Quatro boas notícias que podem trazer esperanças aos pacientes oncológicos

Alice Cassimiro Por Alice Cassimiro
10 min de leitura

Aconteceu neste mês o Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), o maior congresso de oncologia do mundo, que apresentou diversas novidades acerca do tratamento e evolução de tumores que afetam várias partes do corpo – do cérebro ao reto – das células imunes ao pulmão.

Anualmente, milhares de médicos e pesquisadores da área se reúnem em Chicago, nos Estados Unidos, para conhecer as últimas novidades no diagnóstico e no tratamento de diversos tipos de cânceres.

Após três anos tendo encontros virtuais ou híbridos por conta da pandemia de covid- 19, as sessões voltaram a acontecer de forma presencial em 2023.

Na edição deste ano, a conferência trouxe uma série de boas notícias e avanços referentes a maneira que a  Medicina lida com diversos tipos de cânceres e seus efeitos no corpo dos pacientes acometidos pela doença.

Em 2023, tiveram quatro estudos principais divulgados durante o evento. Eles trouxeram novidades para o tratamento de tumores de pulmão, cérebro, reto e do linfoma de Hodgkin, um câncer que afeta as células do sistema defensivo.

De acordo com os médicos e pesquisadores que estiveram presentes na Asco, essas novas pesquisas possuem o potencial de mudar a forma como pacientes acometidos por essas enfermidades são tratados.

Câncer de pulmão: terapia-alvo para aumentar a taxa de  sobrevivência

O medicamento osimertinibe, da farmacêutica AstraZeneca, já é utilizado para indivíduos com um tipo específico de câncer de pulmão.


Câncer de pulmão. (Foto: Reprodução/ Adobe Stock)


No entanto, na Asco de 2023, os pesquisadores do Yale Cancer Center, nos EUA, conseguiram demonstrar que esse fármaco é capaz de aumentar a sobrevida dos pacientes que passaram por alguma cirurgia de retirada de tumor.

De acordo com os resultados, ele diminui pela metade o risco de morte quando comparado a um placebo, que é uma substância que não possui nenhum efeito terapêutico.

Os responsáveis pelo trabalho acreditam que os dados reforçam ainda mais  o uso do osimertinibe como tratamento padrão para casos como esses.

O oncologista William Nassib William Jr., líder da especialidade de tumores torácicos do Grupo Oncoclínicas, explica que essa medicação é utilizada para pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas, o tipo mais comum da doença neste órgão, que apresentam uma mutação num gene chamado EGFR.

Quando o tumor é diagnosticado nos estágios iniciais, geralmente os médicos fazem uma cirurgia para remover o tecido pulmonar que foi afetado.

Todavia, sempre fica o seguinte questionamento: será que restou alguma célula cancerosa no local?

Esse é um dos principais problemas que existem nos pacientes  após a operação, já que essas unidades microscópicas de tumores  podem crescer com o tempo e reativar a doença.

É para evitar esse tipo de cenário que os oncologistas costumam prescrever os chamados tratamentos adjuvantes. Eles tentam eliminar as células doentes que não podem ser removidas por meio de cirurgias.

Anteriormente, a quimioterapia era o principal método para exercer essa espécie de pente fino. Mais recentemente, surgiram as terapias-alvo- como o osimertinibe, por exemplo, que funcionam como mísseis e atacam apenas moléculas específicas do tumor.

Todavia, o uso dessas terapias mais modernas exige um exame que analisa o perfil genético do câncer e das mutações que acontecem ali.

O osimertinibe, por exemplo, funciona apenas em indivíduos que carregam o gene EGFR alterado.

Os resultados referentes a essa droga, apresentados na Asco 2023 e publicados em revistas científicas, mostraram que 85% dos pacientes que possuíam os critérios necessários e tomaram o osimertinibe sobreviveram até cinco anos.

O medicamento está aprovado para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ele ainda não está disponível na rede pública e nos planos de saúde é custeado apenas para os casos de câncer de pulmão mais avançados.

Glioma: uma  estratégia que pode adiar  a quimioterapia

O cérebro não é feito apenas de neurônios. O órgão responsável pela memória e pelo raciocínio conta com as células da glia, que são essenciais para o funcionamento e a proteção do sistema nervoso central.


Glioma. (Foto: Reprodução/Adobe Stock)


O problema é que elas também podem sofrer mutações e se transformar em câncer. Em casos assim, a doença é conhecida como Glioma.

