Nesta quarta-feira (3), o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 15 pessoas foram alvos de uma operação da Polícia Federal (PF), que investiga supostas falsificações dos cartões de vacinas das pessoas envolvidas. Bolsonaro e as 15 pessoas foram alvo de busca e apreensão, mas até momento apenas seis pessoas foram presas. O ex-presidente não foi alvo de mandado de prisão, mas teve o celular apreendido
O funcionamento do suposto esquema
De acordo com as investigações da PF, em dezembro do ano passado, o grupo incluiu dados falsos sobre vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde. Com isso, os suspeitos conseguiram a emissão dos certificados de vacinação para burlar restrições sanitárias.
A primeira tentativa de burlar o certificado de vacinação teria sido feita pelo coronel Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro) ao querer obter o documento para a esposa, Gabriela Cid. Segundo a PF, em novembro de 2021 Cid teria pedido ajuda ao sargento do exército, que fazia parte da sua equipe, Luís Marcos dos Reis.
Reis, então, teria pedido ajuda ao seu sobrinho Farley Vinicius Alcantara, que é médico, para conseguir o certificado. O sargento teria, então, emitido para Cid um documento digitalizado de um cartão físico de vacinação, com carimbo e assinatura de Farley. A suposta dose teria sido aplicada em Cabeceiras (GO).
Porém, após uma investigação da PF, foi comprovado que não há registros de aplicação de doses no nome da mulher de Cid na unidade de saúde de Cabeceiras. Cid também teria acionado o militar Eduardo Crespo Alvez para inserir os dados no ConectSus. Mas segundo as investigações, Crespo teve dificuldades pois o lote que Farley havia informado no cartão de vacina não havia sido distribuído no estado do Rio de Janeiro, onde ele tentou fazer a operação, e o sistema do SUS entendeu como “fraude”.
Para tentar resolver o problema, Cid e Reis teriam pedido ao médico Farley um cartão de vacina em branco, para que eles preenchessem com lotes de vacinas distribuídos no Rio de Janeiro.
Cid também teria pedido ajuda à Ailton Gonçalves Moraes Barro, ex-major do Exército, para conseguir um cartão de vacinação emitido por Duque de Caxias (RJ). Ailton, então, teria feito uma conta na plataforma “GOV.BR” no nome de Gabriela Cid, esposa de Cid. Depois, de acordo com a PF, os dados de vacinação foram inseridos com o auxílio do ex-vereador Marcello Moraes Siciliano.
Porém, no sistema consta que os dados da esposa de Cid foram colocados por Camila Paulino Alves Soares, enfermeira da prefeitura de Duque de Caxias.
Segundo a PF, os nomes de Mauro Cid e de suas três filhas constam como vacinados em Duque de Caixas, o que causou estranheza, já que a família mora em Brasília. De acordo com a PF, os dados foram incluídos no sistema por João Carlos de Sousa Brecha, que era secretário municipal de Duque de Caxias, em dezembro de 2022.
De acordo com a PF, a inclusão dos dados no Ministério da Saúde do ex-presidente e de sua filha foram feitos em Duque de Caixas, mesma cidade em que Cid teria conseguido o cartão de vacina de sua esposa. As investigações apontam Brecha como o responsável pela suposta fraude.
As vacinas de Bolsonaro teriam sido aplicadas no centro Municipal de saúde em Duque de Caixas, nos dias 13 de agosto e 14 de outubro de 2022.
Também foram identificados que Max Guilherme Machado de Moura e Sergio Rocha Cordeiro, nomeados seguranças de Bolsonaro em 26 de dezembro do ano passado, também foram vacinados no mesmo local que Bolsonaro, em agosto e outubro de 2022.
Todos os dados teriam sido preenchidos por Brecha no dia 22 de dezembro de 2022, meses depois das supostas aplicações das vacinas.
E no dia 27 de dezembro de 2022, a servidora Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva excluiu do sistema os dados de vacinação do ex-presidente e de sua filha.
A suspeita é que a fraude nos registros de vacina de Bolsonaro e a filha foram para evitar problemas na sua entrada nos Estados Unidos. Viagem a qual ele fez no dia 30 de dezembro de 2022. Por fim, Jair Bolsonaro alega que não tomou vacina e que, portanto, não houve adulteração nos seus registros de saúde nem nos de sua filha.
"Nunca me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum, não existe adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso", disse.
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O ministro Alexandre de Moraes autorizou a operação da PF afirmando ser “plausível” a linha de investigação de que Bolsonaro e seus aliados tenham inserido dados falsos sobre as vacinas para obter vantagens. Os crimes investigados são os de: infração de medida preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.
Até o atual momento, apenas Mauro Cid, Luís Marcos dos Reis, Ailton Gonçalves Moraes Barros, Max Guilherme, Sérgio Cordeiro e Joao Carlos de Sousa Brecha foram presos.
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