Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, afirmou que a presença de tropas nas ruas em 2022 foi fruto de um exercício previamente agendado e negou ter atendido a qualquer pedido do então presidente Jair Bolsonaro (PL). A Procuradoria-Geral da República o acusa de ter aderido ao plano de golpe.
Movimentação planejada segundo ex-almirante
O ex-comandante da Marinha, almirante de esquadra Almir Garnier, negou nesta terça-feira (10) ao Supremo Tribunal Federal (STF) que tenha colocado tropas à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro para uma eventual tentativa de golpe de Estado nas eleições de 2022. Garnier afirmou que a presença de blindados nas ruas foi parte de um exercício militar previamente agendado, sem qualquer vínculo com os desdobramentos políticos da época.
Ex-Almirante Almir Garnier e o então presidente Jair Bolsonaro em exercício militar na cidade de Formosa, 2021 (Foto: reprodução/Almir Sá/Getty Images embed)
“Foi uma coincidência”, disse o militar, referindo-se ao fato de os veículos estarem nas ruas no mesmo dia da votação da PEC do voto impresso na Câmara dos Deputados. Segundo ele, o exercício envolvia grande logística e investimento e, por isso, não poderia ser adiado.
Depoimento ao ministro Alexandre de Moraes
Interrogado pelo ministro Alexandre de Moraes, Garnier também comentou uma reunião entre os chefes das Forças Armadas e o então presidente, ocorrida em 7 de dezembro de 2022. “O presidente não abriu a palavra a nós. Ele fez considerações que mais pareciam preocupações e análises do que uma ideia concreta”, relatou. O ex-almirante alegou que a única pauta objetiva foi a preocupação de Bolsonaro com a segurança pública, mencionando a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) como instrumento possível dentro dos limites legais.
Apesar das negativas, o ministro Moraes foi enfático em demonstrar desconfiança: “Coincidências não existem”, declarou, em referência à sobreposição dos eventos militares e políticos naquele período.
Defesa institucional e suspeitas persistentes
A Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta Garnier como o único chefe das Forças Armadas que teria aderido ao plano de golpe. Outros depoimentos prestados ao STF, como os dos ex-comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Baptista Júnior, revelam versões divergentes. Baptista Júnior declarou que Garnier sinalizou apoio a Bolsonaro, colocando tropas à disposição. Já Freire Gomes minimizou o gesto, apesar de ter anteriormente indicado à Polícia Federal preocupações quanto a um possível conluio.
Denunciado por crimes como tentativa de golpe de Estado e organização criminosa armada, Almir Garnier se defende afirmando que atuou dentro dos limites institucionais do cargo. “Eu era comandante da Marinha, não era assessor político do presidente. Eu me ative ao meu papel institucional”, declarou. Sua linha de defesa sustenta que a atuação da Marinha em 2022 foi estritamente técnica. No entanto, o tom adotado por Alexandre de Moraes e as divergências nos depoimentos levantam dúvidas sobre a real extensão de seu envolvimento nos bastidores da tentativa de ruptura democrática.