Pesquisa revela projeções climáticas preocupante para São Paulo até 2050

Lorena Camile Por Lorena Camile
11 min de leitura
Foto Destaque: Pesquisa revela projeções climáticas preocupante para São Paulo até 2050 (reprodução/ Fernando Stankuns/ Wikipedia)

Pesquisadores do Instituto Geológico juntamente com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) realizaram um estudo que aponta a possibilidade do estado ficar até 6°C mais quente até o ano de 2050, além de apresentar ondas de calor que ultrapassam os 100 dias.

Pesquisa Climática

Divulgado pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), o artigo analisou dados climáticos entre as décadas de 1960 e 1990 em comparação com projeções para o período de 2020 a 2050. Os estudo foi assinado pelos pesquisadores Gustavo Armani e Nádia Lima, do Instituto de Pesquisas Ambientais, por Maria Fernanda Pelizzon Garcia, da Cetesb, e Jussara de Lima Carvalho, da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de SP, e publicado no fim de 2022.

Em nota, o governo do estado se pronunciou a respeito do artigo divulgado pela APqC visto que a associação cobra do governo paulista medidas para conter o avanço do aquecimento do estado.

A Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de SP tem compromisso com a sustentabilidade ambiental e resiliência climática e possui um aparato de programas voltados para o equilíbrio ambientalista do Estado. Desde 2022, a pasta possui o Plano de Ação Climática (PAC) 2050 e o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE-SP), que mapeiam cenários climáticos globais para aplicação e gestão de riscos ao estado.”

Foi projetado dois cenários possíveis com o estado divulgado: um otimista e um pessimista. O cenário otimista consiste em possibilidades mais positivas para o quadro climático durante os próximos anos como a estabilidade de níveis de gás carbônico (CO²) após o fim do século XXI além de um redução de emissões e implementação de programas de reflorestamento no futuro. Também faz parte do quadro otimista a diminuição de áreas de cultivos agrícolas, adoção de políticas climáticas mais rigorosas e um menor consumo de energia vindo de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão natural.

Já o cenário pessimista, obviamente o mais alarmante, aponta um quadro contrário e mais agressivo onde o nível de gás carbônico pode se elevar até o final do século além de um futuro sem mudança das atuais políticas públicas para redução de emissão de gases. Desse cenário, também faz parte um aumento de CO² no ano de 2100 três vezes maior do que atualmente. Uma expansão de áreas agrícolas e de pastagens também pode acontecer afim de suprir a demanda visto o crescimento da população mundial, projetada em 12 bilhões em 2100 além de alta dependência dos combustíveis fósseis.

O professor de meteorologia Ricardo de Camargo, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP apontou que os pesquisadores usaram de modelos climáticos e fizeram uma regionalização dessas simulações a partir da meteorologia. Em exemplo, o professor citou as previsões para cenários futuros em resolução espacial na casa dos 100 a 200 km.

Consequências Climáticas

A pesquisa concluiu a respeito de diversas consequências, algumas delas já nos assolam. A primeira, e uma das principais, foi o aquecimento da atmosfera de forma menos intensa na faixa litorânea (devido ao controle exercido pelo oceano), e maior na região Noroeste, mais afastada do Oceano Atlântico. Para a temperatura máxima anual, os estudiosos reconheceram um aumento em todo o estado, variando de 0,5°C a 1,5°C no Litoral Norte e na Baixada Santista.

Ainda sobre aquecimento, os maiores valores partem de 3°C a 4°C acima da temperatura normal (considerando o intervalo entre as décadas de 1960 e 1990), chegando até 6°C no limite superior do cenário pessimista.


Projeção do aquecimento segundo estudo divulgado na APqC (Foto: reprodução/ G1/ APqC)

A falta de chuva também será um inimigo presente. O estudo obteve um resultado onde é projetada para a maior parte do estado a redução nos totais anuais de precipitação, simplificando, da possibilidade de chuvas, sendo que no Norte e Noroeste todos os cenários marcam tendência de redução.

Dentro do quadro pessimista, o estado inteiro ainda pode ter redução de ondas de frio entre 1 e 3 dias, com pequenas áreas isoladas destacando redução de até um dia. Segundo a projeção, o estudo também pôde verificar a possibilidade de haver um aumento do indicador de duração de ondas de calor ao considerar o máximo de dias consecutivos no ano com temperaturas elevadas. Numa visão ainda mais degradante, o aumento é superior a 150 dias no norte do estado. Já com um cenário positivo, o menor aumento seria de 25 dias, no Sul.

