A escolha do cardeal Robert Francis Prevost como novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana, agora conhecido como papa Leão XIV, provocou reações divididas entre fiéis, membros da Igreja e organizações civis.
Aos 69 anos, Prevost assume o papado com o desafio de dar continuidade à luta contra os abusos sexuais cometidos por membros do clero, uma questão que há décadas compromete a credibilidade e a autoridade moral da Igreja.
Preocupação da SNAP
Entidades como a Rede de Sobreviventes de Abuso Sexual por Sacerdotes (SNAP) e a organização Bishop Accountability expressaram preocupação com a postura de Leão XIV frente à transparência e à responsabilização de padres envolvidos em crimes sexuais. As críticas recaem principalmente sobre seu período como bispo de Chiclayo, no norte do Peru, entre 2013 e 2025.
Durante esse tempo, ele teria deixado de divulgar os nomes de acusados e não teria aberto investigações formais mesmo após denúncias de vítimas. Segundo essas organizações, algumas das vítimas recorreram às autoridades civis apenas anos depois, sem obter resposta da Igreja.

A atuação de Prevost enquanto prefeito do Dicastério para os Bispos também levanta questionamentos. Nessa função, ele era responsável por avaliar casos contra bispos acusados de abuso ou de encobrir crimes, mas, segundo as ONGs, não houve punições públicas nem informações claras sobre os processos. A falta de desfechos visíveis reforça as críticas sobre uma possível conivência com o silêncio institucional.
Participação do atual papa
No entanto, o novo papa também é reconhecido por ter participado ativamente da denúncia e posterior intervenção do Sodalício de Vida Cristã, uma congregação peruana envolvida em sérios casos de abuso e corrupção. Sua colaboração nesse processo foi destacada por vítimas e defensores dos direitos humanos. Antes de deixar o Peru, Prevost também se reuniu com sobreviventes de abusos, demonstrando abertura ao diálogo.
O histórico ambivalente de Leão XIV alimenta incertezas sobre o futuro da Igreja no enfrentamento dessa crise. O novo pontífice herdou de Francisco um conjunto de reformas e normas que precisam ser ampliadas e efetivadas, como o fim do segredo pontifício e a exigência de denúncias internas.
A sociedade civil e as vítimas esperam que, nos primeiros meses de seu pontificado, ele adote medidas concretas e corajosas. Entre as demandas mais urgentes estão a criação de uma legislação canônica com tolerância zero e a criação de um fundo de reparação para os sobreviventes. A forma como Leão XIV irá conduzir esse processo poderá definir sua liderança e o rumo da Igreja Católica nas próximas décadas.