A Organização das Nações Unidas anunciou nesta terça-feira (20), que Israel liberou a passagem de cerca de 100 caminhões com suprimentos para a Faixa de Gaza. O aval, confirmado pelo porta-voz humanitário Jens Laerke em Genebra, foi dado após forte pressão internacional. “Solicitamos e recebemos aprovação para mais caminhões […] São cerca de 100, bem mais do que os autorizados ontem”, declarou. É a maior remessa desde que o bloqueio se intensificou, mas permanece longe dos 500 veículos diários considerados indispensáveis pela ONU para atender 2,3 milhões de habitantes.
Ajuda ainda é ‘gota no oceano’, diz ONU
Os veículos transportam alimentos e fórmulas infantis, itens descritos como “vitais” para bebês que correm risco de morte por desnutrição. Tom Fletcher, diretor de ajuda humanitária da ONU, afirmou à “BBC” que a quantidade liberada é “uma gota em um oceano”. Ele teme que até 14 mil recém-nascidos possam falecer nas próximas 48 horas se a assistência não ganhar escala. Na segunda-feira, apenas cinco caminhões cruzaram a fronteira, rompendo um bloqueio que já durava 11 semanas, segundo a agência.
Akihiro Seita, diretor de Saúde da UNRWA, alertou que os indicadores de subnutrição infantil estão “subindo de forma preocupante” e podem se agravar rapidamente se o fluxo de mantimentos não for regularizado. “Se a escassez continuar, o aumento será exponencial, podendo sair do controle”, advertiu. Especialistas destacam que a combinação de bombardeios diários e falta de infraestrutura dificulta a distribuição interna, mesmo quando os carregamentos conseguem entrar em Gaza.
A liberação ocorre à sombra de críticas públicas dos líderes da França, Canadá e Reino Unido, que prometeram “medidas concretas” se Israel não suspender a ofensiva e destravar a ajuda. Em nota conjunta, Emmanuel Macron, Mark Carney e Keir Starmer condenaram “ações escandalosas” e advertiram que o deslocamento forçado de civis viola o direito internacional. “Sempre defendemos o direito de Israel à autodefesa, mas a escalada é totalmente desproporcional”, declararam, sem detalhar quais sanções poderiam ser adotadas.
Bombardeios em Gaza (Foto: reprodução/ Jack Guez/AFP/Getty Images Embed)
Guerra segue com novos bombardeios
Enquanto os caminhões cruzavam a passagem, a ofensiva terrestre e os ataques aéreos continuaram. O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, contou ao menos 60 mortos apenas nesta terça. Desde o início do conflito, mais de 53.400 palestinos perderam a vida, número considerado plausível pela ONU. Israel, por sua vez, busca eliminar o Hamas após o atentado de 7 de outubro de 2023, que matou 1.218 pessoas e resultou no sequestro de 251 civis, 57 dos quais permanecem cativos.
Paris, Ottawa e Londres também defenderam uma conferência em Nova York, marcada para 18 de junho, voltada a um arranjo de dois Estados. “Estamos dispostos a reconhecer um Estado palestino como contribuição para essa solução”, afirmaram. O comunicado pressiona Israel a aceitar um plano árabe para a administração de Gaza no pós-guerra, em cooperação com a Autoridade Palestina e Washington. Enquanto isso, a ONU tenta ampliar o corredor humanitário e evitar um colapso total dos serviços de saúde.
Após a entrada, a ajuda será recolhida e redistribuída pelo mecanismo já utilizado pela ONU, explicou Laerke. Contudo, estradas destruídas, falta de combustível e ataques constantes dificultam a logística. Organizações médicas alertam que hospitais funcionam com geradores improvisados e estoques críticos de medicamentos. Sem cessar-fogo sustentável, o fluxo de 100 caminhões, embora significativo, pode se tornar insuficiente em poucos dias, mantendo a população de Gaza à beira de uma crise humanitária sem precedentes.