Dengue: evolução do agente transmissor revela adaptação a condições desfavoráveis 

Sofia Souza Por Sofia Souza
4 min de leitura
Foto destaque: mosquito Aedes aegypti, agente transmissor da dengue (Reprodução/Freepik)

Desde que se deu início aos surtos de dengue no país, especialistas buscam explicações sobre quais seriam os motivos para chegarmos nesta nova onda. Nesse contexto, uma das explicações é a capacidade de adaptação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, a ambientes, até então, considerados inóspitos.  

Há tempos o Aedes vem se adequando ao ambiente urbano. Aos poucos, o mosquito foi se acostumando e se adaptando até a regiões que antes não tinha condições favoráveis à presença da espécie” 

Sérgio Luz, pesquisador da Fiocruz Amazônia, para o G1

Dessa forma, para os especialistas, o aumento do número de casos da doença no Brasil está relacionado às mudanças de comportamento por parte do mosquito transmissor. Para a professor de epistemologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, Maria Anice Mureb Sallum, o Aedes aegypti possui capacidade de adaptação juntamente a atuação do ser humano. “O mosquito evoluiu junto com o homem urbano. Ele foi se adaptando aos ambientes criados pelo homem de maneira muito efetiva”, afirma, também para o G1.


Agente descarta focos do mosquito Aedes aegypti no Distrito Federal. (Foto: reprodução/Gabriel Jabur/Agência Brasília)

Adaptações do mosquito

Especialistas pontuam principalmente três adaptações do Aedes aegypti que poderiam explicar o aumento do número de casos de dengue no país, são elas: a ampliação do período de circulação do mosquito, a ocupação de ambientes com clima que anteriormente eram considerados inóspitos à espécie e a capacidade de se reproduzir em água contaminada .

Sobre a ampliação do período de circulação do mosquito, anteriormente, havia uma preferência do agente transmissor pelo calor e pela luminosidade, por isso era muito comum ouvir que o mosquito só circulava durante o dia. No entanto, seu processo evolutivo permitiu que a transmissão também ocorresse à noite. Além disso, de acordo com os especialistas, o aquecimento global e a utilização de luminosidade artificial contribuíram para a adaptação da espécie. 

Não é mais aquele mosquito que pica só durante o dia. Ele se adaptou às diferenças climáticas e agora circula também em outros horários”, explica Sérgio Luz.

O fator das mudanças climáticas também contribui para a presença do mosquito em ambientes com clima que anteriormente eram considerados inóspitos à espécie. Isso porque, locais em que possuíam clima desfavorável à transmissão do mosquito ficaram mais quentes e passaram a ser favoráveis à presença do agente transmissor da dengue.

Com as alterações no clima e o aumento do período de dias mais quentes, há a presença do mosquito em áreas que antes não tinham condições ecológicas adequadas para o estabelecimento da espécie“, explica Maria Anice.

O agente transmissor da dengue também adquiriu capacidade de se reproduzir em água contaminada, o que não acontecia anteriormente, visto que a fêmea do Aedes aegypti somente colocava ovos em água limpa. Com a adaptação, já são identificados criadouros instalados em água contaminada por matéria orgânica e também em água salobra. 

Minas Gerais é o estado com maior de casos da doença

Até o fechamento desta reportagem, Minas Gerais é o estado que possui mais casos de dengue no país. Segundo o levantamento do Ministério da Saúde, são 179.334 casos confirmados da doença, 127 óbitos e 354 mortes em investigação.

No entanto, a disparidade entre os números apresentados pelo governo federal e pela Secretaria de Saúde de Minas Gerais revelam uma situação problemática. De acordo com os dados apresentados pelo governo estadual, são 152.440 casos confirmados, 49 óbitos e 270 mortes em investigação. Em comparação, a discrepância entre os números apresentados é de 26.894 em casos confirmados, 78 óbitos, além de 84 mortes em investigação.

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