Após uma enxurrada de críticas de ex-jogadoras, atuais atletas, dirigentes e organizações internacionais de direitos humanos, a possibilidade de o governo da Arábia Saudita aderir ao patrocínio da Copa do Mundo Feminina foi descartada na segunda-feira por um funcionário da Federação de Futebol da Austrália (FA), um dos países que sediará a competição.
“A Federação Australiana de Futebol consultou sobre esse assunto as principais partes interessadas, incluindo o governo e parceiros comerciais, e foi um consenso esmagador que essa parceria não se alinha com nossa visão coletiva para o torneio e fica aquém de nossas expectativas”, afirmou o CEO da FA, James Johnson em um comunicado oficial.
“Embora a parceria não tenha sido confirmada pela Fifa, com base nas consultas que tivemos com nossa comunidade, principais partes interessadas e nossa própria posição, adiantamos que não ficaríamos confortáveis com isso. Enquanto esperamos mais esclarecimentos e informações sobre os detalhes da parceria da Fifa, continuamos a transmitir esta mensagem clara em nome das Federações da Austrália e da Nova Zelândia e de nossa comunidade”, diz em outro trecho do comunicado.
Austrália e Nova Zelândia sediarão a primeira Copa Feminina com 32 seleções entre 20 de julho e 20 de agosto. Também será a primeira edição com duas sedes.
Troféu da Copa do Mundo Feminina de 2023-(Foto:Reprodução/ Getty Images)
A notícia de que o torneio poderia ser usado para promover o slogan Visit Arabia, o órgão de promoção do turismo do governo saudita, gerou muitas críticas, inclusive das federações de futebol dos países-sede. A principal crítica está relacionada à repressão sofrida pelas mulheres na Arábia Saudita.
A negociação pelo patrocínio foi revelada por uma reportagem do jornal britânico The Guardian, no final de janeiro, e gerou desconforto no universo do futebol feminino em razão do histórico de violação dos direitos das mulheres dentro do território saudita.
Muitas ex-jogadoras e atuais foram às redes sociais para criticar a ideia. A americana Alex Morgan disse que o patrocínio “moralmente” não faria sentido. A Anistia Internacional Austrália destacou a “ironia” do patrocínio vinculado a uma competição feminina de um país onde, por exemplo, “uma mulher sequer pode trabalhar sem a permissão do seu guardião masculino”.
A Arábia Saudita, país que só teve um time de futebol feminino no ano passado, ainda tem muitas restrições à liberdade das mulheres. As mulheres sauditas não têm liberdade religiosa, sexual ou mesmo de movimento. Recentemente, Mohammad bil Salman, príncipe herdeiro saudita e primeiro-ministro, pressionou por mudanças como a remoção da exigência de que as mulheres tenham permissão do marido para circular livremente em locais públicos.
Foto destaque: Taça da Copa Feminina-Reprodução/Correios