Conflitos e discussões rotineiras em um relacionamento são comuns, mas quando um dos envolvidos usa sua malicia para manipular o outro, o fazendo questionar seu senso de certo e errado ou de como ele enxerga a realidade dos fatos.
O mais comum quando pacientes buscam tratamento psicológico para lidar com uma pessoa gaslighter, é relatar que eles induzem seus parceiros a se perguntarem se seus pontos de vista no relacionamento são os certos:
“Ele/ela realmente disse essas coisas ou estou reescrevendo a história?”
“Sempre tentei manter a mente aberta. Eu estive errado sobre mim mesmo esse tempo todo?”
Esses questionamentos são oriundos do comportamento de uma pessoa gaslighter, que geralmente busca invalidar os sentimentos do parceiro a chamando de insensível, exagerada nas opiniões, culpar você por sua ação mesmo não tendo sentido, inferiorizando ou diminuindo seu valor (“Você é estúpido”, “Você não entende…”) e muitas vezes mentindo sobre um acontecimento ou mascarando a verdade com suas palavras.
A identificação de um gaslighter vem na maioria dos casos de outra pessoa que ele desvaloriza, porque segundo pesquisas recentes, eles não têm empatia e consciência de si o suficiente para perceber o mal que estão fazendo aos outros. Padrões de personalidade retraídos, impulsivos, com baixa autoconsciência, emocionalmente indisponíveis, distraídos e irresponsáveis são os que mais praticam o gaslighting. Essas situações são criadas geralmente por traumas ou relacionamentos antigos e conturbados, que hoje se fazem presentes no comportamento manipulador do indivíduo.
Toda via é inadmissível qualquer tipo de justificativa para comportamentos abusivos, e saber identificar e lidar com as situações criadas pelo gaslighters é primordial para evitar relacionamentos deturbados. Precisamos falar diretamente ao causador do desconforto, sendo claro de como suas ações estão nos diminuindo e intoxicando a relação, caso contrário a pessoa pode não perceber o mal que está causando, e tende a piorar com o passar do tempo.
Quando numa conversa sentimos que o comentário de alguém está tentando determinar o que devemos sentir, devemos responder reafirmando nosso direito a ter sentimentos diferentes uns dos outros, e que acima de tudo isso tem que ser respeitado em qualquer relação.
Representação da mudança no modo de enxergar a realidade de uma pessoa sofrendo gaslighting (Foto: Reprodução/Cleveland Clinic)
Devemos nos desvencilhar e acabar conversas rotineiras que sabemos que não vai levar a lugar nenhum. É preciso ser decisivo em nossas palavras para que mentiras não sejam aceitas, mas que haja a compreensão que ambos têm uma lembrança diferente da situação, o que não os permite entrar em consenso na discussão, o que a torna irrelevante e necessariamente evitável.
É necessário estabelecer limites de comportamentos quando o gaslighting se torna rotineiro e desgastante. Essas medidas devem ser tomadas para preservar nossa segurança e bem-estar, porque o parceiro pode muitas vezes não querer se desvencilhar do poder que ele tem estabelecido na relação, intensificando os comentários maliciosos, partindo para agressões ou usando outros jeitos de diminuição.
Estabelecer quais palavras não podem ser usadas numa conversa, conversar com o parceiro apontando seus hábitos e comportamentos tóxicos, convencê-lo que para solucionar seu problema é necessário acompanhamento de terapia e profissionais especialistas, que darão uma visão desenviesada do relacionamento, permitindo que os gaslighters enxerguem a situação e fiquem verdadeiramente cientes de suas ações.
Reflexões constantes sobre nossas relações e consultas regulares a terapeutas, são necessárias para que evitemos entrar em convivências abusivas que diminuam nosso senso de certo e errado. Caso o parceiro não ligue para suas inciativas e esforços para melhorar sua convivência negativa, é preciso por um fim ao relacionamento, para que então seja possível o crescimento próprio e felicidade individual.
Foto destaque: Desenho representando alguém sendo manipulado por um gaslighter Reprodução/Vantage Circle
