Uma pesquisa realizada no Brasil mostrou que é possível calcular a população previamente infectada (soroprevalência) por COVID-19 com o uso de amostras de sangue. Segundo os cientistas, o método possibilita que outros tipos de doenças sejam rastreadas e que se calcule a imunidade coletiva.
Foram analisadas 97.950 amostras de sangue vindas de oito capitais brasileiras (Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Manaus, Fortaleza e Curitiba). O período analisado na pesquisa foi de março de 2020 até março de 2021. Os cientistas do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde) chegaram à conclusão de que a epidemia de COVID-19 no Brasil foi heterogênea. Atingiu públicos diferentes em momentos distintos. Os primeiros foram homens e jovens.
“No início, algumas linhas de investigação achavam que todos se infectavam ao mesmo tempo, mas mostramos que isso não é verdade. Em termos de retrato da epidemia concluímos que houve uma heterogeneidade extrema no Brasil, com diferenças de infecção por grupos e uma variação extensiva da taxa de letalidade. Esse era um resultado que não esperávamos”, informou à CNN Brasil o pesquisador Carlos Augusto Prete Junior, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores do artigo.
Os cálculos de soroprevalência costumam ser feitos utilizando amostras aleatórias da população. É um processo mais caro e mais complicado. Isso é importante para analisar a epidemia e criar políticas públicas na intenção de controlar um vírus.
O estudo foi parte do doutorado de Prete Junior, orientado pelo professor Vitor Heloiz Nascimento, da Poli. A co-orientadora é Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina da USP e responsável pelo Cadde no Brasil. Cientistas do Imperial College London e da Universidade de Oxford, do Reino Unido, participaram da pesquisa.
Ester e Vitor também são autores do trabalho, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por meio do Cadde e da bolsa concedida a Prete Junior. A pesquisa contou com financiamento do Instituto Todos pela Saúde e foi publicada na revista científica eLife.
Foto destaque: Amostra de sangue. Reprodução/Depositphoto