Recentemente, e com crescente frequência, os ‘gigantes da tecnologia’ vem sido processados por centenas de famílias que argumentam que os serviços digitais estão conscientemente expondo crianças e adolescentes para conteúdos de cunho prejudicial, podendo causar a depressão, o vício, e até o suicídio.
As principais empresas alvo dos processos são a Google, a Meta (Facebook e Instagram), o TikTok, e a Snap Inc. (Snapchat). Segundo as várias famílias americanas responsáveis pelas ações judiciais, são plataformas que conscientemente entregam produtos prejudiciais e altamente viciantes para crianças, com o fim de mantê-las nas redes.
“Eu literalmente estava aprisionado pela dependência aos 12 anos,” disse Taylor Little, que hoje tem 21 anos, explicando a movimentação. “E não recuperei minha vida durante toda a adolescência.“
Taylor Little afirma que encontrou conteúdo sensível na internet desde os 11 anos de idade. (Foto:Reprodução/BBC/g1)
Efeitos em adolescentes
Entre os vários autores da ação judicial se encontram desde famílias americanas comuns até inteiros distritos escolares, todos preocupados com o poder desproporcional de influência que o Vale do Silício detém, e que argumentam ser extremamente prejudicial. Taylor, em depoimento, chegou a chamá-los de “monstros“.
“Se tirassem meu celular, era como ter abstinência. Era insuportável. Literalmente, quando digo que era viciante, não quero dizer que se tratava apenas de um hábito. Quero dizer que meu corpo e mente ansiavam por aquilo,” afirmou Taylor Little, que ainda contou experiências que levaram a anos de depressão e tentativas de suicídio, relacionadas à imagem corporal e distúrbios alimentares. “Isso era — e é — como um culto. Você é constantemente bombardeado com fotografias de um corpo que não pode alcançar sem morrer.”
Para além dos Estados Unidos, os advogados do caso também buscam utilizar o caso da adolescente britânica, Molly Russel, que cometeu suicídio aos 14 anos de idade em 2017, após consumir mídias que romantizavam a auto-mutilação. Seu pai, Ian Russel, argumentou que o Instagram “monetizava a miséria“, e desde então argumentou para a moderação do conteúdo das plataformas.
Em vista da gravidade das acusações, uma juíza federal então declarou que as empresas não poderiam utilizar da Primeira Emenda da Constituição dos EUA (liberdade de expressão) para evadir a ação judicial.
Crescente ocorrência de suicídio nos Estados Unidos. (Foto:Reprodução/Nature/CDC)
Respostas das plataformas
Em resposta, as várias fornecedoras de serviços digitais – que com a decisão jurídica perderam parte do chão no tribunal da Califórnia – passaram a reduzir ou negar a própria responsabilidade sobre os efeitos prejudiciais relatados.
“As alegações nessas queixas simplesmente não são verdadeiras,” disse a Google. “Proteger as crianças em todas as plataformas sempre foi fundamental para o nosso trabalho.“
“Queremos tranquilizar cada pai de que temos os interesses deles no trabalho que estamos fazendo para fornecer experiências online seguras e de apoio aos adolescentes,” disse a Meta.
O TikTok se recusou a fazer comentário.
Por fim, o SnapChat disse que sua plataforma foi “projetada para eliminar a pressão de ser perfeito.“
Taylor Little, cujo depoimento reflete o de Molly Russel, também ecoou o mesmo sentimento em vista da resistência das plataformas, afirmando que “ganham dinheiro com a nossa morte,” mas ainda assim afirmou esperança para o futuro, e que vencer a ação judicial possibilitará uma melhor mídia social, com regulações mais rígidas e seguras para os usuários vulneráveis.
Foto Destaque: Desde 2017, os perigos das redes sociais para crianças tem ganhado crescente atenção. Reprodução/Pixabay/Joshua Woroniecki