CNI revisa para baixo crescimento da indústria e alerta para impacto bilionário de tarifas dos EUA

A projeção de crescimento da indústria brasileira em 2025 foi reduzida de 2% para 1,7% pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta terça-feira (19), em Brasília. A decisão foi impulsionada pelos juros elevados e, principalmente, pelas tarifas de 50% impostas pelos EUA sobre produtos nacionais, o que pode gerar perdas superiores a US$ 5 bilhões nas exportações. Como resultado, o superávit comercial deve recuar 14% neste ano.

Tarifas americanas pressionam indústria e exportações

Segundo a CNI, a nova política tarifária dos Estados Unidos já causa reflexos negativos diretos na indústria nacional, especialmente nos setores mais dependentes do comércio exterior. De acordo com Mário Sérgio Telles, diretor de Economia da entidade, as tarifas impostas afetam a competitividade dos produtos brasileiros e reduzem significativamente a margem de atuação das empresas nos mercados internacionais.


Indústria (Foto: Reprodução/Patrick Hendry/Unsplash)

A previsão de exportações para este ano foi rebaixada para US$ 341,9 bilhões, impactando o superávit, que pode encerrar 2025 em US$ 56,6 bilhões, uma queda de 14% em relação ao ano anterior. Apesar de medidas paliativas terem sido anunciadas pelo governo federal, a CNI alerta que nenhuma compensação substituirá de forma efetiva o mercado americano para setores fortemente dependentes dos EUA.

Crescimento desigual entre setores industriais

Mesmo diante das adversidades externas, alguns segmentos devem apresentar desempenho positivo. A construção civil, puxada pelos investimentos no programa Minha Casa, Minha Vida, deve crescer 2,2%. Já a indústria extrativa segue favorecida pela alta na produção de petróleo, com expectativa de expansão de 2%.

Por outro lado, a indústria de transformação, principal motor da atividade industrial, deverá ter avanço tímido de apenas 1,5%, após ter crescido 3,8% em 2024. O setor de serviços também não deverá apresentar fôlego, com estimativa de alta de 1,8%, refletindo um cenário de incerteza generalizada e impacto direto no ritmo da recuperação econômica.

Trump adia tarifas contra a China por mais 90 dias

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prorrogou na segunda-feira (11), em Washington, por mais 90 dias a suspensão das tarifas de importação sobre produtos chineses, alegando avanços nas negociações comerciais com o país asiático. A medida ocorre poucas horas antes do fim do prazo original da moratória e foi formalizada por meio de uma nova ordem executiva.

A decisão, segundo fontes da Casa Branca citadas por veículos internacionais, estende até 9 de novembro a trégua que impediu a aplicação de uma tarifa de 145% sobre bens chineses. Imposta brevemente em maio. O gesto diplomático, segundo o governo americano, visa manter o ambiente de diálogo e evitar o agravamento da guerra comercial que ameaça cadeias de suprimentos globais.

Uma trégua tensa em meio à disputa comercial

O acordo original entre os dois países foi costurado em maio, durante negociações na Suécia, quando Washington concordou em reduzir temporariamente a tarifa para 30%. Composta por uma taxa-base de 10% e uma penalidade extra de 20% para produtos como o fentanil. Em troca, Pequim recuou em suas próprias tarifas retaliatórias e suspendeu o bloqueio às exportações de terras raras.


Post feito por Donald Trump sobre a suspensão da tarifa (Foto: reprodução/Cheng Xin/Getty Images Embed)


A extensão da trégua já era esperada. Nos dias anteriores, membros dos governos de ambos os países sinalizaram otimismo. Trump, ao ser questionado por jornalistas na Casa Branca, declarou: “As negociações estão indo bem. O relacionamento entre o presidente Xi e eu continua forte”.

Fontes diplomáticas afirmam que a China está disposta a continuar cooperando, mas exige maior previsibilidade nas decisões americanas. Segundo o jornal britânico “The Guardian”, uma ligação entre os dois líderes, ocorrida em junho, teria reforçado o compromisso de buscar um entendimento sem recorrer a novas punições comerciais.

Agricultura americana em foco

Apesar da trégua, pontos sensíveis seguem sem solução. No domingo, Trump usou sua rede Truth Social para pressionar a China a retomar compras de soja dos EUA. Até o fim de julho, segundo a Bloomberg, o governo chinês ainda não havia encomendado nenhuma carga da nova safra americana, o que preocupa produtores e exportadores.

O Ministério das Relações Exteriores da China respondeu em nota: “Esperamos que os Estados Unidos cumpram sua parte no consenso estabelecido e trabalhem de forma construtiva para estabilizar as relações bilaterais”. Com a nova prorrogação, o mundo acompanha com cautela os próximos passos dessa disputa entre as duas maiores economias do planeta.