Dois representantes de instituições que venceram o Prêmio Nobel da Paz e um analista e jornalista russo estiveram no Brasil para explicar o motivo de rejeitarem a proposta de um acordo de paz do governo do presidente Lula e o porque de ela não poder prosperar da forma que está elaborada.
O acordo está sendo rejeitado por não haver precondições (condições que devem ser cumpridas antes de o acordo acontecer), que seria o julgamento e a punição dos crimes de guerra cometidos pelos russos, além da exigência da retirada das tropas russas dos territórios ucrânianos anexados.
Presidente Lula elabora acordo para selar a paz na Ucrânia. (Foto: reprodução/GETTY Images)
Kirill Martynov, do jornal Novaya Gazeta, uma das instituições que venceram o Prêmio Nobel da paz, disse em entrevista à CNN: “Não entendo essa posição de que os dois lados têm responsabilidade“, argumentou ele. “Apresentem evidências de que a Ucrânia provocou, começou ou quis essa guerra. É estúpido querer jogar real politik e assumir que a Rússia é tão importante que temos que dizer que a Ucrânia também tem responsabilidade“.
Em relação aos crimes de guerra cometidos pelos russos, Martynov argumentou a respeito de seu julgamento e punição “Considerando os crimes de guerra, temos que querer a paz com precondições. É preciso julgar esses crimes. O único modo sustentável de paz é a Rússia se retirar dos territórios ocupados. Mas é importante um país grande como o Brasil dizer que não está contente com a guerra“.
Ele e o restante da redação do Novaya Gazeta estão exilados na Letônia, devido à forte censura em territórios russos, que já existia antes de começar a invasão, mas se intensificou após, em fevereiro de 2022. Eles conseguem furar a censura através de uma VPN, do Telegram e do YouTube, que é a única rede social a não ser banida na Rússia.
Martynov afirma que o motivo pelo qual o YouTube não foi censurado é porque 80% da população russa utilizam a plataforma Android, que pertence à Google que também é dona do YouTube, e o regime russo não pretende entrar em atrito com eles, pois a internet na Rússia colapsaria.
Um outro representante, Pavel Andreev, do conselho da Organização de Defesa dos Direitos Humanos Memorial, vencedora do Nobel da Paz de 2022, assumiu posição em relação a proposta de paz .”Entendo que direitos humanos é um argumento que não funciona para a China, mas deveria ser importante para o Brasil. O Brasil deveria se perguntar o que quer.”
Eles ainda operam dentro da Rússia graças a colaboradores independentes por todo país, mas recebram ordens da justiça para fechar e encerrar funcionamento em dezembro de 2021, quando as tropas estavam se preparando para a invasão.
Andreev vive no interior da Rússia e afirmou não conseguir trabalhar normalmente, visto que a censura os obriga a chamar a guerra de “operação especial”.
“A sociedade civil vive como um celular no modo de economizar bateria. A primeira prioridade é proteger a si mesmo. A segunda, salvar as instituições independentes. E a terceira, tentar ajudar o máximo de pessoas possível. Muitos russos ajudam refugiados ucranianos.” afirmou ele.
Em avaliação à proposta de paz oferecida pelo Brasil, o jornalista e analista russo Konstantin Eggert pondera “Eu não acho que essa mediação vai funcionar porque qualquer coisa que permita a Putin manter o que ele ocupou o beneficiará e é exatamente o que ele quer. Acho que, por agora, nenhum dos lados aceitará uma mediação. Os ucranianos acham que os russos deveriam sair da Ucrânia e voltar para suas fronteiras de 1991.”
Os três representantes russos se reuniram com o secretário de assuntos Multilaterais Políticos do Ministério das Relações Exteriores, Carlos Cozendey, com a chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais do Ministério dos Direitos Humanos, Carla Martins Solon, e com o Ministro do STF, André Mendonça, e com o procurador-federal de Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Coelho. Os ministros assumiram posição de escutar, entendendo-se que a iniciativa ainda está em fase de elaboração.
Foto destaque: Lula e Putin tentam fazer acordo para selar paz entre Rússia e Ucrânia. Reprodução/EstadodeMinas.com