Após quase um ano de preparação, a Microsoft, em parceria com a Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e o Fundo Vale, lançou um sistema de inteligência artificial (PrevisIA) capaz de antecipar áreas que podem ser queimadas ou desmatadas na Amazônia durante a estação de seca, e assim evitar esse processo.
Segundo o pesquisador associado e coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon, Carlos Souza Jr, o que se quer é “uma mudança de paradigma, trocar a lógica: olhar para a frente, prevenir e evitar o desmatamento, e promover uma intervenção preventiva, e não punitiva.”
Com a coleta de vários dados, como os de estradas legais e ilegais em imagens de satélite, topografia, cobertura do solo em territórios municipais, quantidade de vegetação nativa, áreas já queimadas, entre outros, será possível a construção de modelos que possibilitem prever onde uma nova área poderá ser abatida, bem como informar órgãos públicos para realizarem ações de prevenção e de combate. Os alertas gerados pela plataforma também são abertos ao público em um painel de controle da iniciativa.
Painel PrevisIA. Foto: Reprodução/Microsoft
Estradas não oficiais são um dos principais vetores de desmatamento, de acordo com o pesquisador do Imazon. Carlos explica que foi possível mapeá-las por imagem de satélite e observou que elas estavam sempre presentes e apareciam antes do desmatamento.
Ele comenta ainda que “a inteligência artificial pode reconhecer linhas que cortam a floresta”. Usou-se base de dados de estrada para treinar o algoritmo, que consegue detectar essas linhas; assim, é possível automatizar esse processo de mapeamento de estradas, o que antes era feito apenas manualmente.
O próximo passo, a partir da coleta de dados e do monitoramento anual objetivando comparar o avanço das perdas é pensar em estratégias para prevenção e controle, já que 85% das queimadas e 95% do desmatamento acumulado acontecem a uma distância de até cinco quilômetros de todas as estradas.
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O mapa de risco oferecido pela plataforma PrevisIA aponta que 9.635 km2 da floresta amazônica estarão vulneráveis ao desmatamento ou a incêndios em março de 2022, o que representa 29% de toda a Amazônia Legal e abrange municípios, unidades de conservação e terras indígenas, além de comunidades quilombolas e assentamentos rurais.
Com esses dados alarmantes, Carlos faz um apelo: “não podemos depender apenas de governo. precisamos da iniciativa privada, terceiro setor.” Ele ainda revelou que os dados gerados serão cruzados com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), licenciamento ambiental, área de reserva legal, entre outros, para deixar mais claro o que tem sido feito de errado, e por quem, na Amazônia.
(Foto destaque: incêndio na Amazônia. Reprodução/Bruno Kelly/Reuters)