Doenças transmitidas por pets e 9 medidas de prevenção para se manter seguro

Kais Husein Por Kais Husein
16 min de leitura

Não se pode negar que os pets se tornaram membros essenciais de diversas famílias e estão recebendo cada vez mais atenção e afeto de seus donos humanos.

Isso é comprovado pelos dados estatísticos: de acordo com o mais recente levantamento do Instituto Pet Brasil, o país atualmente abriga 149,6 milhões de animais de estimação, o que representa o terceiro maior número globalmente.

Dessa forma, aproximadamente 70% dos brasileiros são responsáveis por cuidar de um animal de estimação ou, pelo menos, conhecem alguém que possui um.


Os brasileiros são responsáveis pelo cuidado de 70% dos pets. (Imagem: GladskikhTatiana/shutterstock)


Esse número tem aumentado gradualmente, mas deu um salto significativo durante a pandemia de COVID-19. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal, nos últimos dois anos, 30% dos animais de estimação foram adotados.

A presença de animais de estimação traz benefícios para a saúde e proporciona bem-estar. No entanto, é necessário tomar precauções para evitar que essa proximidade comprometa a saúde. Os animais podem transmitir diversas doenças, algumas delas graves e até fatais, como a raiva e a toxoplasmose.

Há mais de 200 doenças que se enquadram no conceito de zoonoses, que são problemas capazes de circular e afetar tanto seres humanos quanto outras espécies simultaneamente. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, cerca de 6 em cada 10 doenças infecciosas que afetam as pessoas são transmitidas por animais, incluindo os de estimação.

No entanto, isso não deve ser considerado uma razão válida para desistir da ideia de ter um animal de estimação em casa, ou pior, abandonar um animal que já faz parte da família.

Com algumas precauções simples, é viável reduzir consideravelmente o risco de entrar em contato com vírus, bactérias e outros agentes patogênicos que podem causar doenças transmitidas por animais, como você verá a seguir.

1. Agendar consultas regulares


Foto: Getty Images


Mesmo que o animal de estimação pareça saudável, é essencial agendar consultas veterinárias pelo menos uma vez por ano.

Durante a consulta, o veterinário realizará exames básicos e fará perguntas sobre a saúde do animal.

Essa é também uma ótima oportunidade para realizar dois cuidados essenciais para a saúde do animal. O primeiro deles é atualizar a vacinação. Existem vacinas que precisam ser administradas anualmente.

No caso de cães e gatos, a vacina mais importante é a antirrábica, que protege contra a raiva, uma doença viral com uma taxa de mortalidade próxima de 100%.

“A raiva é transmitida pela saliva e por meio de lambidas, mordidas ou arranhões de um animal infectado”, explica a veterinária Simone Baldini Lucheis, professora do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu, São Paulo.

Quando os animais estão com a vacina antirrábica em dia, isso não apenas os protege, mas também indiretamente protege seus tutores.

O segundo cuidado importante durante as consultas anuais é a desparasitação. Essa medida permite eliminar parasitas do organismo do animal.

Lucheis explica que um dos vermes mais comuns em cães e gatos é a larva migrans cutânea, que causa uma condição conhecida popularmente como “bicho geográfico”.

Esse nome deriva do fato de que essa larva pode penetrar na pele humana e se movimentar nas camadas superficiais do corpo, formando trajetos sinuosos semelhantes a mapas.

“Também é importante que os tutores recolham as fezes de seus animais sempre que saírem com eles em espaços públicos e parques”, acrescenta Lucheis.

2. Manter uma higiene rigorosa


Embora a bactéria Salmonella não seja prejudicial para répteis, como tartarugas, pode causar gastroenterite em humanos. (Foto: Getty Images)


Quando se trata de limpeza, é crucial prestar atenção especial aos recipientes de comida e água do animal, assim como às áreas onde ele faz suas necessidades. Além dos parasitas, esses locais podem ser fontes de contaminação por bactérias.

Uma das preocupações mais relevantes, especialmente no caso de gatos, é a Toxoplasma gondii, um micro-organismo que causa a toxoplasmose.

“Essa bactéria pode estar presente no trato gastrointestinal dos animais e ser eliminada por meio das fezes”, explica o médico Marcos Vinícius da Silva, responsável pelo Ambulatório de Doenças Tropicais e Zoonoses do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.

