Executivos de empresa dona da Starbucks no Brasil são investigados por estelionato e fraude

Fernanda Eirão Por Fernanda Eirão
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Foto destaque: o conglomerado Starbuck passa por investigações de fraude no Brasil (Reprodução/Pixabay)

A mundialmente famosa Starbucks passa por um capítulo difícil em sua história no Brasil. A rede de cafés passa atualmente por recuperação judicial para se recuperar de dívidas de R$1,8 bilhão e agora, a empresa responsável pela Starbucks no Brasil, a SouthRock, teria cometido crimes de estelionato, apropriação indébita contra credores e falsidade ideológica. Um empréstimo de R$75 milhões é o alvo principal das investigações, pois teria sido obtido através de alteração de balanços patrimoniais. A empresa nega as acusações.

A investigação

O inquérito foi aberto em dezembro de 2023, partindo de uma notícia-crime registrada pela Ibiuna Investimentos e pela securitizadora Travessia, as responsáveis pela operação de crédito à SouthRock. Os principais alvos do inquérito são o CEO da SouthRock, Kenneth Pope, o diretor financeiro, Fábio Rohr, e o gerente financeiro do Starbucks, Marcos de Jesus Carvalho. 

As alegações investigadas pela Polícia Civil são de que os executivos teriam mostrado demonstrativos financeiros falsos para obter “vantagem ilícita” dos credores. Uma acusação adicional surgiu nesta segunda-feira (26) de que Kenneth Pope teria obtido empréstimo de R$20 milhões da própria empresa, ocultando a operação da Justiça e dos credores. A securitizadora Travessia o acusa de desviar o valor em benefício próprio e pedem que o executivo seja afastado de seu cargo, segundo notícia do jornal Valor.


Kenneth Pope
Kenneth Pope comanda a SouthRock, fundo especializado em investimentos no setor de alimentos e bebidas, e assumiu as operações da marca Starbucks no Brasil (Foto: reprodução/Felipe Rau/Estadão)

A petição apresentada esta semana ainda acusa Pope de fraude, manipulação de documentos contábeis e ocultação de transações financeiras. Os advogados da Travessia alegam que o CEO da SouthRock teria contraído dívida de R$20 milhões da própria gestora e que esse valor não foi incluído na relação de valores a receber pela empresa no pedido de recuperação judicial. 

Ao ocultar o valor, o CEO e diretor financeiro da SouthRock induziram os credores e a Justiça ao erro e encobriram o montante milionário a ser recebido pela empresa. Os advogados da Travessia alegam que Pope teria subtraído o valor da empresa “para vantagem pessoal em detrimento da coletividade de credores” e que a fraude só poderia ter ocorrido com o aval de Rohr, pois o diretor financeiro “sempre assinou as demonstrações financeiras e demais documentos contábeis das empresas do grupo”

A SouthRock rebate as acusações e divulgou em nota que “os valores mencionados constam no balanço da empresa e no Imposto de Renda do sócio”. A empresa também alega que as movimentações financeiras foram realizadas antes do processo de recuperação judicial e que foram devidamente documentadas e que o pedido de inquérito seria uma tentativa dos credores de “justificar para investidores operações de crédito realizadas”.

Alteração de documentos e dívidas ocultas

A gestora SouthRock também é responsável pela operação do TGI Friday’s e do Eataly no Brasil e entrou com pedido de recuperação judicial em outubro de 2023. De acordo com os credores, o grupo manipulou documentos para maquiar a real situação da empresa para conseguir o empréstimo de que precisavam.
O crédito concedido em novembro de 2022 pela Ibiuna e pela Travessia, após a SouthRock apresentar documentos que garantiam a saúde financeira da Starbucks. Os credores afirmam que um ano depois do empréstimo, foi descoberto que os demonstrativos financeiros “foram adulterados” a fim de fazê -los acreditar que a Starbucks pudesse honrar suas dívidas, quando, na realidade, o endividamento da gigante de cafés apontava para uma “tragédia anunciada”.


Advogados defendem os credores
Os advogados da Travessia e da Ibiuna alegam adulteração de documentos por parte da SouthRock (Foto: reprodução/Pixabay)

Segundo os advogados da Warde Advogados, que representam a Travessia e a Ibiuna, o Starbucks teria “simplesmente deixado de pagar as parcelas das notas comerciais“, indo contra o acordo de pagamento da dívida em 48 parcelas mensais.

Entre os débitos ocultos da Starbucks e de outras companhias do grupo, estariam dois dois Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) de R$ 66 milhões cada, que não estavam no balanço do grupo durante a negociação para a concessão de empréstimo.

Os advogados da Travessia e da Ibiuna afirmam que a fraude ainda teria envolvido o envio de organogramas societários incompletos da SouthRock que omitiram, de propósito, holdings endividadas do grupo, que somados tinham ao menos R$400 milhões de dívidas, Um email incluído no processo, enviado em novembro de 2022 e com Pope em cópia, mostra o envio aos credores de um organograma sem a presença da SRC 6 Participações, uma das holdings endividadas.

A possível manipulação de balanços patrimoniais também teria envolvido a apresentação de valores menores dos royalties pagos pela SouthRock à Starbucks Brasil. Um balanço de junho do ano passado mostra uma diferença de R$42,1 milhões de diferença entre o montante real e o que foi apresentado. 

A Polícia Civil segue com as investigações e ainda apura se a empresa SouthRock teria substituído máquinas de cartão usadas na rede Starbucks para impedir a arrecadação de recebíveis cedidos como garantia de empréstimo. Duas operadoras de maquininhas devem prestar esclarecimentos para auxiliar a Polícia nas investigações.

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