A quinta edição do Índice de Transparência da Moda Brasil foi lançada nesta terça-feira (29) pelo Fashion Revolution Brasil. O relatório analisa e cataloga até qual medida as 60 maiores marcas de vestuário operantes no país divulgam publicamente as próprias políticas, indicadores e resultados socioambientais.
A pontuação média foi de 17%, tendo um ponto percetual a menos do que em 2021. C&A (73%), Malwee (68%), Havaianas (57%), Renner (57%) e Youcom (57%) obtiveram as maiores pontuações, mas a maioria das empresas avaliadas ficou na faixa de 0 a 10% ou, como foi o caso de 22 etiquetas (Besni, Brooksfield, Caedu, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Colcci, Di Santinni, Fórum, Havan, Klin, Kyly, Leader, Lojas Avenida, Lojas Pompéia, Marisol, Moleca, Netshoes, Nike, Penalty, Sawary, TNG e Trifil), zeraram a pontuação.
“Apesar da média geral não ter aumentado neste ano, as marcas que estavam incluídas desde o começo (as 20 analisadas na primeira edição do relatório no ano de 2018), mostram claramente uma evolução. Isso evidencia que, uma vez que elas são avaliadas pelo Índice, começam a divulgar mais informações, criar comitês internos e equipes e relatórios anuais de sustentabilidade.”, destaca a coordenadora do projeto no Brasil, Isabella Luglio, em entrevista para a Elle.
Mesmo a indústria da moda sendo uma das maiores geradores de lixo textil, apenas 5% das marcas, que participaram do índice, divulgam evidências de implementação de práticas agrícolas regenerativas em ao menos um tipo de matéria prima. Além disso, de todas as empresas, nenhuma expõe um compromisso mensurável com prazo determinado para o desmatamento zero, mesmo estando em um país com diversos casos de desmatamento.
Nenhuma das marcas divulga publicamente as diferenças salariais dos funcionários, baseada nas raças. 32% apontam publicamente ações com foco na igualdade racial entre funcionários, o que complica a avaliação do avanço de práticas antirracistas na indústria de moda.
Porém, 17% dessas empresas divulgam anualmente a diferença salarial entre gêneros, considerando a distribuição por cargos. 5% compartilham ações focando no incentivo a igualdade entre homens e mulheres nas instalações dos fornecedores. 28% publicam a distribuição de gênero por cargo dentro das instalações da empresa, dificultando o mapeamento das ações necessárias para melhora da equidade entre sexos.
Capa do Índice de Transparência da Moda Brasileira (Foto: Reprodução/Fashion Revolution Brasil)
As marcas são selecionadas baseadas no tamanho, relevância e capilaridade no mercado. Depois, no relatório, são organizadas nas seções: políticas e compromissos, governança, rastreabilidade, conhecer, comunicar e resolver e tópicos em destaque no momento. Essa divisão é feita a partir da análise de informações públicas levando em conta mais de 200 indicadores. Logo, uma empresa pode pontuar em apenas algumas características. Os tópicos cobertos são relacionados às práticas de compra, salário justo para viver, igualdade de gênero e racial, circularidade, clima e biodiversidade, rastreabilidade da cadeia de fornecimento, iniciativas de governança etc. A pontuação zero significa que a marca não expõe publicamente alguma informação sobre os indicadores, já as baixas pontuações simbolizam uma divulgação pequena.
Índice de Transparência da Moda Brasil tem a finalidade de exigir transparência das marcas de moda, que carecem o compartilhamento de dados abertos e confiáveis sobre os próprios impactos sociais e ambientais. Criado pelo Fashion Revolution Global, o projeto chegou no país em 2018, mas é promovido desde 2016. Isabella Luglio disse que o objetivo é que “o Índice não precise mais acontecer, o ideal seria se as marcas já tivessem 100% de transparência”.
O relatório global do Índice de Transparência da Moda, feito em 2016, mostra que os números alcançados pelas etiquetas são baixos. Em 2022, a média geral das 250 marcas e varejistas de moda foi de 24%, tendo aumentado apenas um ponto percentual. Além disso, mesmo com a indústria sendo formada majoritariamente por mulheres e pessoas em situação de vulnerabilidade, 96% das grandes marcas não divulgam o número de trabalhadores da própria cadeia de suprimentos que recebem um salário mínimo. 46% das marcas publicam metas tratando de materiais sustentáveis, mas são apenas 37% que fornecem explicações sobre o que seria esse material. Mesmo com o desperdício têxtil que ocorre globalmente no mundo da moda, 85% das empresas não divulgam os próprios volumes anuais de produção.
Foto destaque: Sustentabilidade na moda é uma das pautas do índice. Reprodução/reCloset