Através de uma carta do Ministério do Ensino Superior, o Talibã proibiu que mulheres frequentem universidades públicas e privadas no Afeganistão. A restrição deve ser seguida até a emissão de um novo aviso.
Apesar de afirmarem que seriam mais flexíveis, as autoridades do Talibã já instituíram diversas restrições à educação de mulheres. Desde que assumiu o controle do país no ano passado, o grupo estabeleceu a segregação por gênero nas entradas de edifícios e salas de aulas.
Além disso, desde março crianças e adolescentes do sexo feminino foram proibidas de frequentar o ensino médio e escolas com classes acima do sexto ano.
Em setembro, milhares de mulheres realizaram provas de admissão em universidades em todo o Afeganistão. Porém, diversas restrições já haviam sido impostas, como por exemplo: a proibição de cursos relacionados às áreas de medicina veterinária, engenharia, economia, agricultura e especialmente jornalismo.
Desde 15 de agosto de 2021 os fundamentalistas islâmicos têm retirado gradualmente os direitos que as mulheres afegãs conquistaram nos últimos 20 anos, após a queda do regime anterior, que aconteceu de 1996 a 2001.
Funcionárias foram demitidas de cargos públicos, mulheres não podem viajar sem a companhia de um parente do sexo masculino e devem usar burca ou hijab fora de casa. Em novembro, o Talibã também proibiu que mulheres frequentem parques, jardins, quadras esportivas e banheiros públicos.
As determinações têm gerado protestos, que são repreendidos violentamente. Em 2013, a ganhadora do prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, levou um tiro na cabeça enquanto ia para a escola. O atentado ocorreu após a ativista defender a educação para mulheres em público. Malala tem sido uma voz constante na cobrança de providências a autoridades internacionais.
Manifestação de mulheres em frente ao ministério da Educação, em Cabul. (Foto: Reprodução/Clea Broadhurst/RFI)
Após a decisão de hoje, alguns representantes de entidades internacionais têm se manifestado:
“A educação é um direito humano fundamental. Uma porta fechada para a educação das mulheres é uma porta fechada para o futuro do Afeganistão”, disse Ramiz Alakbarov, representante especial adjunto do encarregado da ONU para o país.
“O Talibã deve esperar que esta decisão, que contraria os compromissos que assumiram repetida e publicamente com seu próprio povo, acarretará custos concretos para eles”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price.
“As novas restrições estendidas à educação feminina no Afeganistão são trágicas. A proibição não tem fundamento religioso, cultural ou logístico. Não é apenas uma grave violação dos direitos das mulheres à educação, mas também faz com que nosso país pareça profundamente anômalo”, afirmou Omar Zakhilwal, ex-ministro das Finanças do antigo governo afegão.
Foto destaque: Mulher com hijab utilizando computador. (Foto: Reprodução/Rawpixel.com/Freepik)