“Uma pessoa pode se contaminar com essa bactéria através do contato direto com as fezes, água não tratada ou alimentos mal higienizados e mal cozidos”, exemplifica.

Em certos casos, a toxoplasmose pode ser grave. É particularmente preocupante para mulheres grávidas, pois pode causar aborto espontâneo ou malformação fetal.

Para reduzir esse risco, os especialistas recomendam realizar exames de fezes para detectar a presença da Toxoplasma gondii em gatos. Esse teste é especialmente indicado para filhotes, que geralmente têm uma maior probabilidade de carregar essa bactéria.

Se a bactéria for detectada, existem tratamentos disponíveis para eliminá-la do organismo do animal.

Outra medida importante é manter a higiene das caixas de areia usadas pelos gatos. Além de remover as fezes diariamente, é fundamental trocar a areia pelo menos duas vezes por semana e limpar o recipiente com água e sabão a cada vez.

E, é claro, é essencial lavar bem as mãos após fazer essa limpeza, a fim de evitar que as bactérias contaminem outras superfícies ou alimentos.

A preocupação com mulheres grávidas é tão grande nesse caso que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos sugere que elas evitem limpar a caixa de areia durante os nove meses de gestação.

3. Organizar o ambiente

O ambiente onde os objetos dos animais de estimação são mantidos é outro aspecto importante para evitar a contaminação por bactérias e outros patógenos que causam infecções.
Por exemplo, a caixa de areia dos gatos ou o tapete higiênico dos cães devem ser mantidos o mais distante possível da cozinha e despensa.

Quanto aos animais que fazem suas necessidades em qualquer lugar, eles podem passar por treinamento de adestramento.

Os resíduos devem ser recolhidos sempre que possível, e a área suja deve ser limpa e desinfetada com água sanitária ou outros produtos bactericidas.

Isso também se aplica aos tutores de animais de espécies menos comuns. Por exemplo, tartarugas frequentemente excretam a bactéria Salmonella, que é uma das principais causadoras de infecções gastrointestinais em seres humanos.

4. Dar atenção especial aos quintais


A leptospirose, uma doença transmitida pela bactéria presente na urina de ratos, pode representar um risco à saúde humana. (Foto: Getty Images)


No contexto da organização, os espaços externos das residências também exigem cuidados especiais.
Silva, que também atua como consultor de zoonoses do Ministério da Saúde, destaca que essas áreas frequentemente são pontos de contato entre animais de estimação e animais silvestres.

“Há risco de caça e captura de morcegos que migram para áreas urbanas ou contato com a urina de roedores”, explica o médico e professor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

A urina de ratos e camundongos pode conter a bactéria Leptospira, que causa a leptospirose.

Essa bactéria pode penetrar na pele ou mucosas e causar desde sintomas leves de febre até hemorragias graves.

Para evitar esse problema, o primeiro passo é prestar atenção especial aos quintais. Medidas básicas incluem a instalação de telas em ralos ou saídas de tubulações, armazenar a ração dos animais de estimação em locais seguros e de difícil acesso, não acumular lixo ou entulho e realizar limpezas periódicas.

Durante a limpeza, é recomendado usar equipamentos de proteção, como botas de borracha, para evitar o contato da pele com a Leptospira.

Lucheis ressalta que, no caso da leptospirose, existe uma vacina disponível para cães, que deve ser administrada a cada doze meses.

A leishmaniose é outra doença preocupante no mundo canino. Esse protozoário é transmitido pela picada de mosquitos, que tendem a se reproduzir em matéria orgânica em decomposição, como folhas secas acumuladas no jardim. Evitar o acúmulo de lixo é uma maneira de prevenir a doença.

“Como medida adicional de prevenção, é possível utilizar coleiras com repelentes nos cães e vaciná-los contra a leishmaniose”, orienta Lucheis.

5. Utilizar o transporte apropriado


A psitacose, uma doença transmitida por calopsitas e outros psitacídeos, pode representar um risco à saúde humana. (Foto: Getty Images)


Silva relata um caso em que teve que atender uma família – um casal e um idoso – que decidiu viajar de carro de São Paulo para Mato Grosso com uma calopsita.
“O problema é que aves da família dos psitacídeos, como a calopsita, periquitos e papagaios, possuem uma bactéria em seus intestinos que é liberada nas fezes quando estão sob estresse”, explica ele.

