Teoria da cidade perdida Ratanabá vira conteúdo nas redes sociais e é criticada por arqueólogo

Diogo Nogueira Por Diogo Nogueira
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Na última semana, a história de uma suposta cidade perdida na Amazônia, denominada Ratanabá, repercutiu nas redes sociais. A teoria se trata de uma civilização que teria habitado a região da floresta há mais de 450 milhões de anos é dita como infundada por especialistas.

Segundo postagens do TikTok, Twitter e Instagram, a cidade seria “maior que a Grande São Paulo”, era “a capital do mundo” e “esconde muita riqueza, como esculturas de ouro e tecnologias avançadas de nossos ancestrais”.

Algumas teorias da conspiração foram além e especularam que a descoberta ajudaria a explicar “o verdadeiro interesse de dezenas de homens poderosos na Amazônia” e até o desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira.

Essas informações, contudo, não fazem o menor sentido, como avalia o arqueólogo Eduardo Goés Neves, professor do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos do Museu de Arqueologia e Etnologia da mesma instituição.

“Tudo isso é um delírio”, afirma o professor.

Ele ainda argumenta que o surgimento de histórias como a de Ratanabá, sem fundamento nas publicações científicas recentes, presta um “desserviço à arqueologia”.

“Há 450 milhões de anos não existia nem América do Sul, Cordilheira dos Andes, e as evidências mais antigas da nossa espécie (Homo sapiens) não chegam nem a 1 milhão”, completa o professor que estuda a Amazônia há 35 anos.

A origem da teoria de Ratanabá está em uma série de publicações nas redes da entidade Dakila Pesquisas, que assegura ter feito a descoberta da cidade perdida. O grupo, fundado por Urandir Fernandes de Oliveira, já teve o nome associado a outras teorias da conspiração que se transformaram em meme nas redes sociais, como o caso do ET Bilu, conhecido pela frase ‘busquem conhecimento’. Apesar disso, a história conquistou as redes sendo replicada por diferentes influencers e canais no Twitter, Tik Tok e Youtube.


A publicação do site Daiki Pesquisas sobre a cidade perdida foi no dia 3 de junho e provocou um salto de pesquisas sobre a palavra “Ratanabá” entre os dias 5 e 11 de junho. (Daiki Pesquisas/Reprodução)


Suposto interesse por trás do tema

Embora existam perfis nas redes sociais e até livros publicados sobre a tal “civilização perdida” nos últimos anos, o tema só ganhou o interesse popular e foi virar um assunto amplamente comentado nos últimos dias.

Na avaliação do especialista em arqueologia, Eduardo Neves, o fenômeno pode ser explicado por uma série de fatores.

“Me parece uma mistura da ingenuidade das pessoas, que querem acreditar nesse tipo de coisa, com interesses econômicos de exploração da Amazônia”, especula o especialista, que lembra de outras lendas parecidas, como a cidade de Eldorado, alvo de exploradores ao longo dos séculos por supostamente ser feita de ouro.

“E também não podemos ignorar o racismo nesse contexto. Quando se fala que existiram civilizações ‘avançadas’ há 300 milhões de anos, você está retirando dos povos ancestrais, que são os antepassados dos indígenas de hoje, a autoria de todas aquelas construções”, acrescenta.

O arqueólogo também opina que o fato de lendas desse tipo ganharem fôlego justamente agora serve como uma espécie de balão de ensaio, funcionando como uma espécie de “cortina de fumaça”, no intuito de desviar a atenção dos reais problemas que a Amazônia enfrenta.

Foto em destaque: Especulação de cidade perdida na Amazônia repercute nas redes sociais. (Getty Images via BBC)

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