O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira (13), após ser alvo de uma operação da Polícia Federal motivada por investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR). A apuração envolve uma suposta tentativa de fugir do país usando um passaporte português. Um mandado de prisão foi expedido e cumprido, com Cid sendo detido em casa, no Setor Militar Urbano, em Brasília. No entanto, a defesa disse que a ordem foi revogada logo em seguida, ainda na fase inicial da operação.
Apesar da revogação, o militar foi conduzido para prestar esclarecimentos e negou qualquer intenção de evasão. Ele é um dos 30 réus, ao lado de Bolsonaro, acusados de participar de uma tentativa de golpe de Estado com o objetivo de manter o ex-presidente no poder após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições de 2022.
Passaporte português e auxílio de ex-ministro
Segundo a Polícia Federal, a suposta tentativa de fuga envolvia o uso da cidadania portuguesa, que Mauro Cid e sua família possuem (de acordo com a defesa de sua advogada Vânia Bittencourt), para emissão de um passaporte europeu e posterior saída do país. A PF afirma que o ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, atuou junto ao Consulado de Portugal, em maio de 2025, para viabilizar esse processo em favor de Cid. Machado foi preso no Recife (PE) durante a operação.
Ex-ministro do turismo Gilson Machado no G20, 2021 (Foto: reprodução/Andreas Solaro/AFP/Getty Images Embed)
No entanto, apesar de ter a cidadania portuguesa, a sua defesa afirmou que ele não tem intenção de deixar o Brasil nem solicitou passaporte com essa finalidade. Gilson Machado também nega irregularidades e afirma que o pedido feito ao consulado foi, na verdade, em nome de seu pai, e não do ex-ajudante de ordens.
Réu por golpe e outros crimes
Desde o fim do governo Bolsonaro, Mauro Cid passou de figura discreta do entorno presidencial a um dos nomes centrais nas investigações conduzidas pela Polícia Federal e pela PGR. Ele responde por:
- Falsificação de cartões de vacinação contra a Covid-19, inclusive em nome de Bolsonaro;
- Venda irregular de joias e presentes oficiais recebidos em viagens internacionais;
- Atos antidemocráticos e conspiração golpista, com base em provas levantadas pela PGR.
As delações de Cid vêm alimentando investigações de grande repercussão, envolvendo inclusive ex-integrantes do alto escalão do governo anterior.
Fuga e justiça
Fugir do país não protege um réu da Justiça. Pelo contrário: a tentativa pode levar à decretação de prisão preventiva, à perda de benefícios processuais e à emissão de alertas internacionais, como a inclusão do nome na lista da Interpol. Países com tratados de extradição com o Brasil podem agir para devolver o fugitivo.
A eventual saída de Mauro Cid, caso tivesse ocorrido, poderia ser interpretada como obstrução de Justiça e afetaria não apenas sua imagem, mas também a validade e os termos da colaboração com as autoridades.