Delegada relata o que sentiu ao prender o anestesista Giovanni Bezerra

Jardes Johnson Pessoa Por Jardes Johnson Pessoa
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Em uma entrevista ao GLOBO, a delegada Barbara Lomba conta que ao ver as imagens de Giovanni Quintella Bezerra estuprando uma paciente que tinha acabado de dar à luz seu terceiro filho, lembrou de sua cesariana feita há 18 anos, sem sedação.

Barbara é filha de um casal de médicos e destaca a importância de uma mulher estar à frente desse caso. “A gente entende em que papel as mulheres são colocadas socialmente, as violências que sofrem. É claro que os homens podem ter também empatia pelas vítimas, mas aquela identificação, só nós.”.

A delegada conta sobre a sua reação ao ver o vídeo e disse que precisou assistir mais de uma vez para entender o que estava acontecendo.

Não conseguia acreditar. É isso que estou vendo? Um médico dentro de um centro cirúrgico, uma paciente sedada, e aquela cena a que assistimos?”, relata. “A minha primeira reação foi um choque total. O comentário era que a gente nunca tinha visto aquilo. Foi, certamente, o pior caso que investigamos, em termos de violência, de imprevisibilidade”.

O caso fez com que Barbara se identificasse com a vítima e se colocasse no lugar dela, pensando em todos os avanços e na violência que a mulher sofre todos os dias.

Entenda o caso

O anestesista Giovanni Bezerra, 31 anos foi preso em flagrante na segunda-feira (11), por estuprar uma grávida durante a cesariana.

O comportamento estranho do médico chamou a atenção das mulheres da equipe do Hospital da Mulher Heloneida Studart, então elas gravaram o anestesista. Segundo ela a quantidade de sedativo e a maneira como se movimentava atrás do lençol eram suspeitos.

No vídeo, a paciente deitada na maca está inconsciente. Enquanto a equipe cirúrgica começa do lado esquerdo do lençol, Giovanni do lado direito, abre o zíper da calça e introduz o pênis na boca da grávida.

Depois que termina, o anestesista pega um lenço de papel e limpa a vítima para não deixar vestígios. A violência dura 10 minutos.

O material serviu de prova para a prisão em flagrante.

Ao receber voz de prisão, Giovanni se mostrou surpreso ao saber da existência de um vídeo.


Anestesista Giovanni Bezerra, preso por estupro de paciente após o parto. (Foto: Reprodução/Reginaldo Pimenta/Agência O Dia/Estadão)


O médico foi denunciado pelo Ministério Público pelo crime de estupro de vulnerável. Ele está suspenso pelo Conselho Regional de Medicina e pode ter o registro cassado e impedido de exercer a função permanentemente.

Ao ser questionada sobre uma possível omissão por parte da obstetra ao não questionar a sedação e não intervir quando o anestesista determinou que o pai saísse, a delegada explica: Não houve omissão deles no estupro, porque não perceberam. Isso não descarta ações ou omissões que possam configurar violência obstétrica, como uma sedação desnecessária, mesmo que não fosse para estuprar. Quebrado um protocolo que se caracterize como violência obstétrica, que nem sempre é crime, há direitos (cíveis) a serem buscados em outra esfera.

Barbara espera que o ocorrido sirva para que os servidores fiquem mais atentos e mais encorajados a não se omitirem e alerta as futuras pacientes: “Elas não têm que ter medo. Não acredito que uma prática dessas possa ser rotina. Mas que tenham essa consciência, essa disposição de exigir os seus direitos”.

Foto destaque: Delegada Barbara Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Merití.(Reprodução/Hermes de Paula/Agência O Globo)

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