[Crítica] Imersivo e veloz, “F1” traz Brad Pitt como Sonny Hayes
O longa “F1”, estrelado por Brad Pitt e Damson Idris, dirigido por Joseph Kosinski, estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (26), para a alegria dos entusiastas de corridas profissionais. A trama produzida pela Apple Filmes será exibida por 2 horas e 36 minutos e promete trazer uma experiência imersiva e divertida. Assim, a nova aposta […]
O longa “F1”, estrelado por Brad Pitt e Damson Idris, dirigido por Joseph Kosinski, estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (26), para a alegria dos entusiastas de corridas profissionais. A trama produzida pela Apple Filmes será exibida por 2 horas e 36 minutos e promete trazer uma experiência imersiva e divertida. Assim, a nova aposta de Ehren Kruger e Kosinski busca trazer uma reflexão sobre as diferenças e semelhanças entre gerações separadas por três décadas, de modo que ousa ao brincar com um tópico sensível para os admiradores de velocidade.
Entenda o que une Sonny a equipe de Cervantes
A princípio o enredo nos apresenta Sonny Hayes, um veterano na arte de pilotar carros em eventos esportivos, que não mede esforços para sempre chegar em primeiro lugar de forma emocionante e muitas vezes irresponsável. Ignorando qualquer tentativa de se vincular a uma equipe, o protagonista que ganha vida no corpo de Brad Pitt (“Bastardos Inglórios”), é interceptado por um ex-colega de equipe (Javier Barden) que deseja recrutá-ló para seu time que vem fracassando.
No entanto, Sonny recusa se envolver novamente em uma disputa da Fórmula 1 após o fim trágico de sua primeira competição nos anos 90. Todavia, esse receio é deixado para trás quando o piloto se dá conta de que esse novo desafio pode se tornar benéfico para sua autoconfiança e ser uma boa forma de reafirmar seu amor pelas pistas.
Assim, Hayes retorna ao circuito que contribuiu para o detrimento de sua carreira de forma abrupta e inicialmente despojada, com a missão de contribuir com um novato tão arrogante e impulsivo quanto o próprio motorista da velha guarda. Consequentemente, somos apresentados a Joshua Pearce, vivido por Damson Idris (“Zona de Combate”), o típico jovem que vem se consagrando na modalidade e que se sente pressionado a manter uma boa relação com a mídia para não perder o contrato, ou seja, uma clara alusão ao estereótipo da geração Z que vive escrava da cibercultura em função de promover uma boa autoimagem ao ponto que perde o foco —como o amor pela profissão que é sempre relembrada por Pitt.
Direto e perspicaz como Hayes
O texto agradável de Ehren Kruger (“Dumbo”), traz diálogos com uma fácil compreensão para o telespectador que não é um entusiasta do mundo automobilístico. Além disso, as atuações impecáveis do elenco transmitem uma falsa sensação de naturalidade corriqueira, como se o público na sala de cinema estivesse assistindo um reality show que retrata as vivências de uma equipe nada convencional.
Sendo assim, ao passo em que um ritmo rápido com evidentes cortes brutos na edição, liderada por Patrick J. Smith, nos trouxe uma grande alusão a velocidade lembrada e desejada a cada instante na obra. A técnica utilizada para distribuir os takes para se encaixarem de forma veloz, fez com que as transições de tempo soassem mais rápidas, pensadas propositalmente para acompanhar a dinâmica mais apressada da trama.
Dinâmica essa, que trabalhou bem a premissa da típica rivalidade entre gerações, onde a inveja de ambos os lados da moeda ficam nitidamente claras para o admirador. Pois, Peach queria o coração dos fãs e por consequência um contrato vitalício com uma marca grande, e no outro lado lidamos com a frustração de Sonny por não ter aproveitado as oportunidades do seu passado e as tentativas de não transparecer para os colegas o seu desgaste físico e emocional. É gratificante admirar como a inimizade entre os dois guia as rotas da trama para um ponto onde questionamos a empatia de ambos os personagens e percebemos a mensagem do filme que brinca de forma nítida com as semelhanças dos rivais e a atual discussão sobre as gerações e como a nostalgia de uma época pode influenciar no nosso julgamento atual sobre um determinado evento.
Romance suaviza a autoridade da engenheira
Perante um elenco majoritariamente masculino, surgem três personagens femininas que se conectam e trazem uma incógnita para a trama que brinca ao criticar de forma sútil as atuais demandas do público. Em primeira mão, conhecemos Kate (Kerry Condon de “The Walking Dead”) como a representação da primeira mulher a atuar como engenheira em uma equipe de fórmula 1, em seguida a jovem mecânica (Callie Cooke de “Rules of the Game”) que sonha em conquistar seu espaço durante o pit stop e uma mãe negra (Sarah Niles de “Ted Lasso”) que está acompanhando o filho e tem seus breves momentos de válvula de escape cômica.
Mas, a proposta de uma boa liderança feminina onde a personagem deveria impor respeito na equipe e ser o fator chave para uma boa dinâmica em conjunto, caí por terra quando em diversos momentos da jornada as opiniões da engenheira que supostamente produziu o carro, são jogadas no lixo pelo próprio “parceiro amoroso”. Hayes e Peach ignoraram os avisos de Kate em diversos momentos da trama, principalmente durante as corridas. Ademais, quando a personagem é contra uma troca de pneus que poderiam gerar uma grave consequência física no piloto e danos materiais no maquinário, o personagem com comportamentos infantis se coloca como próprio chefe e determina que caso sua demanda não fosse atendida ele simplesmente não iria sair do local e sem escolhas, Kate é forçada a ceder para que o personagem de Pitt continue na rodada e não prejudique ainda mais o grupo.
Além disso, ao decorrer de uma suposta redenção é Sonny quem oferece as principais soluções tentando trazer idéias mirabolantes para novos avanços tecnológicos no veículo enquanto toma partida quando Joshua, falta com o respeito com a trocadora de pneus da equipe de boxes da marca, sendo o herói que surge para defendê-la de modo natural. Ou seja, a personagem até que atuou de modo paciente e persuasivo em momentos do desenrolar, porém, o peso da persona de Kerry Condon se perdeu ao se relacionar com Hayes quebrando sua própria conduta profissional para gerar risadas na platéia e alavancar um romance clichê.
Momentos de tirar o fôlego e se envolver com a corrida
Particularmente é um filme que deveria ser assistido mais uma vez, porém com o intuito de dar breves risadas com a família, se encantar com as corridas muito bem feitas, captar as referências a Ayrton Senna e se perder com o investimento pesado e benéfico na boa escolha da trilha sonora. Além disso, a obra traz momentos de tirar o fôlego como o arco de clímax com uma reviravolta na medida certa que nos leva a determinado momento torcer fervorosamente para a vitória dos personagens —ou que pelo menos eles consigam manter um carro inteiro até o final de uma corrida.
E as atuações leves e convincentes de Javier Bardem (“Duna – 2021”), Tobias Menzies (“Outlander”), Sarah Niles (“Ricos”), Samson Kayo (“Gato de Botas 2: O Último Pedido”), Kim Bodnia (“A Jovem e o Mar”) e Abdul Salis (“Mufasa: O Rei Leão”) devem ser parabenizadas. O elenco foi um dos pontos fortes que trouxeram um toque de carinho e uma leve autenticidade na trama, juntamente ao carisma inigualável de Brad Pitt e a entrega de seu antagonista, Damson Idris.
