Segundo estudo realizado pelo Hospital Universitário Hamburgo-Eppendorf (UKE) em parceria com a seguradora de saúde DAK-Gesundheit, o número de crianças e jovens patologicamente dependentes de jogos e mídias sociais dobrou na Alemanha desde o ano de 2019. 6% das crianças e adolescentes na Alemanha são dependentes de jogos eletrônicos e mídias sociais. Ao todo, são aproximadamente 680 mil casos no país. Essas crianças e adolescentes jogam, batem papo, postam ou assistem a vídeos online quase cinco horas por dia.
O diretor executivo da DAK-Gesundheit disse que os resultados são “assustadores“. Segundo ele, “infelizmente, a esperança de que o aumento do tempo de uso e do vício diminuísse nos últimos anos não se concretizou“.
Os comportamentos das crianças e adolescentes alemãs são observados pelo psicólogo Kak Muller, presidente da associação profissional Medienabhangigkeit, com especialização em dependência das mídias, e que atua também no ambulatório a viciados em jogos na Clínica Universitária de Maniz. É nesta mesma clínica que pais desesperados pedem socorro por não saberem mais o que fazer com seus filhos dependentes do celular e computador.
Jovens jogando. Reprodução/Freepik
São jovens que negligenciam suas responsabilidades escolares e familiares, resistem ao desligamento das telas e reagem a ele com ansiedade, raiva intensa e incompreensão. Que se fecham em seus quartos, torrnam-se inacessíveis e não têm hobbies nem interesses. Nos casos mais graves, esquecem de comer e colocam um balde no quarto para não terem de ir ao banheiro.
Segundo Muller, a pandemia de Covid-19 foi estressante para os adolescentes, que são psicologicamente mais vulneráveis que adultos. Assim, o consumo de jogos, vídeos e redes sociais se tornava para eles, uma espécie de “consolo“: “Quando as mídias te pegam numa fase de medo, decepção e dúvida, pode acontecer o que chamamos em psicologia de condicionamento emocional“, afirma Muller.
O vício em jogos eletrônicos no computador é, desde o ano de 2002, reconhecido como distúrbio pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o psicólogo Kai Muller, existem três critérios básicos ao diagnóstico. O primeiro, diz ele, é a “perda de controle“, isto é, não poder mais tomar decisões de forma livre e consciente. O segundo ponto é a priorização, quando jogos ou uso das redes sociais não fazem mais parte apenas da vida, porém dominam praticamente tudo. Já o terceiro critério, apontado pelo psicólogo, é o uso ser mantido mesmo depois de os afetados perceberem que tal uso lhes traz realmente problemas ou que não lhes faz bem.
O sofrimento, segundo Muller, só aparece com o passar do tempo. “Quando os jovens veem que aquele círculo de amigos que antes jogava bastante começa a se voltar para outras áreas da vida, como a primeira namorada ou o primeiro namorado, ou outros hobbies que nada têm a ver com a Internet, mas eles próprios ainda estão grudados nos jogos“, diz o psicólogo. Muller ainda ressalta que entre os que vão à clínica a viciados em jogos em Mainz, pedir ajuda, estão jovens de 17 anos. Para o psicólogo: “Isso acontece quando os afetados não funcionam mais, para dizer friamente, nem em termos físicos, de desempenho nem sociais“, explica Muller.
O uso exacerbado de redes sociais é tão grande, que chegou a virar tema de campanhas educativas do Ministério da Saúde na Alemanha. Muller diz que um projeto de pesquisa em curso pretende desenvolver novas opções de tratamento. “Os meninos são mais propensos a se viciar em jogos que as meninas”, diz Muller.
Prevenção e ajuda
O tratamento ao vício em crianças e adolescentes tem mais chances de sucesso quanto mais cedo médicos e psicólogos possam intervir, antes que o quadro se torne crônico. Para Andreas Storm, do DAK-Gesundheit, os serviços de prevenção e ajuda devem ser ampliados. Ele considera esse um dever da sociedade, para além da política. “Se não agirmos rapidamente agora, mais e mais crianças e jovens vão cair no vício da mídia, e a tendência negativa não poderá mais ser interrompida”, explica. Os Psicológicos veem nisso como uma tarefa também aos pais, que devem de forma constante estabelecer limites ao uso de programas de entretenimento digital, principalmente quando se trata de crianças.
Foto Destaque: Criança jogando no computador. Reprodução: Freepik