A Comissão de Segurança Eletrôncia (e-Safety Comissioner), órgão regulador australiano, multou a rede social X, de Elon Musk, em US$386 mil (mais de um milhão de reais) por se recusar a cooperar em uma investigação sobre práticas de abuso infantil. Essa pena deixa mais um marco no seu histórico recente de reclamações sobre a complacência na moderação de conteúdo da plataforma.
Sobre a Multa
“Se você tiver respostas para as perguntas, se você estiver realmente implementando pessoas, processos e tecnologia para combater conteúdo ilegal em grande escala e globalmente, e se essa for sua prioridade declarada, é muito fácil apresentá-las,” afirmou a comissária Julie Inman Grant. “A única razão que vejo para não responder a perguntas importantes sobre conteúdo e conduta ilegal que acontecem nas plataformas seria se você não tivesse essas respostas.”
A multa soma uma derrota reputacional à situação já precária em relação à procura de anunciantes para a plataforma, os quais vem diminuindo os gastos na rede com menor moderação, implicando na queda contínua de receita da empresa comprada por Elon Musk.
Por causa da falta de moderação de conteúdo, a empresa de Elon Musk sofrerá multa milionária. (Foto:Reprodução/kovop/Shutterstock)
Mudanças além do nome
Elon Musk vem introduzindo novidades à plataforma desde que a comprou, em 2022, por 44 bilhões de dólares. Muitas mudanças foram repudiadas tanto pelos seus funcionários, quanto seus usuários. Na segunda semana após a aquisição, o empresário demitiu metade dos funcionários, o que resultou no setor de moderação de conteúdo ficar extremamente prejudicado, quase sem equipe.
Em decorrência disso, múltiplos funcionários e ex-funcionários denunciaram a empresa por não conseguir mais proteger seus usuários de assédio, da desinformação coordenada, e da exploração sexual infantil.
Segundo a pesquisa do Institute for Strategic Dialogue, do Reino Unido, das milhares de novas contas que foram criadas logo após o Elon assumir, apresentavam um maior índice de conteúdo abusivo e/ou misógino em até 70% (conforme detectado por quais contas seguiam, ou o tipo de conteúdo publicado e compartilhado).
Isso sem levar em conta o posterior levantamento da suspensão de várias contas que antes tinham infringido os termos de uso da plataforma, incluindo o ex-presidente Donald Trump e diversos indivíduos que abertamente se proclamam neo-nazistas.
Essa nova política se baseia no que Elon Musk chama de liberdade de expressão, atrelada a uma narrativa que promove o movimento contra a censura de ideias.
Novo logo da plataforma projetado em um prédio. (Foto:Reprodução/Twitter/X)
Liberdade de expressão X Discurso de ódio
Recentemente, a União Europeia (UE) também afirmou estar investigando a X por violação das regras no bloco, uma vez que a plataforma foi acusada de não conter a desinformação em relação ao conflito atual de Hamas e Israel. Esta possui maior possibilidade de resposta, uma vez que a empresa ainda possui escritórios abertos na Europa, diferentemente dos que fecharam na Austrália junto com as demissões em massa.
As investigações são marcos na sequência contínua do debate sobre a moderação de conteúdo – se infringe na liberdade de expressão ou apenas impede os discursos de ódio – onde Elon Musk se encontra mais radical em comparação a outras plataformas como Youtube, Instagram, ou TikTok. Muitos críticos, no entanto, apontaram a hipocrisia do empresário, que suspendeu contas que rastreavam o uso de jatinhos particulares por celebridades, incluindo Elon. Foi justificada a suspensão por causar danos ao empresário e sua integridade, além de o colocar em risco.
Tal justificativa é exatamente o que apontam os defensores da moderação de conteúdo, mas contra a desinformação que poderia colocar em risco alvos políticos, grupos minoritários, ou até mesmo populações inteiras, no caso de Israel e Hamas, ou de notícias sobre Rússia e Ucrânia. Enquanto a situação não mudar, os anunciantes simplesmente não vão querer se associar a tal tipo perigoso de conteúdo.
Foto Destaque: O novo logo da plataforma, em contraste com o antigo. Reprodução/Dado Ruvic/REUTERS