A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, em outubro de 2020, que a melatonina seja utilizada no país em forma de suplemento alimentar. No entanto, agora, pouco mais de um ano após o primeiro decreto, é permitida também a sua comercialização em farmácias brasileiras, o que antes só era possível através da importação ou da compra em laboratórios de manipulação, o que aumentava o seu custo para o consumidor final.
A fabricante Macrophytus foi uma das primeiras a anunciar a sua pré-venda no Brasil. A entrega dos produtos já vendidos estão já sendo entregues a partir desta semana para 4.386 farmácias e 116 distribuidoras, chegando ao total de 85 mil frascos vendidos. A sua concorrente, a Equaliv, já está sendo comercializada em quase todo o país, e para não acabar ficando sem estoque, a empresa afirma sempre realizar reposições. Até então o novo produto está sendo um sucesso de vendas.
A melatonina é mais conhecida por ser um hormônio do sono, mas a substância possui uma importância muito mais importante do que geralmente se sabe. A melatonina é a principal colaboradora pelo ciclo biológico de quase todos os seres vivos, sendo capaz de regularizar o ritmo circadiano de uma pessoa e auxiliá-la em suas atividades químicas, físicas e psicológicas. Desta forma, ele é capaz de trazer esse organismo ao estado de repouso mais rapidamente, reduzindo a sua atividade cardiovascular, da pressão, da temperatura corpórea e da frequência cardíaca.
Apesar de muito promissor no tratamento de insónias, Bruno Halpern, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), esclarece que não é bem assim:
“Não é o hormônio do sono, é o hormônio da noite, é diferente. É o mensageiro que avisa o corpo que é noite e as funções vão além de fazer dormir: o fígado para de produzir glicose e o pâncreas diminui a produção de insulina, por exemplo.”
O endocrinologista acredita que a melatonina deveria ser vendida como um remédio, com bula e um devido controle da Anvisa, como também declara que a melatonina não costuma ter muitos efeitos colaterais. Além disso, o médico esclarece ainda que a melatonina é mais efetiva naqueles que já possuem a deficiência do hormônio do que aqueles que apenas possuem insônia.
Uma das maiores causas da baixa desse hormônio é a chegada da velhice (a partir de 60 anos), onde sua produção cai em 25%, no período menstrual ou em casos de distúrbios endócrinos. Outros fatores mais atuais, como o uso constante de computadores e celulares e estar em ambientes muito iluminados até tarde, tornou-se muito mais comum entre os jovens, eles acabam por também serem afetados mais facilmente pela falta de sono, uma vez que esses hábitos estimulam o cérebro e os inibem o sono.
Luz emitida pela tela interrompe produção de melatonina | Foto: Freepik / Divulgação / CP Memória
O hormônio é muito utilizado também em casos de distúrbio de ritmo circadiano, que são pessoas que só conseguem dormir de madrugada e acordar depois das 10 horas da manhã e jet lags, que é um outro distúrbio do sono devido a mudanças repentinas de fuso horário. É útil também em casos em que a pessoa é obrigada a acordar de madrugada e precisa dormir mais cedo para poder repor o sono. Nessas situações, o aconselhado é tomar a substância antes de dormir, de preferência no mesmo horário e esperar o corpo relaxar. A sua efetividade começa, geralmente em 15 dias. Bruno e a pesquisadora, Dalva Poyare alertam ainda que é necessário conhecer bem primeiro a causa da ausência de sono e suas formas corretas de uso.
“Não é um remédio universal para insônia. É preciso avaliar vários fatores: será que a pessoa produz pouca melatonina? Ou será que a causa do problema para dormir dela é outra? Ela pode ajudar com a vantagem de mexer menos com a arquitetura do sono do que os remédios para dormir. Se a pessoa tomar remédio num dia e no outro a melatonina, certamente dormirá mais rápido com o remédio que induz sono, mas tem mais efeitos futuros”, declara Halpern.
“A melatonina não vai ajudar todas as pessoas que têm problema de sono. É preciso entender o que está acontecendo e se ela tem como melhorar isso. Ela pode consolidar o ritmo biológico, mas tem que tomar direito, que significa ter horário fixo para dormir toda noite. Se quiser adiantar o ritmo, tem que tomar mais cedo”, conclui Poyare.
Alerta!
Segundo a Anvisa, os suplementos não podem ser consumidos por gestantes, lactantes, crianças e pessoas envolvidas em atividades que requerem atenção constante. O uso máximo diário recomendado para pessoas com 19 anos ou mais é de até 0,21 mg. A superdose poderá deixar o usuário com a sensação de estar sedado ainda na manhã seguinte, o que é ruim, já que para levantar de forma natural é preciso ter pouca melatonina no sangue.
Foto Destaque: Especialistas recomendam buscar orientação profissional antes de começar a consumir suplemento. Reprodução/ George Frey/Reuters