Conheça os vírus zumbis: ameaças adormecidas há milhares de anos

Alexandre de Lima Olmos Por Alexandre de Lima Olmos
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O constante avanço do aquecimento global pode dar espaço a outro grande problema para a sociedade contemporânea: Os vírus zumbis. Essas espécies de patógenos adormecidos, que vem sendo objeto de estudo há décadas pelo virologista francês Jean-Michel Claverie, podem voltar a vida em meio ao aumento da temperatura mundial.

Sobre os Patógenos

A pesquisa desses patógenos antigos é administrado pela equipe de Claverie, professor emérito de Genômica e Bioinformática, que encontraram os espécimes nas profundezas das camadas do permafrost, localizado na Sibéria.

Esses vírus possuem quase 50 mil anos de existência, e apesar do perigo que apresentam, costumam ser menos lembrados em comparação com a emissão de gases com efeito estufa, outra consequência do derretimento do permafrost.

A investigação mais recente, feita pela equipe do francês em 2022, aponta que todos os vírus estudados são prejudiciais a saúde e infecciosos. Na visão do cientista, uma infecção viral de um espécime antigo e desconhecido pode ter efeitos sérios em humanos, animais ou plantas.

No total foram 13 vírus descobertos, com destaque para um que foi encontrado congelado debaixo de um lago há mais de 48.500 anos.


Jean-Michel Claverie durante uma pesquisaClaverie na sala de subamostragem no Alfred Wegener Institute, em Potsdam (Foto: Reprodução/Jean-Michel Claverie/IGS/CNRS-AMU)


Claverie já havia demonstrado, em 2014, que um vírus considerado vivo poderia ser extraído do permafrost siberiano, além de poder ser reativado.

Por enquanto, a pesquisa foca em vírus que possam infectar apenas amebas, ou seja, que não possam infectar seres humanos. Essas pesquisas acendem um sinal de alerta em relação à saúde pública.

A equipe de cientistas afirmou que o risco de exposição humana aos patógenos antigos ainda é muito baixo.

Isso porque o Ártico, local onde se encontra o permafrost, é pouco povoado, além de não existir uma certeza se esses vírus sobreviveriam as condições de hoje em dia, ou mesmo se eles encontrariam um hospedeiro compatível.

Por outro lado, vale ressaltar que o Covid-19, em comparação, era desconhecido até 2019, o que levou a sua letalidade por pegar todos de surpresa.

Essa não foi a única pesquisa do tipo. Em julho de 2023 uma outra equipe de cientistas reanimou uma lombriga de 46 mil anos. O verme foi encontrado no permafrost siberiano, e foi “revivido” ao ser reidratado.

“Doença X” e outros perigos

A Organização Mundial de Saúde (OMS) adotou a nomenclatura “Doença X”, que faz referências a epidemias internacionais causadas por patógenos desconhecidos. A intenção é lidar com doenças infecciosas o mais rápido possível. Um exemplo que se encaixa na definição é a Covid.

Na prática, a “Doença X” é a próxima grande enfermidade que irá aparecer. Dessa forma, não sabemos qual será, apenas que a população deve se preparar.

Essa mentalidade tem como foco criar medidas, incluindo vacinas e medicamentos, que possam combater ou até mesmo impedir o aparecimento de novas ameaças infecciosas. A “Doença X” faz parte de uma lista de agentes patogênicos de alta prioridade desde 2017.

Veja como está a lista atualmente:

-Covid-19

-Febre hemorrágica da Crimeia-Congo

-Doença do vírus ebola e febre hemorrágica de Marburgo

-Febre de Lassa

-Síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) e síndrome respiratória aguda severa (SARS)

-Vírus Nipah e doenças henipavirais

-Febre do Vale do Rift

-Zika

-Doença X


Geleira na IslândiaGeleira na Islândia (Foto: Reprodução/PublicDomainPictures/Pixabay)


Importância do Permafrost

O ponto principal do permafrost é a sua capacidade de preservar material orgânico, por ser natural, escuro, carente de oxigênio e com pouca atividade química. Esse solo pode chegar a ter um quilômetro de profundidade, como acontece na Sibéria.

Já foram descobertos diversos espécimes adormecidos na região. Em artigo publicado pela revista científica Nature, em 2021, foi relatado que um grama do solo é capaz de acolher milhares de espécies de micróbios.

Esse cenário cria uma precaução entre os cientistas do mundo. Na visão de Claverie, as pesquisas na região podem acelerar o processo de propagação desses patógenos antigos.

Essa possibilidade afetou um projeto de 125 milhões de dólares, que buscava vírus no Sudeste Asiático, na África e na América Latina. O medo de que os pesquisadores fossem infectados, e isso gerasse uma pandemia mundial, fez com que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) abandonasse a investigação.

 

Foto destaque: Exemplar de Pithovirus sibericum. Reprodução/Jean-Michel Claverie/IGS/CNRS-AMU

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