O atacante Luighi, titular e um dos principais destaques da equipe sub-20 do Palmeiras, foi alvo de atos racistas durante a vitória sobre o Cerro Porteño, na última quinta-feira (6), no Paraguai, em partida válida pela fase de grupos da Copa Libertadores da categoria.
Mais um caso de racismo no futebol
Enquanto deixava o campo em direção ao banco de reservas, um torcedor adversário, que segurava uma criança no colo, fez gestos imitando um macaco em sua direção. Além dessa manifestação racista, Luighi também foi atingido por uma cusparada.
Indignado com a falta de questionamentos sobre o ocorrido, o jogador desabafou após o jogo: “Não! É sério isso? Vocês não vão me perguntar sobre o ato de racismo que ocorreu comigo? É sério? Até quando vamos passar por isso? Me fala, até quando? O que fizeram comigo é crime, não vai perguntar sobre?”
O Palmeiras, por meio de nota oficial, condenou os atos racistas e garantiu que tomará todas as medidas cabíveis para que os responsáveis sejam punidos. “Racismo é crime! E a impunidade é cúmplice dos covardes. As suas lágrimas, Luighi, são nossas! A família Palmeiras tem orgulho de você.”, declarou o clube.
Em suas redes sociais, Luighi também se manifestou sobre o episódio: “Dói na alma. E é a mesma dor que todos os pretos sentiram ao longo da história, porque as coisas evoluem, mas nunca são 100% resolvidas. O episódio de hoje deixa cicatrizes e precisa ser encarado como é de fato: crime. Até quando? É a pergunta que espero não ser necessária em algum momento. Por enquanto, seguimos lutando.”
A Conmebol, responsável pela organização da Libertadores sub-20, informou ao portal Lance! que o caso será analisado. “Com certeza o caso será estudado. Após os laudos, será levado à unidade disciplinar. Tudo é um processo. Mas, como sempre, o estatuto é claro. A Conmebol é sempre contra todo tipo de discriminação.”, declarou a entidade.
Regulamento da Conmebol
Em maio de 2022, a Conmebol revisou o artigo 15 do seu código disciplinar, ampliando as sanções aplicadas a casos de discriminação. Veja:
1 – Qualquer jogador ou oficial que insulte ou ofenda a dignidade humana de outra pessoa ou grupo de pessoas, por qualquer meio, com base na cor da pele, raça, gênero ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem, será suspenso por um mínimo de cinco jogos ou por um período mínimo de dois meses.
2 – Qualquer associação afiliada ou clube cujos torcedores insultem, ou ofendam a dignidade humana de outra pessoa, ou grupo de pessoas, por qualquer meio, com base na cor da pele, raça, gênero ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem, será multado em pelo menos CEM MIL DÓLARES AMERICANOS (USD 100.000). O órgão judicial competente também pode impor a sanção de jogar uma ou mais partidas a portas fechadas, ou o fechamento parcial do estádio.
3 – E as circunstâncias particulares de um caso assim o exigirem, o Órgão Judicial competente poderá impor sanções adicionais à Associação Membro ou ao clube, jogador ou dirigente responsável.
CBF
Em comunicado oficial, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) condenou as ofensas racistas dirigidas ao atacante Luighi e anunciou que apresentará uma denúncia formal à Conmebol, exigindo medidas rigorosas contra os responsáveis.
“A CBF repudia veementemente a ofensa racista sofrida pelo atacante Luighi, do Palmeiras, no Paraguai. A entidade já acionou sua Diretoria Jurídica e fará uma representação à Conmebol, cobrando punições severas. O protesto será encaminhado ao presidente Alejandro Domínguez e à Comissão Disciplinar da entidade que rege o futebol sul-americano.”, destacou a CBF em nota oficial.
O presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, reforçou o posicionamento: “É revoltante testemunhar episódios como esse. Racismo é crime e precisa ser combatido por todos. Compreendo a dor sentida por Luighi. Basta de racismo no futebol. A CBF tomará providências junto à Conmebol para garantir punições exemplares.”
Apoio dos clubes brasileiros
Clubes brasileiros também demonstraram solidariedade ao jogador e exigiram medidas firmes para impedir que casos semelhantes se repitam. Entre eles, Corinthians, Santos e São Paulo, tradicionais rivais do Palmeiras, uniram-se em defesa do atleta e contra o racismo no esporte.
O Corinthians declarou: “O Sport Club Corinthians Paulista se solidariza com o atleta Luighi e reitera sua total repulsa aos atos racistas.”
O Santos também se manifestou: “O Santos Futebol Clube presta apoio ao jogador Luighi, do Palmeiras. (…) Estamos juntos nesta batalha para que situações como essa deixem de existir.”
O São Paulo reforçou o apoio ao atacante e cobrou providências: “Nossa solidariedade a você, Luighi. Sua coragem e posicionamento representam milhões que não suportam mais esses crimes. Que os responsáveis sejam punidos. (…) Basta!”
Outro clube que se pronunciou foi o Flamengo, também participante da Libertadores sub-20. Em nota, a equipe carioca repudiou o ocorrido e enfatizou a necessidade de um combate efetivo ao racismo: “O Clube de Regatas do Flamengo condena com veemência o crime de racismo sofrido pelo jogador Luighi, do Palmeiras, na partida da Libertadores Sub-20. Esse não é um caso isolado e continuará acontecendo enquanto a sociedade não entender que o racismo é crime e deve ser enfrentado de maneira firme. (…) Nos solidarizamos com Luighi e prestamos total apoio neste momento.”
Outros clubes do futebol brasileiro também prestaram solidariedade ao atacante Luighi, do Palmeiras. Porém, o questionamento que fica é: até quando clubes brasileiros (jogadores e torcedores) sofrerão casos similares ao de Luighi em competições da Conmebol? O que não faltam são exemplos de casos de racismo em competições da entidade. Não é com nota de repúdio que isso vai se resolver.