“O Menino Marrom”: Tribunal de Justiça derruba suspensão do livro em escolas de Minas Gerais

Vanessa Lopes Por Vanessa Lopes
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Foto destaque: a obra retrata a história de dois grandes amigos, um negro e outro branco, em busca de conhecer juntos a origem das cores (Reprodução/Google Livros)

O cancelamento da suspensão do Livro O Menino Marrom pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), na última quinta-feira (27),  permitiu o retorno do livro e de trabalhos pedagógicos em torno da obra literária nas escolas de Minas Gerais. Isso porque, o material havia sido suspenso pela Secretaria Municipal de Educação de Conselheiro Lafaiete, sob alegação de que, pais de alunos consideraram o conteúdo da obra “agressivo”.

Essa decisão ainda cabe recurso, por ser liminar, porém, o Juiz Espagner Wallysen Vaz Leite determinou a suspensão temporária dos trabalhos pedagógicos. Caso a medida seja descumprida, haverá multa diária à secretaria da Cidade de Conselheiro Lafaiete, de até R$ 5 mil.

Suspensão nas escolas de Conselheiro Lafaiete

As escolas da cidade localizada na Região Central de Minas Gerais suspenderam a obra, em função da pressão de pais de alunos, dos quais a avaliaram como indutora de crianças “a fazer maldade”.


Semed de Conselheiro Lafaiete proverá uma live
Segundo a SEMED de Conselheiro Lafaiete, ela promoverá uma live com a comunidade escolar para tratar de aspectos da obra (Foto: reprodução/SEMED de Conselheiro Lafaiete)

“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e deste Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais é firme no sentido da proibição da censura prévia.” Como resposta para o caso, em trecho da decisão do Juiz Vaz Leite.

Ziraldo e o Livro O Menino Marrom, de 1986

O mineiro Ziraldo morreu neste ano, em abril, aos 91 anos. Conhecido pela invenção do “Menino Maluquinho”, foi escritor, desenhista, chargista, caricaturista e jornalista.


Ziraldo, autor de quadrinhos, livros e charges para o público infantil, apresentaram em seu conteúdo literário, aventuras e conflitos, desse universo (Fotos: reprodução/Guillermo Legaria/Getty Imagem Embed)


No âmbito do jornalismo, desenvolveu um papel singular frente à imprensa de resistência que, encontrava-se em censura lenta, gradativa e segura pelos generais Geisel e Golbery. Essa pressão da contracultura e da oposição ao regime militar, de forma irreverente, o tornou um dos fundadores do importante jornal do Rio de Janeiro, o semanário “O Pasquim”.

O livro de 1986, retrata a história de dois grandes amigos, um negro e outro branco, em busca de conhecerem juntos a origem das cores. Para eles, interessava o branco e o preto, de forma a entender se ambas tornavam as coisas diferentes. 

Veja alguns trechos:

“Eles tinham estado juntos, praticamente, desde o dia em que nasceram, brincando, conversando, inventando coisas, brigando, rolando na grama, dando socos um na cara do outro, fazendo as pazes, brigando de novo, passeando na praça, jogando na escola, sempre juntos, sempre às gargalhadas, sempre inventando moda. E nunca tinham se preocupado com o fato de um ser de uma cor e o outro ser de outra. Agora, eles queriam saber o que era branco e o que era preto e se isto fazia os dois diferentes.”

Em outro momento, os amigos resolveram fazer um “pacto de sangue” do qual a princípio seria necessário uma faca para fazer o corte, mas, desistiram para usar uma tinta vermelha, como não a acharam, a substituíram pela azul. No fim, o amigo marrom escreveu uma carta ao amigo que, já estava em outra cidade.

“Meu querido amigo, eu andava muito triste ultimamente, pois estava sentindo muito a sua falta. Agora estou mais contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, a ausência do branco.”

Diversos outros trechos da trama, relataram as brincadeiras da infância dos amigos, todavia, os pais as interpretam como indutoras de maldade.

Redatora do Site In Magazine (IG) Graduada pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA) Especialista em Ciências Políticas pela FACULESTE
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