Cientistas incluem dois problemas à lista de fatores de risco da demência

Lorena Camile Por Lorena Camile
6 min de leitura
Foto Destaque: Cientistas incluem dois novos problemas em lista para fatores de risco da demência (reprodução/ Freepik)

Em novo estudo publicado na revista médica The Lancet, cientistas incluem novos problemas para a lista de fatores de risco para a demência. Quase a metade dos casos que levam a esse transtorno podem ser evitados ao obter eliminação de comportamentos nocivos ou outros problemas médicos.

A possível prevenção da demência

Foi sabido pela nova pesquisa publicada que 45% dos casos de demência (enfraquecimento de funções cerebrais como memória, raciocínio e linguagem) pode ser evitado ao eliminar um específico grupo composto por 14 fatores de risco. Tal estudo, responsável por analisar o predomínio mundial da enfermidade, explicitou que o declínio das funções cerebrais advinda da demência está associada a outros problemas médicos ou comportamentos danosos.

Somando problemas distintos, como o Alzheimer e a demência fronto-temporal, por exemplo, e também casos resultantes de traumas cerebrais ou outros, o novo estudo apontou como a população poderia evitar esses problemas em um cenário geral. Não só avaliando de forma incisiva o peso desses fatores danosos, como déficit educacional, perda auditiva e isolamento social, os responsáveis pela pesquisa também incluíram mais duas condições que estão associadas: colesterol alto e a perda visual.

Por esses fatores se incluírem em períodos diferentes na vida do indivíduo, considerando também seu contexto de vida, há contribuição para elevar a chance de ocorrer a demência em algum momento. Problemas que aumentam a propensão de doenças cardiovasculares também são válidos, tais como obesidade, tabagismo, sedentarismo, excesso de álcool, diabetes e poluição. A depressão também faz parte desse cenário e pode aumentar o risco de problemas cognitivos.

De acordo com a pesquisa, em teoria, quase metade dos casos podem ser sim evitados, contudo, os 55% restantes ainda são associados a causas genéticas ou pouco conhecidas. Liderados pela psiquiatra Gill Livingston, do University College de Londres, os cientistas declararam que as descobertas são esperançosas e que embora seja difícil mudar hábitos e correlações possam ser causais, as novas provas transpassam a possibilidade de redução do risco da enfermidade e como a melhora pode surgir a partir de políticas públicas.


Representação do cuidado neurológico (Foto: reprodução/ Freepik)

A demência é conhecida por dominar países ricos justamente por terem uma proporção maior de idosos, contudo, existe a preocupação acerca de países em desenvolvimento. Mesmo que algumas nações não venham se desenvolvendo de forma acelerada, a população atual está vivendo mais e se torna mais tendente ao Alzheimer e outras formas de declínio cognitivo. O estudo ainda identificou que países mais pobres se previnem de forma pior e mais lenta, tendo uma parcela de casos “evitáveis” abrangente em meio ao predomínio geral de demências. De acordo com a professora da Universidade Federal de São Paulo, a psiquiatra Cleusa Ferri, também coautora do estudo, esse cenário é válido para o Brasil.

Segundo a cientista, em 2020, numa versão anterior da pesquisa da comissão do Lancet para a mesma enfermidade, o trabalho não incluía os novos fatores de risco (colesterol e perda visual), contudo, já era possível ver nos outros fatores existentes. Mundialmente, esses fatores explicavam 40% dos casos e, no Brasil, cerca de 48%. A coautora ainda faz parte do grupo que está aconselhando o Ministério da Saúde em políticas para o setor e afirma que deve rever esses números com os novos dados do Lancet, e assim fazer um recorte para a população brasileira. A probabilidade de que mais da metade das causas de demência sejam evitáveis é alta.

O que pode ser feito

Publicado no The Lancet, os cientistas listam também medidas de políticas públicas contribuintes na redução do domínio da doença na população. A série de possibilidades inclui combate ao alcoolismo e tabagismo, utilizando programas de estímulo a atividades intelectuais e físicas além do apelo para a melhoria da educação básica. A educação básica representa uma alternativa que pesa durante toda a vida na probabilidade de problemas cognitivos se tornarem presentes na vida de um ser humano. Há também fatores que aparecem tipicamente em determinados períodos da vida, como o sedentarismo — tendo os adultos como mais afetados — e o isolamento social, afetando os idosos.

“Abordagens de prevenção devem tentar diminuir os níveis de fatores de risco precocemente (ou seja, quanto mais cedo, melhor) e mantê-los baixos ao longo da vida”, apresentam Livignston e colegas. Eles completam que, apesar de destacar as oportunidades evitáveis em estágios iniciais sejam desejáveis, também existe benefícios em abordar o risco ao longo da vida, pois nunca é muito cedo ou tarde para reduzir o risco da demência.

Deixe um comentário

Deixe um comentário Cancelar resposta

Sair da versão mobile