Nesta quinta-feira (1), a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) divulgou que o consumo de energia chegou ao maior nível em anos, aumentando em 3,7% no ano de 2023, em comparação com 2022. O consumo médio no país chegou a um valor de 69.363 megawatts, pelo qual a onda de calor foi em grande parte tida como responsável.
Ondas de Calor
“As ondas de calor que atravessaram o país no segundo semestre e o bom desempenho de alguns setores da economia foram os principais fatores para o aumento,” a CCEE comunicou em nota.
Entre os vários eletrodomésticos que tiveram seu uso intensificado por causa do fenômeno meteorológico, a Câmara destacou os ventiladores e ar-condicionado, produtos que tiveram extrema demanda em decorrência das temperaturas recorde nos últimos meses de 2023, e o crescimento do mercado “livre” de energia elétrica.
Gráfico mostrando o consumo de energia de 2019 a 2023 (Foto: reprodução/CCEE/g1)
O ano de 2023 foi considerado por cientistas como o mais quente já registrado devido ao El Niño (aquecimento abnormal das águas do oceano Pacífico) em combinação com o efeito estufa agravado.
Na maior parte do Brasil, a sensação térmica elevada foi sentida na pele. Antecipadamente, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já havia advertido que a demanda de energia iria aumentar significativamente – e de fato, o mês de novembro registrou sucessivos picos de demanda que quebraram recordes históricos, atingindo até o valor de 101 GW (gigawatts) em alguns momentos.
Caso o aquecimento global não seja freado, é previsível que futuras ondas de calor acabem gerando ainda mais demanda por energia, e pondo maior pressão no sistema de abastecimento. Uma das soluções nacionais que se apresentaram nesta passagem da primavera ao verão apareceu na forma de redes alternativas, o crescente mercado livre da energia elétrica, que correspondeu por parte do aumento elevado no consumo de eletricidade.
Migração de mercados
Em contraste com o dito mercado “cativo”, do consumo residencial e de menores empresas que só conseguem comprar a energia da abastecedora local, o mercado “livre” da energia elétrica abasteceu mais do que nunca grandes empresas, com preços de eletricidade mais negociáveis, e fornecimento direto. Além das condições meteorológicas, a migração do mercado cativo para o livre no setor foi uma marca profunda para o setor no ano de 2023.
No total, a CCEE contabilizou que enquanto o mercado cativo aumentou em 2,5%, o mercado livre aumentou em 5,9%. É uma disparidade decorrente dos seguintes fatores:
- Setores produtivos relevantes (metalurgia, serviços, comércio) tiveram maior atividade, e optaram pelo abastecimento em redes alternativas;
- Equipamentos de refrigeração ficaram em alta demanda por causa da onda de calor, e setores como os de comércio e serviço optaram por essa eletricidade;
- Em geral, novas empresas tendem a aderir mais ao mercado livre do que o cativo.
Com isso, ainda vale destacar que o crescimento em porcentagens são relativos a cada setor: no geral, o mercado cativo ainda é o maior abastecedor de energia elétrica no país, e deve permanecer como tal. O mercado livre ainda tem crescimento significativo previsto para 2024, mas na ausência de uma onda de calor, é muito provável que o consumo de energia não chegue ao mesmo nível.