Os trabalhos começaram em 10 de julho em Santa Maria, com a remoção dos escombros e a coleta dos itens selecionados pela AVTSM (Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria) para compor o acervo do memorial. Nesta segunda-feira um novo passo foi dado e a fachada foi retirada.
No local, já foi feita a desmontagem e retirada do telhado e das paredes de alvenaria. A demolição foi realizada usando uma retroescavadeira hidráulica. Durante toda a manhã, a Rua dos Andradas teve que ser totalmente bloqueada ao trânsito, no trecho entre a Rua André Marques e a Avenida Rio Branco. A Coordenadoria de Trânsito e Mobilidade Urbana (CTMU) esteve monitorando o fluxo de veículos nas redondezas.
Boate Kiss em Santa Maria (Foto: reprodução/ANTONIO SCORZA/Getty Images Embed)
O prefeito Jorge Pozzobom esteve presente para acompanhar o andamento dos trabalhos e reafirmou o compromisso da administração municipal em transformar o local com a construção do memorial.
Conforme informações da INFA Incorporadora, responsável pela construção, a demolição continuará até terça-feira. Em seguida, o terreno será completamente limpo, com um prazo de finalização entre cinco e oito dias. Aproximadamente 45 carregamentos de entulhos serão transportados para uma área autorizada pela Prefeitura, localizada no distrito de Santo Antão.
O memorial
O Memorial foi construído para honrar a memória dos 242 jovens que perderam a vida na madrugada trágica de 27 de janeiro de 2013, que também resultou em 636 feridos e se tornou a maior tragédia do Rio Grande do Sul e a segunda maior do Brasil em número de vítimas causadas por um incêndio.
Boate Kiss após incêndio (Foto: reprodução/Diego Frichs Antonello/Getty Images Embed)
O projeto tem um orçamento de R$ 4.870.004,68 e é financiado com recursos do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL) do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS). Em maio de 2023, o MPRS autorizou a transferência de R$ 4 milhões. A Prefeitura contribuirá com os R$ 870 mil restantes. O prazo de conclusão é de 240 dias, ou seja, 8 meses.
O memorial ocupará um espaço total de 383,65m², dividido em um único piso. As áreas internas incluirão um escritório, uma sala multiuso, um auditório, banheiros masculinos e femininos, acessos ao auditório, um depósito, uma área técnica, além de uma varanda e um jardim. A edificação utilizará uma estrutura combinada de concreto armado e madeira laminada colada (MLC).
O incêndio
O incêndio na Boate Kiss, ocorrido na madrugada de 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, é uma das tragédias mais devastadoras da história do Brasil. Este sinistro causou a morte de 242 jovens e deixou mais de 600 feridos, abalando profundamente a cidade e o país.
A Boate Kiss era um popular ponto de encontro na cidade universitária de Santa Maria, atraindo uma grande quantidade de estudantes. Na noite do incêndio, cerca de mil pessoas estavam no local, muitas das quais participavam de uma festa universitária. O desastre teve início por volta das 2h30, quando um integrante da banda que se apresentava na boate acendeu um artefato pirotécnico que atingiu o teto. O material de revestimento acústico, composto por espuma de poliuretano, inflamou-se rapidamente, liberando uma fumaça tóxica que se espalhou pelo ambiente.
A falta de adequadas saídas de emergência e a superlotação da boate contribuíram significativamente para a magnitude da tragédia. Testemunhas relataram que muitos frequentadores, inicialmente, confundiram a fumaça com efeitos especiais do show, o que atrasou a evacuação. A situação foi agravada pela presença de apenas uma porta de saída, o que gerou pânico e tumulto, dificultando a fuga.
Ambiente interno da boate Kiss após incêndio (Foto: reprodução/Jefferson Bernardes/Getty Images Embed)
Além dos erros estruturais e de segurança, a resposta das autoridades e dos responsáveis pela boate foi alvo de críticas severas. Investigações subsequentes revelaram uma série de irregularidades, como a ausência de alvará de funcionamento e a utilização de materiais inadequados e inflamáveis na construção do local. A catástrofe evidenciou falhas gritantes na fiscalização e na aplicação das normas de segurança em estabelecimentos de entretenimento.
O impacto psicológico e emocional do incidente foi devastador. Famílias e amigos das vítimas enfrentaram um longo e doloroso processo de luto e busca por justiça. Movimentos de apoio e mudança, como a Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), foram criados para dar suporte às famílias e pressionar por melhorias na legislação e fiscalização de estabelecimentos similares, a fim de evitar que desastres semelhantes ocorram novamente.
O incêndio na Boate Kiss deixou uma marca indelével na história brasileira, gerando promulgação de leis mais rigorosas relacionadas à segurança em locais públicos e destacando a necessidade de uma fiscalização mais eficiente e rigorosa.