O Rio Grande do Sul, antes conhecido pelo clima mais ameno que dificultava a circulação do Aedes aegypti, agora se torna um dos novos focos da dengue no Brasil. Até o dia 8 de maio, mais de 15 mil casos haviam sido confirmados e oito mortes registradas. A taxa de transmissão no estado já supera 2,08, número semelhante ao observado nos primeiros meses da pandemia de Covid-19.
Especialistas alertam que a expansão da doença no Sul é um reflexo direto do aquecimento global.
A dengue está se deslocando para áreas subtropicais e até para altitudes maiores. Se o mundo continuar aquecendo, epidemias poderão ocorrer em locais como Europa e Estados Unidos
explica Diego Xavier, da Fiocruz
Além disso, 474 municípios gaúchos estão infestados pelo mosquito — número superior ao registrado em 2024. Esse crescimento acende um alerta sobre como o cenário da doença está se transformando.
Um vírus impulsionado pelas mudanças climáticas
O aumento da temperatura média tem encurtado o inverno e antecipado a primavera, criando condições ideais para a sobrevivência do Aedes aegypti. Segundo a epidemiologista Cláudia Codeço, essas pequenas alterações já são suficientes para manter o ciclo do vírus ativo por mais tempo. Isso fez com que a dengue deixasse de ser uma doença sazonal em muitas regiões do Brasil.
Estudos indicam que o aquecimento global é responsável por quase 19% das infecções de dengue no mundo. No Brasil, as projeções do AdaptaBrasil apontam que, até 2030, metade dos municípios brasileiros pode enfrentar alto risco para arboviroses. As causas são diversas: urbanização desordenada, desmatamento, chuvas irregulares e acesso precário ao saneamento.
O desafio do combate: ciência, vacina e prevenção
Apesar da gravidade do cenário, novas estratégias têm trazido resultados positivos. Entre elas, o projeto Wolbachia, que utiliza uma bactéria para bloquear a transmissão do vírus pelo mosquito, já demonstrou eficácia em países como Indonésia e Austrália. No Brasil, o programa reduziu casos de dengue em até 70% em cidades como Niterói.
Além disso, vacinas como a Qdenga e a desenvolvida pelo Instituto Butantan ampliam as possibilidades de prevenção. No entanto, especialistas reforçam que apenas a tecnologia não basta: é preciso planejamento, educação e infraestrutura. “Educação e combate à desigualdade são passos essenciais. Mas é fundamental usar todas as ferramentas disponíveis”, conclui Diego Xavier. Com ações coordenadas e políticas públicas eficazes, ainda é possível reduzir o impacto das epidemias e evitar que a dengue continue ganhando novos territórios.