O presidente Donald Trump, em entrevista à Fox News mexicana, na última terça-feira (15), declarou que países podem ter que escolher entre fazer acordos comerciais com os EUA ou com a China. A escolha por um dos lados levará em conta a suspensão ou não da implementação das “tarifas recíprocas” por 90 dias a parceiros comerciais.
As declarações de Trump geram nova tensão no mercado financeiro global, uma vez que arrastam para o epicentro da guerra comercial estabelecida entre EUA e China, países que possuem acordos em andamento com as duas grandes potências.
Ao se posicionar por um lado, parceiros comerciais terão que renunciar a parcerias já firmadas ou com o país norte-americano, ou com o país asiático, levando em conta possível retaliação tarifária.
A medida é vista como uma forma do governo norte-americano pressionar os demais países em sua escolha, gerando nova tensão mundial no mercado financeiro e, principalmente, no mercado de ações.
Países latino-americanos na mira
As falas do presidente norte-americano Donald Trump foram direcionadas, principalmente, a países da América Latina, incluindo o Brasil. Uma vez que Trump está preocupado com a influência da indústria chinesa em países do Sul Global.
A preocupação de Trump tem gerado uma série de ofensivas diplomáticas a países latino-americanos. Onde os EUA procuram retomar o apoio desses países, recebendo seus líderes na Casa Branca para reuniões e acordos.
A visita do presidente salvadorenho Nayib Bukele à Donald Trump, na última segunda-feira (14), é uma demonstração de que os EUA procuram criar alianças com líderes de países geopoliticamente estratégicos e próximos à Casa Branca, visando, também, brecar a expansão chinesa no continente americano.
Presidente dos EUA Donald Trump recebe o presidente de El Salvador Nayib Bukele na Casa Branca (Vídeo: reprodução/Instagram/@whitehouse)
Em outra ofensiva diplomática, o governo Trump enviou Pete Hegseth, Secretário de Defesa dos EUA, ao Panamá para negociar a retomada do Canal do Panamá pelos EUA, em posse do governo panamenho desde 1977, que vem sofrendo grande influência chinesa na última década.
Entrevista de Pete Hegseth, Secretário de Defesa dos EUA, sobre influência da China no Canal do Panamá ((Vídeo: reprodução/Instagram/@petehegseth)
Além desses países, o Brasil, o México e a Argentina também estão na mira dos EUA, para uma ofensiva diplomática, visando afastar a influência comercial e econômica chinesa.
Iniciativa Cinturão e Rota
Nas últimas décadas, a China tem expandido seus negócios em países em desenvolvimento por meio de sua “Iniciativa Cinturão e Rota” (BRI), ou nova “Rota da Seda”. Um projeto de infraestrutura ambicioso no qual o país asiático pretende se conectar a todos os continentes por meio de parcerias de desenvolvimento econômico.
Este projeto foi apresentado por Xi Jinping em 2013, quando ainda era secretário-geral do Partido Comunista Chinês. Ganhando força a partir de 2016, com investimento de bilhões de dólares em países da África, Ásia e Europa. Posteriormente, países da América Latina receberam aporte do governo chinês para obras de melhorias em seus portos, aeroportos e rodovias.
China se posiciona contra declarações dos EUA
Após as declarações do presidente americano Donald Trump de que países deverão “escolher um lado” nas negociações comerciais, Lin Jian, vice-diretor do Departamento de Informação do Ministério de Relações Exteriores da China, utilizou suas redes sociais para comentar sobre o assunto.
Jian enfatiza que a intimidação dos EUA a países latino-americanos vem de longa data, contrastando com a cooperação promovida pela China a estes países.
Enquanto a atenção do mercado financeiro mundial se volta para os próximos passos da guerra comercial entre EUA e China, o presidente chinês Xi Jinping permanece visitando países do Sul Global em busca de acordos comerciais e parcerias estratégicas.