E há um tipo dele que tem características bem particulares. O glioma de grau baixo  costuma ser mais devagar e menos agressivo,  geralmente, o paciente vive por  anos ou décadas após receber  o diagnóstico.

Essa área da Medicina não via novidades há muito tempo, mas,para a felicidade dos pacientes, isso mudou na Asco 2023, com a apresentação de um estudo que avaliou a vorasidenibe, do laboratório Servier, que também é uma terapia-alvo.

Os pesquisadores do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, nos EUA, mostraram que esse medicamento reduz em 61% o risco de progressão da doença ou de morte.

Além disso, o novo tratamento traz um segundo benefício. Ele posterga a necessidade de recorrer a outros recursos mais tóxicos para o corpo (como a quimio e a radioterapia) para controlar a proliferação das células cancerosas no cérebro,

Nos gliomas de baixo grau, evitar essa toxicidade é ainda mais relevante, haja vista que os principais acometidos por essa enfermidade são adultos jovens, que, provavelmente, sofreriam os efeitos colaterais desses recursos durante muito tempo.

O vorasidenibe atua especificamente quando há uma alteração nos genes IDH1 e IDH2.

Esse medicamento ainda não está disponível para uso e compra no Brasil.

Câncer retal: existe mais de um caminho para a cura

No universo do câncer colorretal, os tumores que têm origem no reto representam cerca de um terço de todos os casos existentes.


Câncer retal. (Foto: Reprodução/getty images)


A grande novidade dessa área foi apresentada ao público durante a Asco 2023.

Os cientistas do Memorial Sloan Kettering Cancer Center demonstraram que duas estratégias terapêuticas diferentes são capazes de chegar a um resultado semelhante: uma alta taxa de sobrevida e até cura após cinco anos de início do tratamento.

Neste estudo, uma parte dos voluntários com esse tumor localmente avançado, mas sem metástase, que é quando as células doentes se espalham para outras partes do corpo, passou por sessões de químio e radioterapia. Outra parcela que possuía as mesmas características foi submetida apenas à quimioterapia.

Os resultados obtidos por eles foram comparados entre si e mostraram efeitos positivos semelhantes: cerca de 80% dos participantes de ambos os grupos estavam vivos e livres da doença num período de 5 anos.

Segundo os  autores, a possibilidade de oferecer mais de uma possibilidade terapêutica proporciona poder aos pacientes, que podem ajudar na escolha da opção mais confortável fisicamente e psicologicamente para eles.

Linfoma de Hodgkin: um tratamento padrão que independe da idade 

Esse tipo de câncer afeta algumas células do sistema defensivo e acomete principalmente pessoas jovens, entre 20 e 30 anos.


Linfoma de Hodgkin. (Foto: Reprodução/getty images)


Em seus estágios mais avançados, o tratamento padrão envolvia sessões de quimioterapia e um medicamento chamado brentuximabe vedotina, da farmacêutica Takeda.

Especialistas do City of Hope Medical Center, também nos EUA, resolveram propor uma opção substitutiva para esse  esquema.

Eles testaram se a brentuximabe vedotina pode ser substituída pelo nivolumabe (da Bristol Myers Squibb), um tipo de imunoterapia da classe farmacológica que estimula o próprio sistema imunológico do paciente a identificar e atacar as células cancerosas.

Os dados iniciais deste trabalho revelaram que 94% dos pacientes que receberam o novo esquema terapêutico (nivolumabe+ químio) permaneciam vivos dentro de 12 meses. Já nos que seguiram a combinação anterior (brentuximabe vedotina+ químio), essa taxa ficou em 86%.

Outra grande vantagem do nivolumabe foi a maior tolerância dos pacientes para com os efeitos colaterais.

Os pesquisadores afirmam que é preciso observar os dois grupos por um tempo maior, porém, acreditam que os resultados obtidos servem de base para já modificar a forma com o linfoma de Hodgkin é tratado atualmente.

O nivolumabe já está aprovado para uso  pela Anvisa e é utilizado para o tratamento de alguns tipos de tumores. Ele é custeado por alguns planos de saúde e está disponível na rede pública apenas para alguns tipos específicos de câncer,  como o melanoma.

Foto destaque: Pessoa com câncer em tratamento. Reprodução/Getty Images

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