“A ave foi colocada no porta-malas, eles viajaram com as janelas do carro fechadas e o ar-condicionado ligado durante todo o trajeto.   O micro-organismo acabou circulando pelo ambiente e os três ficaram doentes”, acrescenta.

Esse quadro causado pela bactéria é conhecido como psitacose e pode evoluir para formas graves de pneumonia.

“O transporte de animais de um local para outro deve ser sempre realizado em condições adequadas, em locais seguros e com os equipamentos corretos”, orienta o infectologista.

6. Ter cuidado com a introdução de novos animais

Se você já possui um ou mais animais de estimação e decide adotar um novo, é importante ter precaução no primeiro contato entre eles.
O novo animal pode estar com alguma doença infecciosa e pode transmiti-la aos outros animais. Isso pode criar e fortalecer a cadeia de transmissão de bactérias e outros patógenos, que também podem afetar os seres humanos.

É necessário colocar o novo animal em quarentena, isolado dos demais, no início. Durante esse período, o tutor deve garantir que o animal tenha passado por uma avaliação veterinária, realizado exames, esteja com as vacinas em dia e tenha recebido tratamento contra vermes.

Esse período de isolamento também é importante para observar qualquer sintoma suspeito no comportamento, corpo, alimentação, sono, urina e fezes do novo animal.

7. Evitar certas brincadeiras

Uma recomendação do CDC dos Estados Unidos sugere que os tutores evitem acostumar os animais com certas brincadeiras, especialmente aquelas que envolvem “lutinhas” ou movimentos que estimulem mordidas ou arranhões.
Em muitas ocasiões, mesmo com as melhores intenções, o animal de estimação pode ferir a pele do tutor com suas garras ou dentes. Essas feridas podem se tornar portas de entrada para vários agentes infecciosos presentes nas patas ou boca dos animais.

Um exemplo disso é a esporotricose, uma doença causada por fungos do gênero Sporothrix, que pode ser transmitida por gatos e cachorros.

Portanto, os especialistas recomendam o uso de objetos intermediários nas brincadeiras. Por exemplo, cães adoram correr atrás de bolinhas ou brinquedos de pelúcia, enquanto os gatos gostam de brincar com gravetos com guizos ou fios amarrados. Isso ajuda a evitar o contato direto entre as garras e dentes dos animais e a pele do tutor.

8. Realizar a castração

Além de ser um procedimento simples e seguro que evita reprodução indesejada, a castração também oferece outros benefícios. Em espécies como gatos, que têm comportamento territorial e podem participar de brigas durante a época reprodutiva, a castração ajuda a inibir esse instinto agressivo. As brigas entre animais podem resultar em mordidas e arranhões, que são fontes de transmissão de vírus, bactérias, fungos e outros agentes infecciosos. Ao castrar o animal, esse comportamento agressivo é reduzido, proporcionando indiretamente uma proteção contra zoonoses.

9. Observar a saúde do animal de estimação

Mesmo com todos os cuidados mencionados anteriormente, os animais de estimação ainda podem sofrer com doenças infecciosas que também podem afetar os humanos. Portanto, é importante ficar atento a possíveis sinais de desconforto, a fim de fazer um diagnóstico precoce e iniciar o tratamento o mais rápido possível.

Os profissionais de saúde recomendam que os tutores realizem uma checagem geral no animal pelo menos uma vez por semana. Durante essa verificação, é importante observar se há lesões na pele, especialmente nas patas e orelhas, se há falhas no pelo ou nas penas, alterações de comportamento, mudanças na consistência das fezes, entre outros sintomas.

Se esses sinais preocupantes não melhorarem após alguns dias, é recomendado procurar um veterinário para uma avaliação mais detalhada.

Ter um animal de estimação exige atenção e cuidado constantes com sua higiene e saúde. A interação com os pets demanda responsabilidade do tutor, que deve adotar medidas de guarda responsável e prevenção de doenças zoonóticas, concluem os especialistas.

Foto destaque: Animais de estimação dividem os mesmos espaços da casa e estão cada vez mais próximos de seus tutores.(Foto/reprodução: Getty Images)

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