Apesar de décadas de exploração fora do Sistema Solar, os cientistas só identificaram cerca de 20 sistemas com planetas potencialmente semelhantes à Terra, entre os quase 6 mil exoplanetas conhecidos atualmente. A busca por mundos que possam abrigar vida continua, agora com a ajuda cada vez mais expressiva da inteligência artificial, com o objetivo de encontrar pistas em locais antes pouco considerados.
Estrelas menores podem ser as mais promissoras
A inteligência artificial tem se tornado essencial na busca por exoplanetas que possam abrigar vida. Quando os cientistas falam em mundos “semelhantes à Terra”, querem dizer planetas com massa parecida à da Terra e que orbitam na zona habitável da sua estrela, uma a região onde a água líquida pode existir na superfície. Porém, estar nessa zona não garante habitabilidade, pois o planeta pode não ter água, atmosfera ou sinais de vida.
Segundo pesquisadores, em sistemas com estrelas menores, como as anãs vermelhas e alaranjadas, essa zona habitável fica mais próxima da estrela. Isso facilita a detecção de planetas rochosos nessas regiões, porque eles completam suas órbitas mais rapidamente, tornando a observação com os equipamentos atuais mais prática.
Modelo prevê planetas ainda não identificados
A astrofísica francesa Jeanne Davoult, que trabalha no Centro Aeroespacial Alemão (DLR), aposta na inteligência artificial para tornar o processo mais eficiente. Ela e sua equipe utilizam algoritmos avançados que conseguem identificar padrões complexos em dados astronômicos, facilitando a tarefa de prever quais estrelas têm maior chance de abrigar um planeta rochoso na zona habitável.
Em um artigo recente na revista Astronomy & Astrophysics, Davoult explica que usa a inteligência artificial para evitar buscas sem direção definida, reduzindo o tempo e esforço para encontrar esses mundos. Para isso, sua equipe treinou um modelo de IA com o algoritmo Random Forest, que analisa as características dos sistemas planetários e indica quais têm mais chance de ter planetas parecidos com a Terra.
Estrelas menores e mais duradouras são foco na busca por vida
Estrelas menores que o Sol, como as anãs laranjas do tipo K e as anãs vermelhas do tipo M, têm um tempo de vida muito maior do que o nosso Sol. Essa longevidade é um ponto importante para os cientistas que buscam vida inteligente em outros sistemas, pois uma estrela que brilha por mais tempo oferece mais chances para que a vida evolua ao seu redor.
Para entender melhor como os planetas se formam nesses sistemas, a equipe de Davoult criou modelos computadorizados de três grupos diferentes de sistemas planetários, que variam apenas pelo tamanho da estrela central. Essa variação afeta a quantidade de material disponível para formar planetas, influenciando suas características. Assim, estudar estrelas de diferentes tamanhos é fundamental para identificar onde podem existir planetas parecidos com a Terra.
“É difícil comparar diretamente os sistemas simulados com os reais, porque sabemos que nosso modelo não é perfeito”, afirma Davoult. “Mas, quando analisamos os padrões gerais, vejo essa ferramenta como algo muito poderoso.” O objetivo é criar um banco de dados confiável de planetas semelhantes à Terra para estudar melhor suas características e a possibilidade de vida.