O aumento do volume de exportações da carne forçou o aumento do preço do produto nos supermercados do Brasil. A elevação de preços vem em uma constante desde setembro de 2024 e a alta acumulada em 12 meses é de 21%, consideravelmente acima do índice geral.
Felippe Serigati, pesquisador do FGV Agro, afirma que existe uma alta demanda no mercado internacional porque a produção de outros países fornecedores diminuiu. Por esse motivo, as exportações brasileiras de carne bovina atingiram o recorde da série histórica de 2,9 bilhões de dólares.
“Em termos de escala, o mundo fala: quem tem carne bovina para me atender? Praticamente só o Brasil tem levantado a mão. Seja porque o produto brasileiro tem qualidade e compatibilidade, seja porque tem uma demanda aquecida no mercado internacional. Mas, ainda assim, a gente não pode esquecer que o grande destino, o grande mercado da proteína produzida no Brasil é o próprio mercado brasileiro. A gente exporta praticamente o excedente, algo como 20% ou 30%. Ou seja, 70% a 80% da carne produzida aqui tem como destino o próprio mercado interno”, explica Serigati.
Além do aumento do preço da carne, existe a variável de um orçamento mais reduzido. Com a aceleração da inflação, o poder de compra das famílias brasileiras diminuiu e, para algumas camadas da população, a carne agora passou a ser um peso a mais no orçamento mensal.
Processo demorado de produção
O ciclo de produção da carne é diferente dos outros produtos agrícolas; é longo e leva anos. Portanto, leva mais tempo para se conseguir um equilíbrio entre oferta e procura e o ajuste nos preços.
Em entrevista ao Jornal Nacional, o pecuarista Eduardo Ferreira, que tem um rebanho de 6 mil animais em sua fazenda no Mato Grosso do Sul, relata que a tecnologia é sua aliada no aumento da produção de carne. O fazendeiro argumenta: “a gente aumenta a produção de carne por hectare, na nossa mesma área sem precisar desmatar, sem precisar a ampliação da terra, e sim, com tecnologia, assim com integração, lavoura, pecuária para que, com isso, a gente consiga aumentar a oferta e esse preço em médio e longo prazo venha a cair”.
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, os produtores brasileiros exportam cortes com baixa procura no mercado interno. É isso que garante o equilíbrio entre as exportações e o abastecimento nacional.
Outro fatores importantes a se considerar na elevação dos preços no varejo são custos de insumos, de energia e transporte.
Por causa da disparada do preço da carne bovina, uma opção para a mesa do brasileiro passou a ser comer mais peixe e frango e consumir carne bovina menos vezes por mês.
Outra saída que os consumidores têm encontrado é pesquisar em diferentes supermercados na tentativa de encontrar menores preços ou promoções.
Análise do governo e instituições
De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), até a quarta semana de abril deste ano, as exportações da Agropecuária tiveram um crescimento de 10,7% e somaram 6,88 bilhões de dólares.
A expansão da exportação de carne bovina fresca, refrigerada ou congelada atingiu 46,1%.
Em março deste ano, a Agência Brasil informou que também há outros fatores que encarecem a carne, como o “ciclo do boi”, que provoca uma redução da oferta a cada cinco anos.
Além deste ciclo, a demanda de outros países também encarecem a carne. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), o volume de exportação da carne vem aumentando desde 2017, enquanto a produção nacional se manteve estável.
Em 2017, a disponibilidade de carne bovina para consumo interno era de 39,9 kg/habitante, e esse valor caiu para 36,1 em 2023, menor índice desde 2013.
De acordo com a análise feita pelo Ibre, as mudanças climáticas também vêm afetando a produção de carne e destaca o dano às pastagens causado pela forte seca em 2021.
Impacto do tarifaço de Trump
A guerra comercial das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos contra inúmeros países e a retaliação da China, com taxas de 34% sobre os produtos americanos, devem mexer com o mercado global de carnes.
De acordo com informações de analistas ao Valor Econômico, o crescimento da demanda chinesa pelas carnes do Brasil deve aumentar e provocar o aumento dos preços do produto no mercado interno, o que levará a uma inflação dos alimentos no país.
Os Estados Unidos exportam carne bovina, suína e de frango para a China, mas com a taxa adicional chinesa sobre os produtos americanos, os produtos brasileiros se tornam mais competitivos no mercado internacional.
Para Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, a carne suína do Brasil deve ocupar o espaço deixado pelos americanos no mercado chinês, mas a tendência é que a China também importe mais carne bovina e de frango do Brasil.
A exportação do Brasil já tendia a ser recorde em 2025 e essa conjuntura mercadológica torna o quadro ainda mais favorável.
Fernando Iglesias, Safras & Mercado
A Safras prevê uma alta de 7% para as exportações de carne suína neste ano, de até 1,5 milhão de toneladas. A projeção para carne de frango é de 5,43 milhões de toneladas, o que representa alta de 5,24%, e para carne bovina, alta de 4,28 milhões de toneladas, relativo a um crescimento de 2,29%.
O aumento das exportações impacta diretamente os preços domésticos. A tendência é que as exportações de carne continuem pressionando os índices de inflação no Brasil.