Castro articula com governo Trump para classificar o Comando Vermelho como organização narcoterrorista

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), iniciou uma articulação direta com integrantes do governo norte-americano para que o Comando Vermelho (CV), principal facção criminosa do estado, seja reconhecido pelos Estados Unidos como uma organização narcoterrorista.

A informação foi publicada pela colunista Malu Gaspar, do O Globo, e confirma o envio de documentos à equipe de Donald Trump com a justificativa de que o grupo cumpre critérios usados internacionalmente para a designação.

Segundo os relatórios encaminhados, o governo fluminense argumenta que o Comando Vermelho possui uma estrutura hierárquica consolidada, movimenta grandes volumes financeiros oriundos do tráfico internacional de drogas e mantém relações transnacionais com outras redes criminosas. 

O pedido ressalta que a classificação poderia abrir espaço para cooperação bilateral entre autoridades brasileiras e agências americanas, como a DEA (Drug Enforcement Administration) e o FBI, no combate ao narcotráfico.

Governo federal não foi consultado sobre a iniciativa

De acordo com fontes ouvidas pela imprensa, a ação foi conduzida sem a participação formal do governo federal, o que gerou desconforto em setores do Planalto e do Ministério das Relações Exteriores. Autoridades federais avaliam que uma designação desse tipo, feita de forma unilateral por um estado, poderia ter implicações diplomáticas e econômicas para o Brasil, já que grupos listados como terroristas sofrem sanções internacionais e bloqueio de ativos.

Em nota, interlocutores do governo federal classificaram o movimento como “inoportuno” e destacaram que a definição de organizações terroristas é prerrogativa da União, conforme determina a legislação brasileira. 


Após o envio dos relatórios aos EUA, deputado pede investigação contra Claudio castro (Foto: reprodução/X/@ICLNoticias)


A ausência de coordenação entre esferas de governo também levanta preocupações sobre possíveis efeitos colaterais, como restrições a empresas, bancos ou pessoas associadas, ainda que indiretamente, ao território onde o grupo atua.

Enquanto isso, o governo do Rio defende que o objetivo é reforçar o combate à criminalidade organizada e garantir apoio internacional em investigações de lavagem de dinheiro e tráfico de armas. A Secretaria de Estado da Casa Civil informou que o material enviado aos Estados Unidos “segue parâmetros técnicos e jurídicos internacionais”, e que não há intenção de interferir em competências federais. 

Especialistas analisam possíveis desdobramentos

Analistas em segurança pública avaliam que a eventual classificação do Comando Vermelho como organização narcoterrorista teria um impacto simbólico e operacional significativo, podendo facilitar acordos de cooperação, extradição de criminosos e rastreamento de recursos ilícitos no exterior. 

Por outro lado, especialistas em direito internacional alertam que a medida pode abrir precedentes delicados para a soberania brasileira, ao permitir que potências estrangeiras adotem ações diretas contra alvos dentro do país. Até o momento, não houve manifestação oficial do governo norte-americano sobre o pedido. O Palácio Guanabara também não confirmou se a solicitação foi feita por meio de canais diplomáticos formais ou via representação estadual.