A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no início dessa semana a primeira injeção contra a obesidade. O medicamento semaglutida, com nome comercial de Wegovy, é indicado para o tratamento de adultos com sobrepeso e obesidade, a partir de uma aplicação semanal sob supervisão médica. O valor de tabela do Wegovy nos Estados Unidos, onde o medicamento é atualmente comercializado, foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) e fica em torno de US$ 1.349 dólares, cerca de 7 mil reais.
O Novo Nordisk, que é o fabricante Brasileiro, afirma que não há estimativa de preço do Wegovy no país “ainda visto que o mesmo está em definição pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos”.
Por enquanto, a farmacêutica produz o medicamento em suas plantas industriais fora do Brasil onde são importados. Mas segundo a empresa, a aprovação pela Anvisa é o primeiro passo para o lançamento do medicamento no país. Porém, sem ainda uma data definida para que o medicamento chegue ao mercado.
“Após a análise de conformidade pela Anvisa, deve-se aguardar a finalização de outros processos, como a definição de preços pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos e mesmo logísticos”, diz um comunicado da Novo Nordisk.
Imagem promocional americana do medicamento Wegovy (Foto: Reprodução / G1)
Tratamento complementar
De acordo com a Anvisa, a semaglutida é indicada apenas como um tratamento complementar junto a uma dieta hipocalórica e exercício físico para controle de peso, incluindo perda e manutenção do mesmo.
O uso recomendado é apenas para indivíduos adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) inicial de: ≥ 30 kg/m2 (obesidade), ou ≥ 27 kg/m2 a < 30 kg/m2 (sobrepeso) na presença de pelo menos uma comorbidade, como por exemplo, disglicemia (pré-diabetes ou diabetes tipo 2), hipertensão, anomalias nos níveis de lipídios no sangue, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular.
O Wegovy atua na modificação de um receptor específico, GLP-1 (GLP-1 RA), com 94% de semelhança com o hormônio humano GLP-1 que é produzido naturalmente. A molécula induz a perda de peso, reduz a fome, aumenta a sensação de saciedade, contribuindo para que o indivíduo coma menos e reduza a ingestão calórica.
O medicamento tem posologia inicial de 0,25mg, uma vez por semana, e deve ser ajustado gradualmente ao longo de um período de 16 semanas, até atingir a dose de manutenção recomendada de 2,4mg uma vez por semana.
Contexto de autorização da Anvisa
A autorização da Anvisa tem como base resultados do programa de ensaios clínicos STEP (Semaglutide Treatment Effect in People with Obesity), onde foi revelado que pacientes que utilizaram a semaglutida (2,4mg) conseguiram uma perda de peso corporal média de 17%, em 68 semanas, contra 2,4% do grupo placebo (que não receberam a substância). Os resultados foram publicados no periódico científico JAMA.
Um em cada três pacientes perdeu 20% de seu peso corporal e 83,5% dos pacientes alcançaram uma redução de 5% ou mais com a utilização do Wegovy, contra 31,1% para placebo.
Entre os destaque dos estudos, a melhora dos índices cardiometabólicos foi um dos mais apontados, como também a redução da circunferência abdominal, hemoglobina glicada, triglicérides e a mais importante entre os pacientes de sobrepeso: pressão arterial.
“Com essa aprovação, entramos oficialmente numa nova era no tratamento da obesidade, com resultados de redução de peso nunca antes vistos”, disse Bruno Halpern, médico endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
Estilo de vida
Segundo Paulo Miranda, atual presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a terapia farmacológica recomendada para a perda de peso deve ter como base primária as mudanças de hábito de vida, seguidas de acompanhamento médico endocrinológico e de equipe multidisciplinar.
“O objetivo é que todo o processo de tratamento e controle das comorbidades dos pacientes seja atendida, gerando ganhos de saúde e preservação, com melhoria global do estado geral do paciente e não apenas como a visão numérica de perda de peso ou mesmo estética”, alerta.
Segundo dados da World Obesity Federation, existem cerca de 764 milhões de pessoas vivendo com obesidade no mundo. O estudo estima que até 2030, uma em cada 5 mulheres e um em cada 7 homens terão obesidade, chegando a 1 bilhão de pessoas com obesidade globalmente.
No Brasil, a expectativa é que 29 milhões de mulheres, 21 milhões de homens e 7,7 milhões de crianças tenham obesidade até 2030, representando cerca de 30% da população. Atualmente, 100 milhões de pessoas possuem sobrepeso e 41 milhões convivem com a obesidade no país.
Foto Destaque: 764 milhões de pessoas vivem com obesidade no mundo. Reprodução/CNN