permaneceu ocupada até se retirar no início de novembro após uma ofensiva que durou meses das forças ucranianas. Segundo advogados ucranianos e internacionais, esses centros de detenção, que faziam parte de uma rede de pelo menos 20 instalações, são parte de uma estratégia russa visando extinguir a identidade ucraniana.


“Glória à Ucrânia” escrito na entrada de um centro de detenção usado pelo exército russo. (Reprodução/Vasco Cotovio/CNN)


“Esses centros de detenção estão conectados, eles seguem uma forma de comportamento muito semelhante, se não idêntica”, disse Wayne Jordash, chefe da Equipe de justiça Móvel, que apoiam o Gabinete do Procurador-Geral da Ucrânia. “A primeira etapa, essencialmente, é deter e, em muitos casos, matar uma categoria de pessoas rotuladas como ‘líderes’, ou seja, aquelas que podem resistir fisicamente à ocupação, mas também aquelas que podem resistir culturalmente a ela”, afirmou.

“ A segunda etapa é uma espécie de processo de filtragem onde a população que fica fora dos centros de detenção é submetida a monitoramento e filtragem constantes para que qualquer pessoa suspeita de envolvimento com ‘lideranças’ ou envolvimento com organização de qualquer tipo de resistência também seja identificada,” completou Jordash. Segundo ele, os subúrbios de Kiev de Bucha e Borodianka também sofreram dos mesmos métodos de Kherson.

“Fomos forçados a aprender o hino russo. Quando eles abriram a porta, você tinha que gritar: ‘Glória à Rússia! Gloria a Putin! Glória a Shoigu! (ministro da Defesa russo)”, disse Ihor. Outro detento da mesma instalação, Archie, 20, também foi torturado pelos russos: “Eles me bateram, me eletrocutaram, me chutaram e me espancaram com bastões. Não posso dizer que me mataram de fome, mas não me deram muito o que comer”.

Investigadores ucranianos e internacionais disseram que os centros de detenção tem vínculos financeiros com o Estado russo, e que isso são apenas resultados preliminares da investigação, já que evidências de crimes ainda estão sendo descobertos e processados. “O que é interessante sobre Kherson é que você realmente vê o microcosmo do plano criminoso geral”, comentou Jordash, além de afirmar que uma maior ocupação russa teria levado a um número sem precedentes de detenções, tortura e assassinatos.

A Rússia negou várias vezes todas as acusações que tenha cometido crimes de guerra durante o que chama de “operação militar especial” na Ucrânia.

 

Foto destaque: Bandeira ucraniana hasteada em um centro de detenção ocupado pelos russos. Reprodução/Vasco Cotovio/CNN

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