Estimativas publicadas no último mês no periódico científico The Lancet apontam que o número global de pessoas com diabetes deve chegar a 1.3 bilhão até 2050. Em 2021, cerca de 529 milhões de pessoas sofriam com a doença, ou seja, o número de casos da condição deve mais do que dobrar em menos de 30 anos. “A projeção é muito preocupante, uma vez que os rins e o coração estão entre os principais afetados pelo diabetes. A doença renal é 10 vezes mais comum em diabéticos, pois ocorre um evento conhecido como hiperfiltração do sangue nos rins. Por isso, pacientes diabéticos devem contar com ajuda do nefrologista para controlar a doença e evitar danos renais
Além disso, pacientes diabéticos têm um risco três a quatro vezes maior de sofrer algum evento cardiovascular”, explica Dra. Caroline Reigada, médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Diabetes é um termo genérico para várias condições que envolvem níveis elevados de açúcar no sangue. Ela pode ocorrer por defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas, pelas chamadas células beta. A função principal da insulina é promover a entrada de glicose para as células do organismo de forma que possa ser aproveitada para diversas atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação resulta, portanto, em acúmulo de glicose no sangue, o que chamamos de hiperglicemia”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Até 2050
A publicação aponta o rápido aumento dos índices de obesidade e desigualdade no acesso à saúde como as principais causas para o crescimento no número de casos de diabetes no futuro. E, segundo os autores, a maior parte desses casos é constituida pela diabetes tipo 2, que é caracterizada pela secreção prejudicada de insulina e aumento da resistência insulínica. “A doença é responsável por mais de 2 milhões de mortes anualmente e é a sétima causa de incapacidade em todo o mundo”, explica a médica nutróloga.
A condição, quando não controlada, pode trazer consequências negativas para todo o organismo, incluindo visão, nervos e membros inferiores, além de provocar desidratação, dificuldade de cicatrização e complicações respiratórias. E os rins e o coração estão entre os principais afetados. “O diabetes é uma doença extremamente inflamatória, em que a quantidade exagerada de glicose no sangue é capaz de provocar a hiperfiltração do sangue nos rins (a chamada hiperfiltração glomerular). Além disso, ele eleva a concentração de produtos de glicosilação (processo no qual açúcares são adicionados em proteínas e lipídios, transformando-os em glicoproteínas e glicolipídeos) avançada, os maiores responsáveis pelas complicações do diabetes. Quando estes produtos ficam ativados pelo sistema imunológico, aparecem as doenças dos vasos sanguíneos e dos nervos, assim como os prejuízos renais. São as denominadas complicações micro e macrovasculares do diabetes. Isto é, alteração dos vasos menores, como dos rins e da retinas (microvasculares, e dos grandes vasos e do coração (macrovasculares)”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada. No mundo, 44% dos portadores da doença desenvolvem a doença renal crônica.
Controle
Por isso, é fundamental que os pacientes já diagnosticados com diabetes mantenham a doença sob controle. “O controle do diabetes, que apresenta fácil diagnóstico (um simples exame de sangue), deve objetivar, na maioria dos casos, uma hemoglobina glicada menor que 7%”, afirma a Dra Caroline Reigada. E quem ainda não sofre com a doença deve realizar exames regularmente para detectar qualquer possível alteração precocemente. “Lembre-se que o diabetes pode ser uma doença insidiosa. O diagnóstico do pré-diabetes e seu tratamento é a melhor forma de evitar complicações”, acrescenta a nefrologista.
Mas o melhor caminho é não medir esforços para prevenir o diabetes. “A modificação intensiva do estilo de vida continua sendo a melhor maneira de reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo 2. É necessário melhorar hábitos alimentares, incluir exercícios físicos, melhorar hábitos de sono, evitar alcoolismo e tabagismo. E, na prevenção e tratamento da síndrome metabólica, o exercício físico é considerado de grande importância. Tal intervenção, comprovadamente, melhora a tolerância à glicose e reduz a resistência à insulina. A prática moderada de exercícios aeróbicos e de força é indicada para todos, mais ainda mais para pré-diabéticos e portadores de síndromes metabólicas, desde que seja frequente e obedeça a uma periodicidade. Atividades de flexibilidade e relaxamento, associadas às de força e aeróbicas, também trazem impactos positivos. O mais importante é sair do sedentarismo”, completa a Dra. Marcella Garcez.
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