Casos de tuberculose têm alta na América Latina desde 2015

Com um aumento de quase 20%, a América Latina vem passando por um aumento nos casos da doença que, em comparação com o restante do mundo, teve alta em quase uma década

Esther Feola Por Esther Feola
5 min de leitura
Foto Destaque: Casos de tuberculose aumentam por encarceramento (Reprodução: Pinterest/@timemagazine)

Em conjunto com instituições da Argentina, Colômbia, Peru, Estados Unidos e nacionais, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) captou por meio da pesquisa “Encarceramento em massa como motor da epidemia de tuberculose na América Latina e impactos projetados de alternativas políticas: um estudo de modelagem matemática” que o fator primordial para o aumento de casos de tuberculose na América Latina é o encarceramento; a população latina vem sendo privada de liberdade desde 1990, tendo quase duplicado.

Desde 2015, a ocorrência de tuberculose diminuiu em 8,7% mundialmente, enquanto aumentou em 19% na América Latina nesse mesmo tempo. Em 2022, mundialmente, 10, 6 milhões de pessoas foram atingidas pela tuberculose.


Fiocruz realiza pesquisa em conjunto com instituições para estudar aumento de casos de tuberculose na América Latina
Fiocruz realiza pesquisa em conjunto com instituições para estudar aumento de casos de tuberculose na América Latina (Foto: Reprodução/Pinterest/@Telemedicinamorsch)

Estudo realizado pela Fiocruz e instituições parceiras

A pesquisa foi publicada na revista científica “The Lancet Public Health” na última terça-feira (15) e verificou o impacto da epidemia de tuberculose na população, além de analisar o efeito fora das prisões, uma vez que as cadeias de transmissão afetaram também a população geral.

Com dados coletados de 1990 a 2023, o principal objetivo do estudo foi entender o aumento de casos nas prisões e seu impacto na saúde pública. A pesquisa abrangeu seis países que representam 80% da população carcerária na América Latina, que também concentram 80% dos casos de tuberculose em áreas próximas.

Na América Latina, a clausura é responsável por 27% dos casos da doença. No Brasil, esse fator é ainda mais alarmante, representando 35% dos casos nacionais, superando até mesmo o total de pessoas vivendo com HIV/Aids.

O Ministério da Saúde, por meio do programa Brasil Saudável, destacou que a tuberculose está entre as 11 doenças que precisam ser reduzidas e eliminadas. Esses objetivos são apoiados por Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da UFMS, que enfatizou a necessidade de ações mais eficazes voltadas para a população encarcerada.

Segundo Croda, a meta é alcançar uma redução de 75% até 2030, reconhecendo que a eliminação total não será viável, mas uma redução significativa é possível. Ele ressalta que, dado que 25% dos casos de tuberculose na América Latina estão nas prisões e 40% no Brasil, é crucial alcançar essa parte da população de maneira assertiva; do contrário, a diminuição dos casos será inviável.

Por que os casos de tuberculose se intensificaram

As pessoas que estão encarceradas podem ser mais suscetíveis à tuberculose por várias razões. Muitas delas já estavam em risco de contrair a doença antes mesmo de serem presas, além das condições prisionais, que incluem ventilação precária, superlotação, desnutrição e acesso limitado à saúde. Esses fatores fazem com que a incidência da doença nesses locais seja 26 vezes maior do que na população geral.

A estrutura da pesquisa utilizou modelos dinâmicos de transmissão, que foram ajustados com base em dados históricos e atuais sobre privação de liberdade e tuberculose nos países analisados.

Os resultados indicaram que, caso intervenções sejam implementadas em relação à privação de liberdade, os casos de tuberculose poderiam ser reduzidos em mais de 10% entre a população geral da Argentina, Brasil, Colômbia, El Salvador e Peru.

Como exemplo, 27,2% dos novos casos da doença em 2019 foram atribuídos ao encarceramento, uma porcentagem significativamente maior em comparação a outros fatores de risco, como HIV e desnutrição.

Os pesquisadores envolvidos neste estudo enfatizam que os ministérios da Justiça, agências internacionais de saúde e programas nacionais de controle da tuberculose devem colaborar para enfrentar a crise sanitária atual, adotando estratégias que considerem o desencarceramento como uma forma de controlar a doença.

Adicionalmente, afirmam que essas intervenções devem ser realizadas não apenas para reduzir o número de casos de tuberculose, mas também para pôr fim à privação de liberdade em massa.

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