O professor de meteorologia Ricardo de Camargo ainda pondera que apesar dos números, não é um acontecimento exato visto que apenas foi considerado o período de 1961-1990, quando poucas ondas de calor já haviam sido registradas.

O que diz a APqC

A presidente da APqC, Helena Dutra Lutgens, salientou a importância da pesquisa e afirmou que a emergência climática é real e ainda criticou os gestores estaduais.

A emergência climática é real e pode trazer consequências devastadoras para o planeta e para o estado, cuja economia pode ser fortemente atingida se as projeções se confirmarem.”, de acordo consigo, o governo de São Paulo não dá a atenção devida aos alertas científicos.

“O estado tem adotado, nos últimos anos, medidas que fragilizam o sistema paulista de ciência e tecnologia, como a extinção do próprio Instituto Geológico, autor do estudo, do Instituto Florestal e do Instituto de Botânica, além da Sucen [Superintendência de Controle de Endemias], que também poderia contribuir diante deste cenário, estudando a mudança de comportamento de vírus e vetores.”

A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo também cobra algumas medidas do governo como um plano de ação contra o aquecimento do estado além de medidas para garantir a preservação das áreas de conservação ambiental. Também faz parte das cobranças a recriação dos Institutos Geológico, Florestal e Botânica, bem como da Sucen. O desejo de fortalecimento e investimento do sistema paulista de pesquisa e tecnologia também é reforçado.

“É urgente fortalecer o sistema paulista de pesquisa e tecnologia, exigindo investimentos financeiros e em recursos humanos. Enquanto isso, o governo Tarcísio de Freitas tenta entregar áreas de conservação para a iniciativa privada, uma afronta ao futuro dos paulistas”, critica a presidente Helena Lutgens referente a licitação de concessão de áreas públicas de preservação e pesquisa ambiental do interior do estado, suspenso pela Justiça.

Em nota, o governo de São Paulo declarou:

“A Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de SP tem compromisso com a sustentabilidade ambiental e resiliência climática e possui um aparato de programas voltados para o equilíbrio ambientalista do Estado. Desde 2022, a pasta possui o Plano de Ação Climática (PAC) 2050 e o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE-SP), que mapeiam cenários climáticos globais para aplicação e gestão de riscos ao estado.

Dentre as estratégias e especificidades de atuação para implementação do PAC 2050, o Governo de SP montou um comitê gestor da Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), intersecretarial, para discutir ações integradas correlatas à pauta. As ações visam atingir os objetivos de neutralidade de emissões de São Paulo, a partir de seis eixos: Transportes; Energia; Resíduos; Agropecuária, Florestas e Usos do Solo; Processos Industriais e Uso de Produtos; Finanças Verdes e Inovação. O planejamento e as execuções devem ainda serem monitoradas por um conselho, tripartite – neste momento, em processo de estruturação.

Lançado recentemente pela pasta, o Finaclima-SP, mecanismo de financiamento que permite a combinação de recursos públicos e privados, atuará para complementar a implementação das ações necessárias de mitigação e adaptação previstas no PAC e no Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática (PEARC).

Sistemas estaduais de pesquisa e tecnologia

Desde 2021 a Semil possui o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), fruto da união dos institutos Florestal, Botânica e Geológico, cujas atividades técnico-científicas desenvolvidas são voltadas para o planejamento territorial, de restauração de ecossistemas, de manutenção das unidades de conservação e das mudanças climáticas – totalmente integrado às políticas públicas de Estado. Ainda, o IPA dá suporte às atividades da Defesa Civil estadual no atendimento de desastres naturais, principalmente os ligados a deslizamentos.

Quanto às ações voltadas para o monitoramento de endemias, a Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD), da Secretaria de Estado da Saúde, realiza estudos e pesquisas sobre os temas, sob avaliação de conselhos responsáveis. As atividades regionais de campo são realizadas pelos municípios, vinculadas aos Grupos de Vigilância Epidemiológica (GVE) e de Vigilância Sanitária (GVS) estaduais.”

A possibilidade de eventos climáticos extremos e riscos de morte advindo das consequências climáticas também são alertadas pela pesquisa e seus pesquisadores.

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