Apesar de der considerado, muitas vezes, “normal” roncar após uma rotina desgastante, não se trata de algo saudável para o organismo. Segundo o Dr. Gleison Guimarães, pneumologista especialista em medicina do sono pela Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS), o ronco é visto como uma obstrução parcial da via aérea, complicador da saúde e da qualidade do sono.
Primeiro, é preciso entender que o problema é causado pelo barulho da vibração dos músculos presentes nas vidas aéreas. O que normalmente acontece é que durante o sono, a língua, o “sininho” da garganta (úvula) e a parte atrás do céu da boca (palato mole) tendem a relaxar e se expandir, estreitando as vias aéreas. E é aí que surge esse ruído, com o relaxamento excessivo desses tecidos, que pode ser causado por diferentes fatores, como o consumo de álcool, o uso de medicamentos ou até mesmo a idade.
Riscos envolvidos
Especialmente em crianças, o ronco pode interferir na anatomia orofacial, elevar o céu da boca e causar alterações no nariz, como desvio de septo. Já um adulto que desenvolveu o hábito desde jovem também está propenso às complicações causadas pelas alterações crônicas.
“Além disso, o ronco pode aumentar as chances de que você desenvolva problemas futuros, como apneia“, pontua o membro da American Academy of Sleep Medicine (AASM) e da European Respiratory Society (ERS).
Estar obeso ou acima do peso pode influenciar nessa questão, assim como o consumo do álcool e remédios para dormir, que relaxam a musculatura e dificultam a passagem do ar. O cigarro inflama os tecidos da via e causa o mesmo efeito do ronco.
Com desvio de septo, a cavidade nasal fica mais estreita, favorecendo a obstrução das vias aéreas e as vibrações características do problema. Já a mandíbula recuada favorece o estreitamento das vias, pois influencia na posição de músculos como a língua. Amígdalas, língua ou palato mole grande também obstruem a passagem de ar. Além disso, a medida que se envelhece, os músculos tendem a relaxar e a se expandir.
Complicações
A intensidade e a regularidade do som produzido interrompem o sono da pessoa, resultando em noites mal dormidas, fadiga diurna, irritabilidade e até mesmo problemas de saúde a longo prazo.
Um ronco alto e prolongado pode ser sintoma de um distúrbio do sono grave, também conhecido como apneia obstrutiva do sono. Essa é a causa mais grave do ronco e ocorre quando nossas vias aéreas se estreitam a ponto de ficarem bloqueadas, quando ocorre a interrupção do fluxo de ar durante a noite por, pelo menos, 10 segundos.
De acordo com o Dr. Ullyanov Toscano, médico-cirurgião de cabeça e pescoço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a apneia pode aumentar o risco de hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC) e infarto, por exemplo. Além disso, é possível ter sonolência excessiva durante o dia, cansaço e dor de cabeça.
Tratamento
“Um dos tratamentos disponíveis para combatê-la é o “marca-passo” da língua. Ele funciona por meio de pequenos choques elétricos e impede o relaxamento da musculatura da língua e da faringe, não obstruindo a passagem de ar”, comenta o especialista.
Mesmo que seu parceiro não se importe com o seu ronco, vale a pena consultar um médico especialista em distúrbios do sono e falar sobre episódios frequentes. Nos casos em que há suspeita de apneia do sono, o médico pode realizar exames para determinar o quadro e orientar o melhor tratamento para a sua condição. A cirurgia robótica tem sido mais uma opção para esses casos.
Foto destaque: parceiro chateado pelo barulho causado pelo ronco. (Reprodução/Tonodiaz/Freepik)