A Semana de Moda de Copenhague é amplamente reconhecida por seu compromisso com questões sociais. Na temporada de 2024, realizada de 5 a 9 de agosto, o destaque inovador foi a diversidade etária das modelos, que incluiu não apenas as jovens tradicionais, mas também uma significativa presença de modelos mais velhas.
Em muitos setores da sociedade, pessoas com mais de 60 anos frequentemente enfrentam preconceitos que levam à sua desvalorização e marginalização. Destacá-las em ambientes onde normalmente não são valorizadas é um gesto poderoso e transformador.
Idosos enfrentam subestimação em várias esferas, até mesmo ao tentar ingressar em mercados de trabalho mais comuns, como o corporativo, onde muitas vezes são relegados a segundo plano. Essa dinâmica é bem retratada no filme de 2015, “Um Senhor Estagiário”. Nele, Ben, interpretado por Robert De Niro, é contratado como parte de uma cota em uma empresa. Inicialmente tratado com condescendência, como um “café com leite”, Ben acaba demonstrando sua competência ao longo da trama, ainda que sua abordagem seja diferente dos jovens colegas.
Na moda, o desafio é mais ligado à aparência. Além da idade, é essencial que a inclusão vá além do simples fator numérico e abrace as características que acompanham o envelhecimento. Fios grisalhos, rugas e mudanças corporais são marcas da vida que, quando celebradas nas passarelas, têm o poder de transformar a percepção do público, sendo reconhecidas como verdadeiras expressões de beleza.
Moda e a representação das idades
O ponto crucial do etarismo na moda está ligado às características físicas associadas à idade. Modelos como Naomi Campbell, que mantém uma posição de destaque há décadas, exemplificam essa questão. Aos 54 anos, Campbell continua a exibir uma beleza que se assemelha à de sua juventude, sem aparentar os traços típicos do envelhecimento. Sua presença constante nas passarelas evidencia como a moda muitas vezes valoriza a aparência imutável, reforçando estereótipos etários.
Antes da Semana de Moda de Copenhague, a grife Balenciaga já havia demonstrado um compromisso com a diversidade etária ao incluir a modelo Minttu Vesola, de 54 anos. Diferentemente de Naomi Campbell, Vesola exibe orgulhosamente seus fios grisalhos. Seus desfiles e campanhas têm atraído atenção e até se tornado virais, justamente por serem uma quebra significativa dos padrões convencionais nas passarelas.
No entanto, Minttu Vesola ainda é uma exceção entre as muitas modelos que desfilam para a Balenciaga. É nesse aspecto que a Semana de Moda de Copenhague se destaca como um evento verdadeiramente exclusivo e especial. Nos desfiles dinamarqueses, as mulheres não eram apenas uma entre muitas; elas representavam uma rica diversidade de idades e características. Essa abordagem permitiu que o envelhecimento fosse integrado de maneira coesa na dinâmica da moda, celebrando a singularidade de cada modelo e rompendo com os padrões convencionais, se aproximando de mulheres reais e não só modelos de traços inalcançáveis.
Desfiles que combateram o etarismo na CPHFW
As marcas presentes na CPHFW que destacaram a inclusão de modelos mais velhas em suas passarelas foram: Skall Studio, Mark Kenly Domino Tan, A. Roege Hove, Sinéad O’Dwyer e Henrik Vibskov.
Além de abordar o etarismo, algumas dessas marcas também enfrentaram outras formas de marginalização, abordando a inclusão de modelos com deficiência e promovendo uma passarela mais acessível.
Com um impacto extremamente positivo na questão social do etarismo, a Semana de Moda de Copenhague ofereceu um verdadeiro espetáculo de inclusão e quebra de padrões. O evento destacou uma ampla variedade de tipos de beleza, celebrando a diversidade etária e promovendo uma visão mais abrangente e representativa da moda.