Trabalhadores em condições análogas à escravidão são resgatados em Minas Gerais

Diellen Grisante Por Diellen Grisante
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O Ministério Público do Trabalho identificou trabalhadores em situação análogas à escravidão em fazendas produtoras de canas-de-açúcar, arrendadas nas Usinas de Coruripe, o maior setor sucroalcooleiro e fornecedor de açúcar para as multinacionais Coca-Cola, Louis Dreyfus Company (LDC) e etanol para os postos Ipiranga. Localizado no estado de Minas Gerais, nas cidades de Veríssimo e Campo Florido.

A operação resgatou 18 homens, que eram submetidos à longas jornadas de trabalho, em condições perigosas, sem proteção necessária e vivendo em alojamentos com situação precária. Muitos trabalhadores haviam aceitado o trabalho sob falsas promessas, que a contratação seria por três meses, sem precisar arcar com comida, hospedagem e passagem, além do salário recebido pelo trabalho nas lavouras.


O cultivo de cana-de-açúcar estava entre as cinco atividades rurais com os maiores números de trabalhadores resgatados

(Foto: Reprodução/Sérgio Carvalho/Repórter Brasil)


De acordo com relatos, ao saírem do Maranhão os trabalhadores tiveram que arcar com todos os custos durante três dias de viagem, em relação à passagem e alimentação. Ao chegarem no local, os alojamentos não possuíam colchão, os obrigando a dormir no chão. Os equipamentos de trabalho, água, luz e aluguel eram pagos por eles também. A jornada de trabalho era extensa, com pagamentos entre R$30 a R$40 por hectares plantados.

Um trabalhador morreu no dia 4 de abril, a caminho de um hospital em São Luís, no Maranhão. A morte dele foi provocada por um ferimento no pé, com botas que o mesmo achou no lixo. Semanas após sua morte, a esposa havia enviado dinheiro para ele voltar para casa, para tratar do ferimento.

Em resposta, por meio de nota para a Reporter Brasil e para o In Magazine, a Coca-Cola afirmou:

O respeito aos direitos humanos é um valor fundamental da The Coca-Cola Company e levamos isso a sério. Por essa razão, exigimos que nossos fornecedores adotem práticas responsáveis no local de trabalho e em linha com nossa Política de Direitos Humanos. Comunicamos essas expectativas por meio dos nossos Princípios de Conduta para o Fornecedor (SGP, na sigla em inglês), bem como verificamos a conformidade por meio de auditorias. Embora a The Coca-Cola Company não tenha fazendas ou administre a produção agrícola, exigimos de nossos fornecedores a adoção de práticas sustentáveis nas fazendas, de acordo com os Princípios para Agricultura Sustentável (PSA, na sigla em inglês), que descrevem as nossas expectativas ambientais, sociais e econômicas.

Seguimos comprometidos com o avanço da produção de açúcar sustentável, assim como trabalhamos para melhorar a vida dos mais vulneráveis em nossa cadeia de valor, tanto no Brasil quanto no mundo. Neste sentido, publicamos estudos sobre açúcar em 22 países, detalhando de forma transparente os nossos esforços para identificar riscos aos stakeholders envolvidos na sua produção, assim como temos colaborado com parceiros locais para melhorar as condições de trabalho em toda nossa cadeia de fornecimento, inclusive no Brasil. Convidamos aos interessados a saber mais em nosso relatório de direitos humanos.

A The Coca-Cola Company foi informada de que as usinas de Coruripe iniciaram a implementação de um programa de remediação que inclui, entre outros pontos, o cancelamento do contrato com as duas fazendas mencionadas pelo Repórter Brasil. Reafirmamos também com a liderança de nossos fornecedores a necessidade de aprimorar seus mecanismos de diligência prévia com sua cadeia de valor e terceiros conforme expresso pelos Princípios Orientadores das Nações Unidas (UNGPs, na sigla em inglês) sobre negócios e direitos humanos.”

A rede Ipiranga suspendeu os contratos com a Usina “até que os fatos sejam esclarecidos”. A LDC disse que “leva as questões de sustentabilidade muito a sério, sempre com o objetivo de operar com os mais altos padrões possíveis e esperando padrões semelhantes dos fornecedores”.

Ainda solicitaram respostas sobre as alegações que ferem os direitos humanos repassadas para a multinacional francesa.

Foto destaque:  Usina Coruripe. Reprodução/Hélen Freitas

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