A temporada de 2023 do Campeonato Brasileiro voltou aos holofotes nesta semana após o indiciamento do atacante Bruno Henrique, do Flamengo, pela Polícia Federal. O jogador é acusado de ter provocado deliberadamente um cartão amarelo na partida contra o Santos, válida pela 31ª rodada da competição, favorecendo apostadores que teriam lucrado com a ação.
No jogo disputado no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, Bruno Henrique entrou em campo já pendurado com dois cartões amarelos. O Flamengo foi derrotado por 2 a 1 pelo Santos, e o atacante recebeu o terceiro cartão nos acréscimos do segundo tempo, após uma falta dura em Soteldo. Em seguida, reclamou com o árbitro Rafael Klein e acabou expulso.
Cartão suspeito e impacto esportivo
A conduta chamou atenção de casas de apostas, que identificaram movimentos anormais nas apostas voltadas especificamente ao recebimento de cartão por parte do camisa 27. Em uma das plataformas, 98% das apostas em cartões naquele jogo foram direcionadas a Bruno Henrique. Em outra, o índice chegou a 95%.
As investigações começaram em agosto de 2023, após os alertas emitidos por operadoras de apostas. Em novembro de 2024, a PF realizou operações de busca e apreensão, inclusive no CT do Flamengo. Celulares foram apreendidos e mensagens trocadas entre Bruno Henrique e outros investigados revelaram indícios de combinação. Em um dos diálogos, o irmão do jogador, Wander, questiona: “Quando vai tomar o terceiro cartão?”, ao que o atleta responde: “Contra o Santos”.
Conversas comprometedora e investigação
Além de Bruno Henrique, a Polícia Federal indiciou Wander Nunes Pinto Júnior, irmão do atleta, Ludymilla Araújo Lima, esposa de Wander, e a prima Poliana Ester Nunes Cardoso. Todos teriam realizado apostas relacionadas ao jogo. Um segundo grupo, formado por seis amigos de Wander, também foi implicado por participações no esquema.
Bruno Henrique e Wander foram enquadrados no artigo 200 da Lei Geral do Esporte, que trata manipulação de resultados, com pena prevista de dois a seis anos de prisão. Eles também foram indiciados por estelionato, com pena de um a cinco anos de prisão. Os demais investigados respondem apenas por este último crime.
Bruno Henrique durante jogo do Flamengo (Foto: reprodução/Ruano Carneiro/Getty Images Embed)
Flamengo mantém posição cautelosa
Apesar da gravidade das acusações, o Flamengo optou por não afastar o jogador. Em nota oficial, o clube afirmou não ter recebido comunicação formal sobe o caso e reforçou seu compromisso com o fair play, ressaltando a importância do devido processo legal e da presunção de inocência.
Bruno Henrique se pronunciou brevemente sobre o caso após a conquista da Copa do Brasil da temporada passada.
“Minha vida e trajetória, desde que comecei a jogar futebol, nunca foram fáceis, mas Deus sempre esteve comigo. Estou tranquilo em relação a isso, junto com meus advogados, empresários e pessoas que estão nessa batalha comigo. Peço que a justiça seja feita”, declarou.
STJD arquiva investigação esportiva
Em paralelo à investigação da PF, em agosto de 2024, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) também analisou a denúncia, mas decidiu arquivar o caso. Segundo o tribunal, não havia indícios suficientes de que Bruno Henrique tivesse obtido vantagem econômica com a situação, especialmente se comparado aos seus rendimentos como atleta profissional.
O relatório elaborado pela Polícia Federal será agora encaminhado ao Ministério Público do Distrito Federal, que decidirá se formaliza ou não a denúncia contra o jogador e os demais envolvidos. Enquanto isso, o foco esportivo segue dividido entre os gramados e os tribunais.