Perícia aponta que a sucuri Ana Júlia morreu de causas naturais

Fernanda Eirão Por Fernanda Eirão
5 min de leitura
Foto destaque: a sucuri mais famosa do mundo, Ana Júlia, morreu de causas naturais (Reprodução/Instagram/@cdimitrius)

Depois de uma semana de especulações, a Polícia Científica do estado de Mato Grosso do Sul concluiu que a cobra sucuri Ana Júlia, famosa por ser um animal dócil, morreu de causas naturais. A serpente havia sido encontrada sem vida pelo documentarista Cristian Dimitrius, às margens do rio Formoso, em Bonito, no domingo (24). Desde que foi encontrada, vários especulavam se teria sido esse um caso de violência contra animais.

As conclusões da perícia

A morte da sucuri provocou comoção na população local e no estado e as pessoas se perguntaram o que teria acontecido, levantando inclusive a hipótese de Ana Júlia ter sido morta por um humano. Na terça-feira (26), equipes da Polícia Militar Ambiental, da Polícia Civil e do Instituto de Criminalística, juntamente com uma bióloga, estiveram no local para investigar.
“O principal objetivo nosso era caracterizar ou não se a serpente foi morta de forma violenta por um disparo de arma de fogo ou até mesmo se ela tinha algumas lesões contusas que justificassem a morte dela”, declarou Emerson Lopes dos Reis, diretor da Polícia Científica de Mato Grosso do Sul.


Sucuri Ana Júlia é encontrada morta
A serpente foi encontrada sem vida, levantando especulações quanto às razões de seu óbito (Foto: reprodução/Instagram/@cdimitrius)

O diretor explica que não foram encontradas lesões condizentes com disparos de armas de fogo no corpo do animal, mas a serpente foi levada para a capital Campo Grande para exames complementares, como raio-x, para confirmar.

Nós fizemos exames radiográficos, não encontramos nenhuma fratura na região da cabeça, que era suspeita inicialmente de ter sido lesionada e descartamos a hipótese de morte violenta…Visto que o animal não teve uma morte violenta restou por tanto uma morte por consequência de uma patologia ou alguma questão própria do animal onde ela vive, sem interferência humana na morte desse animal”, concluiu a perita Maristela Melo de Oliveira.

A perita aproveitou a oportunidade para medir o animal, confirmando 6,36m de comprimento, e também para coletar o DNA para sequenciamento genético, além de outros materiais biológicos. O intuito é preservar o material para interesse científico e estudos relacionados a genética desse tipo de animal.

A fama de Ana Júlia

Muitas pessoas têm medo de animais rastejantes. Mas Ana Júlia, apesar de ser um animal de grande comprimento e alvo do pavor de muitas pessoas, era uma serpente incrivelmente gentil que nunca atacou ninguém. Ela deixava as pessoas se aproximarem, sem nunca lhes oferecer qualquer tipo de ameaça. A cobra de quase sete metros de comprimento foi batizada com esse nome por conta da música de sucesso da banda Los Hermanos.

Ana Júlia havia viralizado nas redes sociais graças a um vídeo compartilhado pelo biólogo holandês Freek Vonk, mas o animal já era famoso na região há bastante tempo. Por ser um animal calmo que nunca mostrou agressividade contra humanos, ela virou atração turística local, sendo conhecida por pesquisadores e fotógrafos de animais da região. Ana Júlia virou sensação internacional em documentários da BBC, de reportagens internacionais e pesquisas envolvendo cientistas de outros países. Dimitrius menciona que Ana Júlia sempre se deslocava devagar, aceitava a presença humana, chamando-a de “uma embaixadora da espécie pro mundo”.


Biólogo Freek Vonk e a sucuri Ana Júlia
O biólogo Freek Vonk compartilhou sua despedida à Ana Júlia em suas redes sociais (Foto: reprodução/Instagram/@freekvonk)

Diferentemente da crença popular e de filmes de Hollywood, especialistas explicam que sucuris não são cobras agressivas. “Existe muito sensacionalismo e informações errôneas difundidas sobre a espécie, isso mostra que ainda temos muito trabalho de educação ambiental, pesquisa e conservação pela frente para desmistificar a espécie e evitar que casos como esse continuem acontecendo, a morte direta por humanos ainda é um dos principais fatores de morte das sucuris”, explicou Juliana Terra, uma especialista que acompanhava a serpente há oito anos.

Apesar desta característica peculiar, as sucuris ainda são animais silvestres, exigindo assim cautela e respeito ao se deparar com tais animais em seu habitat. Ana Júlia, em todos os seus anos em Bonito, fez um trabalho muito importante. A cobra ajudou a fornecer dados importantes para o conhecimento de sua espécie e agora, com seu falecimento, as águas cristalinas de Bonito perderam um dos seus maiores símbolos. 

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